SERGE
Eu nunca planejei muitos encontros, mas estava disposto a fazer algo diferente por ela.
Laura estava deitada na minha cama com o corpo de lado e encolhido como uma bola de pêlo fofa. Ela usava uma das minhas camisas de pijama, parecia se sentir tão confortável que nada poderia acordá-la agora. Não sei exatamente quando foi que tê-la na minha casa se tornou comum, mas sei que o espaço parece completamente vazio quando ela não está aqui.
Minhas camisas são dela, no meu banheiro tem tudo o que ela precisa e nunca precisei me certificar tanto de que uma mulher tivesse tudo o que precisava só para passar uma noite na minha casa. Laura se agarra ao travesseiro e o aperta contra o peito, as pernas se esticam apenas para encolherem outra vez, sua paz faz com que eu me sinta menos preocupado com o que está por vir.
E eu preferia exatamente assim. Eu queria ver essa expressão de paz mais vezes, se pudesse trocaria todos os seus pensamentos tensos por outros melhores. Encarei o relógio em meu pulso, indicando que outro dia havia finalmente chegado e nós estávamos cada vez mais perto do fim dessa etapa. Em poucas horas o avião de Jorge estaria pousando e ele iria para o hotel perto do aeroporto que conseguiu com muito custo.
Aguardava por sua chegada como um lobo à espera da sua presa. Sua sujeira debaixo do tapete sendo um advogado de merda não ficaria mais tão escondida se ele decidisse me provocar. Ele e o maldito do ex-namorado de Laura. Uma parte de mim gostava de ver como humanos imbecis pensam mesmo que tudo poderia ser deletado ou ocultado, mas eu tenho bons contatos e sou um homem inteligente o bastante para saber onde procurar.
Por Laura eu estava disposto a criar um inferno pessoal.
E porra, sei que é errado, mas e daí?
Chutei os chinelos para longe, ocupando o espaço vazio ao seu lado na cama. Foi como se ela soubesse que eu estava de volta, porque logo se virou e se aconchegou em mim. A cabeça repousou em meu peito, a mão se ocupou ao lado do rosto. É aí que começo a pensar que, se realmente somos algo casual, porque ainda nos mantemos em uma encruzilhada tão difícil?
Somos algo casual.
Então por que me abraça como se não quisesse me soltar?
Somos algo casual.
Então por que faz parecer que poderíamos ser mais que isso?
Se somos mesmo algo casual, por que parece que quer tanto quanto eu que isso seja real?
— Sua respiração está tão pesada... — disse, a voz completamente sonolenta. — O que é que te preocupa?
— Nós dois — respondo, embolando os dedos em seu cabelo.
A piloto se ergue um pouco, roçando o nariz em meu pescoço. Sutil, mas que arrepia todo o meu corpo.
— Ainda temos tempo, Serge.
Não o bastante.
Permaneci em silêncio, certo de que assumir mais uma vez meus sentimentos só traria exatamente o contrário do que gostaria de proporcionar para ela hoje. Apertei seu corpo em meus braços e respirei fundo conforme fechava os olhos tendo uma única certeza:
Laura estava se preparando para uma guerra com seu pai, mas eu estava me preparando para uma guerra com a sua ausência e os destroços que nela restariam.
LAURA
Havia algo inexplicável na arte de se sentir atraída por uma pessoa. Algumas vezes isso pode ser confundido com amor, muitas outras apenas desejo. Eu pensava nisso enquanto assistia sentada no sofá da sala, Serge preparar nosso café da manhã na cozinha. A televisão estava ligada e preenchia o som do ambiente antes silencioso, mas isso não era tudo. Edelin estava em uma vídeo chamada comigo, olhando para mim com a tensão que eu sabia que ela sentia.
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Nas Alturas •CONCLUÍDA•
Romance+ 18 | Quais as chances de encontrar a pessoa certa no casamento dos seus melhores amigos? Laura O'brien sempre teve prazer de ficar nas alturas e observar aviões, por isso, contra tudo o que sua família gostaria, se tornou piloto. O amor ficou nas...