PRÓLOGO

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11 de Abril de 1971

Riverson, Condado de Cumbria, Inglaterra.

Os últimos dias da primavera eram extremamente agradáveis, com grande possibilidade de calor e um céu azul divino no campo, puramente azul e com poucas nuvens brancas fofinhas viajando pelo céu. Os recém-nascidos filhotes de andorinha, instalados na árvore próxima à janela de seu quarto no início da estação, piavam loucamente e funcionando com um despertador para Kate. O cheiro de pão recém assado parecia percorrer toda a casa e visto que a menina sentira o cheiro ainda na cama, ela logo se levantou, desamassando o pijama lilás enquanto andava.

Ouviu algumas vozes no andar debaixo e se apressou. Quando os seus pés fizeram barulho nos degraus de madeira da casa, a conversa cessou após alguns "shh" nem um pouco discretos. Ela sorriu para si mesma e sentiu uma ansiedade gostosa no peito. Alguns passos depois, gritos de "Surpresa" e "Feliz Aniversário!" irromperam na sala de jantar e, apesar do susto leve, Katherine Jane Waters gargalhou correndo em direção à mãe que lhe presenteou com o primeiro abraço da mais nova menina de onze anos da Inglaterra. Seu pai e seus avós foram os próximos a distribuírem beijinhos e abraços, até Lee, o terrier do avô, lhe deu seus cumprimentos antes de tomarem café todos juntos, como uma família feliz.

Os aniversários eram incríveis em Riverson, a fazenda onde viviam, pois eram datas especiais que seus pais faziam questão de celebrar. Thomas e Aurelia tinha agendas apertadas, ambos trabalhavam para seus devidos Ministérios- ele, para os trouxas e ela para os bruxos- mas todo ano, há onze anos, reservavam o dia onze de abril para sua garotinha e naquele ano, especialmente, era importantíssimo que estivessem lá. Thomas, sentado ao lado da filha, observou que ela não parava de movimentar as pernas sob a mesa, para frente e para trás. Ela demonstrava ansiedade, porém evitava a pergunta enquanto a sua avó, mãe de Tom, falava sobre o que havia programado para o dia e dava a entender que começaria a recolher a mesa de café.

-Logo, logo, Adrian virá aqui, querida. -Emma disse se dirigindo a neta, que sorriu com a menção do amigo- Tomei a liberdade de convidá-lo para o piquenique. Então, depois que se arrumar venha para a cozinha para ajudar a preparar as cestas, sim?

Aurélia concordou com a sogra, olhando em direção a filha.

-E ao fim da tarde, eu você e seu pai vamos até a cidade, ver aquele filme trouxa no cinema que nós te prometemos.

-Tem certeza que você não pode ficar, mamãe?

A feição da mulher se alterou e ela sorriu de canto, sem graça, afetada pelo desapontamento da filha. Ela também não estava feliz em se ausentar, se sentia distante o bastante da sua menina, que parecia crescer mais rápido do que ela poderia acompanhar.

-Tenho que resolver umas coisas no Ministério hoje, Kate, logo depois do almoço, posto que não poderei acompanhar vocês no piquenique. Estarei de volta ao fim da tarde, querida.

A menina assentiu, mas logo sua chateação foi deixada parcialmente de lado pelo presente de aniversário do pai que lhe foi entregue. Rudolf, o avô, assistia a conversa com uma expressão tranquila logo após ter folheado a edição matinal do profeta diário Daquele Dia. Thomas, apesar de suas limitações, compreendia a filha muito bem.

Veja bem, Thomas fora adotado por ele quando ainda era um bebê. Emma havia sido abandonada pelo pai biológico de Tommy, que era trouxa, logo após ela contar que era bruxa. Rudd a conhecera em Nova York, em uma viagem a negócios, quando a mulher ainda trabalhava no centro de comércio bruxo da cidade, sozinha no mundo e nascida trouxa, ela precisava de meios para sustentar seu bebê. Foi amor à primeira vista, ele gostava de dizer e faria tudo por ela. Rudolf, que não podia ter filhos, quase explodiu de felicidade ao conhecer o bebê Tommy. Emma temia que ele a deixasse ao descobrir que ela era mãe do filho de outro homem, no entanto se surpreendeu. E eles se amavam, se mudaram para a Inglaterra e tudo estava bem. No entanto, Thomas foi crescendo e nunca apresentou qualquer vestígio de magia. O garoto sabia que Rudd não era seu pai biológico, mas ele era, de fato, seu pai e crescendo em uma casa mágica, a decepção foi gigantesca ao descobrir que não tinha poderes, que era, na verdade, trouxa. Comum.

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