12. Sobreviva

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Meu pai não usava coroas e agradava o povo da mesma forma, não por algo em cima de sua cabeça, mas pelas boas atitudes, os gestos em defesa do povo no palácio, a gentileza com os convidados, a dedicação com aqueles papéis no escritório e tantos outros detalhes. Pela vista do rei, porém, eu era somente uma peça jogada na mesa antes da hora.

A rainha poderia comparecer se não prezassem por sua segurança, por isso o povo compareceu por ela, o que foi até melhor do que ficar sentado em um trono de príncipe, cercado de ouro e agradecendo aplausos interesseiros.

— Poderia ter sorrido um pouco mais — o Rei Hadrian falou dentro da carruagem.

— Não havia necessidade para mim — parei e olhei pela janela as pessoas e fadas que passavam na rua — e... Talvez você seja o único que não perdeu alguém especial naquela noite.

O sangue subiu para sua cabeça, explodiria de raiva se as paredes da carruagem não fossem tão finas.

— Olhe para mim! — ele puxou-me pela manga e me colocou na sua frente, apontando seu dedo para mim — Não ouse dizer algo desse nível. Da mesma forma que coloquei a coroa em sua cabeça posso arrancá-la, pois sou seu rei. O meu dever é com o povo e, agora, será seu dever também. Se eu disser que você deve sorrir, você sorrirá, vivo ou morto — o rosto dele era fechado e a cicatriz o deixava mais aterrorizante. — Entendeu?

— Entendido — a face dele se esfriou —, meu rei — sussurrei, deixando-o com vontade de me expulsar da frente dele.

— Sua mãe foi mais afrontosa, não me surpreenderá — ele disse olhando para a janela, fazendo um ar de mistério.

— Se ela fez algo afrontoso para você, saiba que estou ao lado dela — olhei-o firmemente.

— Eu quis transformá-la em princesa, iria concedê-la um importante título para que se tornasse rainha, após minha morte, ao lado de Malkiur — ele parou e sorriu. — E ela fez o que ninguém faria, ainda me lembro das palavras, disse que nunca pertenceria a realeza.

Fiquei sem palavras, então ele continuou:

— E ela não pertenceu. Apesar de todos chamarem-na de princesa Celina, nunca concedi o título. Quando ela morreu, Malkiur não quis o próprio título, apesar de possuí-lo e, como não posso retirá-lo, ele fez todos desacostumarem a chamá-lo de príncipe. Então, Max — ele respirou fundo —, se quiser fazer algum escândalo com sua coroinha, faça. É de família.

Depois de consumir aquilo tudo, me restou apenas uma dúvida:

— Ela queria que eu fosse príncipe?

— Antes de morrer, ela olhou nos seus olhos e disse: conquiste Ellarion olhinhos cinzas.

Uma rachadura partiu meu coração, meus órgãos ficaram vazios, minha mente silenciosa. As mesmas palavras ditas por meu pai na última vez que o vi, a mesma frase, o mesmo pedido, o meu dever. Mas como ele sabia que aquela era sua hora? Como nunca havia me contado sobre aquela frase? Como meu tio sabia sobre ela? E o mais importante: como eu poderia conquistar Ellarion?

Chegamos no castelo pouco tempo depois de muito silêncio. Caminhei passando por toda tristeza do palácio até meu quarto e retirei aquela coroa da minha cabeça, agora, com um local especial em uma estante pequena, para outras que viriam. Coloquei-a bem no centro, em minha frente e a observei. "Conquiste Ellarion", "quanto posso ser se não sei quem sou?" e tantas perguntas, lembranças e frases vinham na minha mente. Apenas ignorei tudo e fui para outro banho, no qual ninguém precisou me ajudar colocando água e essências leves e tristes. Estava somente relaxando, deixando a água levar um pouco da minha tristeza. Meu primeiro banho como príncipe oficial não era tão diferente, apenas mais cansativo.

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