Blind • 2Jae (HIATUS)

Capítulo LVII ● Youngjae

— A gente acende o fogo antes ou depois? — Bambam pergunta de algum lugar próximo de mim. Estamos todos do lado de fora, um pouco plenos demais, fingindo que somos participantes daquelas séries de perdidos na floresta que passa no Discovery Channel, como se realmente soubéssemos o que estamos fazendo, mas na minha opinião, a gente na verdade está cavando nossa própria cova.

— Se a pessoa que for acender o fogo for você, de preferência a gente não acende. — Declaro de forma debochada, porque apenas debochando eu consigo sobreviver aos dias que ainda tenho que passar aqui, preso com meu grupo de amigos retardados no meio do nada.

— Na verdade ele deveria acender, ele é o mais familiarizado com o fogo aqui, já que ele não apaga o fogo do cu nunca. — Yugyeom comenta tranquilamente, sua voz soando calma como a de um anjo, logo em seguida escuto um barulho de coisas caindo no chão, provavelmente a lenha que ele foi buscar no mato, e então escuto o barulho de um tapa seguido de um "fica quieto, seu merdinha", e então tudo fica em silêncio.

— Olha, eu acho justo. — Jaebeom fala mansamente, aparecendo de sabe lá Deus onde e sentando ao meu lado na escada em frente a cabana. Todos estavam fazendo alguma coisa para contribuir com a fogueira, seja limpando o terreno para não causar um incêndio florestal ou procurando lenha, todos estavam ajudando em algo, menos eu.

O motivo de eu não estar ajudando? Não é óbvio? É porque eu sou CEGO! Completamente e totalmente cego, não vejo nada, nada mesmo, nada além do escuro. Alguém em sã consciência realmente forçaria uma pessoa cega a fazer esse tipo de trabalho? SOMOS CEGOS! Já é difícil o suficiente viver a vida normalmente, não precisamos de mais dificuldade.

Ok! Na verdade eu só estou usando a carteirada de cego novamente. Eu poderia muito bem ajudar, sou completamente apto pra isso, acho que talvez até melhor do que esses caras aqui, já que eu realmente presto atenção no que estou fazendo e não apenas faço de qualquer jeito, mas eu tenho um lema na vida, e ele é bem simples e direto; "Se você pode ficar sem fazer nada, então fique.", então se eu tiver oportunidade de ficar de boa sentado vivendo minha vida sem fazer nada, eu vou ficar.

— Vou fingir que nenhum de vocês existe, mas é só porque estamos fodidos o suficiente e não precisamos de mais uma briga no momento. — Bambam resmunga, soando bastante irritado. Até fico surpreso com o fato de ele não estar por ai jogando lenha na cabeça de todo mundo ou assustando campistas inocentes que vem do acampamento para pescar no lago, mas acho que é culpa da situação em que estamos, realmente, ela já é ruim o suficiente.

— Bambam recusou uma briga, parece que o acampamento realmenten está ajudando em algo, estamos até mesmo evoluindo. — Jinyoung fala, tendo como resposta apenas uma bufada que bambam solta, provavelmente com raiva demais de tudo, até mesmo pra falar e se defender.

— Eu preferia ficar sem evolução e continuar vivendo como um idiota da cidade, porque acampar é uma merda. — Meu querido melhor amigo afirma, se jogando no chão ao meu lado, meio vivo e meio morto, porque acho que ele cansou da vida de lenhador.

— Deveríamos ter continuado como homens das cavernas, pelo menos eles sabiam fazer fogo. — Mark comenta, suspirando alto de algum lugar perto de onde a fogueira vai ser feita, se é que ela vai mesmo ser feita.

— Você e o Jackson estão aqui a mais tempo que nós, como vocês nunca aprenderam a fazer uma fogueira? — Bambam pergunta, e mesmo que seja de uma forma inocente, ainda dá pra sentir um pouquinho de veneno no tom da voz dele, porque meu amigo é uma cobra, ele sempre ataca.

— Nunca precisamos fazer uma, sempre tem pessoas no acampamento que fazem isso, nosso trabalho é apenas cuidar do nosso grupo de campistas e impedir que eles morram ou matem alguém. — Jackson explica tranquilamente, de todos, acho que ele é o mais calmo por aqui. Ele disse algo sobre Lost ser uma das séries preferidas dele e que ele estava se sentindo como um dos personagens, mas na verdade eu não entendi nada do que ele falou.

— Vocês fizeram um péssimo trabalho como monitores. — Bambam observa e alguns minutos depois eu escuto o barulho de alguma coisa batendo em madeira, acho que ele está batendo em uma arvore com o cabo da vassoura que ele usou pra varrer as folhas secas pra longe, pelo menos é isso o que o som parece.

— Na verdade não. Vocês ainda estão vivos e não mataram ninguém até agora, então nosso trabalho está feito. — Mark suspira, como se isso realmente fosse verdade, mas cá entre nós, a verdade é que só não morremos ainda porque temos sorte e só não matamos ninguém ainda porque a oportunidade perfeita não veio.

— Não foram por falta de tentativas. — Eu comento, porque alguém tinha que comentar, e escuto Jaebeom rir ao meu lado, o que automaticamente me faz sorrir, porque eu sou cadelinho dele, vamos fazer o que? Ele fala um "a" e eu já fico todo boiola.

— Tenho certeza que uma hora eles conseguem. — Jaebeom comenta, não para os outros, mas apenas para mim, e eu sorrio mais ainda antes de olhar em direção a ele, que estava tranquilamente sentado ao meu lado.

— Contanto que os mortos não sejamos você e eu, então eu não ligo. — Dou de ombros, sendo o mais sincero que consigo, e sinto ele passar os braços ao redor dos meus ombros, me puxando pra perto. E esse lugar... Esse lugar aqui dentro dos braços dele, é o melhor lugar do mundo. É protegido e quentinho, e eu me sinto amado de uma forma que nunca senti antes. É o lugar certo, é o meu lugar. Antes eu não sabia que precisava encontrar esse lugar, até que enfim, eu o encontrei, agora não pretendo sair de perto dele nunca mais.

— Eu nunca vou deixar que nada aconteça com você. — Ele afirma e logo depois sinto um beijo ser depositado no topo da minha cabeça, o que me faz sorrir mais ainda e me encolher mais dentro daquele abraço, ignorando qualquer coisa fora da nossa bolha, porque aqui e agora, nesse momento, não estamos mais presos no meio do mato com um bando de loucos prestes a causar um incêndio florestal, aqui e agora,  estamos apenas eu e ele e nosso mundo, e nada mais importa nesse lugar alem de nós dois.

— Eu nunca vou deixar que nada aconteça com você também.