Prólogo

897 47 5
                                    

A agitação graças à vitória da Irlanda era grande, mas nada se comparava com a enorme correria graças ao ataque de homens encapuzados no acampamento onde famílias de bruxos do mundo todo estavam hospedadas para a final do Mundial de Quadribol. Belle estava apavorada enfurnada na floresta úmida, sentada em uma grande raiz de uma árvore alta enquanto reprimia a enorme vontade de chorar.

Ouvia sons de pessoas correndo por entre a escuridão, não sabendo se eram de amigos ou inimigos. Não fazia ideia de onde estavam seus pais e temia que, caso procurasse por eles, adentraria muito no coração da floresta. Girava freneticamente o anel de seu dedo médio tentando manter a calma, descarregando sua ansiedade. Os gritos de desespero e choro lhe angustiavam demais.

Estava há pelo menos 10 minutos sentada naquela raiz quando avistou olhos escuros na penumbra, fixos nos seus. Reconheceu o rosto sardento do dono dos olhos escuros e, mesmo que a única proximidade dos dois fosse trocar farpas durante algumas aulas que tinham juntos, ali, no meio daquele desespero, era alguém conhecido a quem poderia recorrer.

Levantou-se então para ir em direção ao ruivo, porém se interrompeu ao ouvir ser chamada.

— Belle!

Maman! — Virou-se depressa buscando através da escuridão pela voz que lhe chamava por entre as árvores.

— Belle! — A voz retornou a lhe chamar e então a jovem disparou por entres as grandes árvores atrás da voz de sua mãe.

Sentia pequenos galhos arranhando seu rosto, além de raízes salientes que atrapalhavam seu caminho, mas nem assim diminuiu sua correria. Quando chegou em uma espécie de clareira pôde avistar a mulher de meia idade com cabelos escuros passando os olhos desesperadamente pelos arredores em busca da filha.

Maman — Belle correu até a mulher que se virou em espanto em direção da filha. Jogou-se nos braços de sua mãe e conseguiu sorrir aliviada.

— Fiquei tão preocupada com você, ma fille — disse sua mãe com a voz embargada e seu sotaque arrastado. Separou-se de sua filha para que pudesse lhe avaliar, passando os olhos negros pela garota enquanto segurava seus braços. — Olhe só para você.

— Eu estou bem, maman, não se preocupe — afirmou Belle dando um sorriso forçado.

Estava horrível, na verdade. Seu rosto tinha diversos arranhões, além de sua camisola de cetim que um dia fora azul celeste estar da cintura para baixo toda manchada de terra e musgo. Seus pés descalços estavam cobertos de lama além de poder sentir alguns cortes nos mesmos e seu cabelo estava parte bagunçado por sua correria, parte grudado em seu pescoço por conta do suor.

— Onde está papa? — A pergunta de Belle foi acompanhada de seus olhos azuis vagando pelo local.

— Foi procurar por você — respondeu Delphine, sua mãe. Antes que Belle pudesse fazer mais perguntas um clarão rompeu o céu, clareando a copa das árvores. Da clareira onde se encontravam puderam ver uma caveira com uma serpente se formando no céu. — Precisamos sair daqui, fille — informou sua mãe enquanto segurava sua mão e seguia andando em direção às árvores.

Andaram por alguns minutos até finalmente conseguirem avistar o final da floresta. Se não tivesse tão preocupada por seu pai estar sumido, Belle com certeza conseguiria se sentir aliviada. Ela e sua mãe então romperam o espaço e saíram. Um local cheio de destruição e caos. O antigo acampamento estava uma enorme bagunça ocasionada pelos terroristas que vieram destruir a comemoração da final da copa. Apesar de tudo, a situação parecia controlada, mesmo com o pânico da nova marca que surgira aos céus.

— Vocês estão bem?— Um bruxo perguntou quando as duas surgiram na área descampada.

Oui — confirmou Delphine enquanto conduzia sua filha pelo local. Pararam onde havia uma pedra. — Sente-se, Belle. Você está tremendo.

Só então a garota percebeu que suas mãos tremiam de nervosismo. Provavelmente ela estava entrando em choque pela situação de ser acordada com gritos de terror depois de todo o estresse. Fez o que mãe orientou e se sentou, ficando imóvel e entrelaçando as mãos para que elas parecem de tremer.

— Delphine! Belle! — A voz de seu pai soou distante apesar dele estar se aproximando com velocidade. Os ouvidos da garota pareciam estar sofrendo com uma pressão atmosférica inexistente. Ok, ela definitivamente estava em pânico.

— Ben! — Pelo canto de olho pôde avistar a mãe se jogar nos braços de seu pai. Após alguns instantes seu pai apareceu em seu campo de visão, agachado-se de frente para ela. Ergueu os olhos azuis para fitar seus iguais.

— Tudo bem, querida? — Seu pai perguntou segurando suas mãos. Belle assentiu e tentou forçar um sorriso que pareceu convincente para Benjamin.

— O que está acontecendo, Ben? — O sotaque arrastado de sua mãe inqueriu o homem que se levantou, deixando a filha na mesma posição de antes, os olhos fixos em lugar nenhum.

— Não precisa se preocupar, nada acontecerá conosco — apesar da audição prejudicada Belle conseguiu identificar o pai fugindo da pergunta de sua mãe. Se não estivesse tão atordoada com certeza teria rido da situação.

— Você tem alguma coisa a ver com isso, Benjamin?

— Claro que não — a resposta veio rápida e ríspida, porém o tom se tornou quase um sussurro quando continuou. — Sabe que não estou envolvido com comensais.

— Mas é favorável a eles — acusou Delphine com irritação, apesar do tom baixo. — Olha o estado que se encontra nossa fille!

Novamente seu pai se agachou na sua frente, bloqueando a visão do caos agora contido que estava em sua volta. O rosto preocupado com poucas rugas aparentes tomou sua visão. Os olhos azuis estavam cheios de culpa e os fios loiros longos de seu pai grudavam em sua tez suada.

— Tem certeza que está bem, Belle? — Perguntou mais uma vez seu pai.

— Sim, papa — ela conseguiu responder com rouquidão. Sentiu seu pai lhe envolver em um abraço, mas não conseguiu retribuir. Seus olhos vagos ainda encaravam o cenário.

Então avistou um bando de ruivos surgir na área descampada. Mesmo catatônica conseguiu fazer seus olhos funcionarem e vagou pelos rostos que conhecia há algum tempo. Avistou então novamente os olhos castanhos que antes eram seu único alívio no pânico que se encontrava. O olhar durou poucos segundos antes do ruivo os desviar e seguir com sua família.

LovelyOnde histórias criam vida. Descubra agora