luz do sol

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Oi oi oi! Essa one-shot traz conteúdos sensíveis sobre depressão, transtorno de estresse pós-traumático e pensamentos suicidas. Por favor, não leia se não estiver bem. Procure ajuda profissional, ligue 188. 

Escrevi esse conto curtinho pra um desafio que estou fazendo com uns amigos, o prompt era "luz do sol". Estou postando porque faz um tempo que não posto aqui. Espero que gostem e lembrem-se: Sejam gentis consigo mesmos <3



A súbita claridade o fez gemer. Harry puxou as cobertas pesadas por cima da cabeça e afundou o rosto no travesseiro.

-Bom dia! – Ele ouviu a voz severa de Hermione. Ele não sabia que era dia, mas com certeza não seria bom. Harry não via a luz do sol há quatro meses.

O quarto fedia. Hermione devia estar contorcendo o nariz. Ele a conhecia o suficiente para imaginar suas reações sem precisar vê-la. Foi por isso que ele fez o possível para responder suas cartas e afirmar que não havia necessidade de uma visita, ele precisava ficar sozinho. Não era mentira e ela estava viajando com os pais então não foi difícil. Mas nas últimas semanas Harry tinha piorado. Tudo tinha piorado.

-Ron disse que conversou com você no floo há algumas semanas.

Conversar é uma palavra muito forte. Eles não trocaram mais do que algumas palavras, o suficiente para Harry entender que os Weasleys estavam sofrendo o luto pela morte de Fred com muita intensidade. Harry também estava. Harry estava sofrendo o luto das 73 mortes da guerra, que ele sabia que tinham acontecido. Ele tinha certeza que houve mais que isso.

Harry sabia todos os 73 nomes. Ele sabia suas idades, suas profissões, aspirações, ele sabia quem restava em suas famílias, apesar de não ter falado com nenhuma. O que ele diria? "Sinto muito que seu filho morreu pela minha causa.", "sinto muito que eu sobrevivi para ver um novo dia enquanto sua irmã nunca pôde realizar seus sonhos."

Harry achava que era extremamente injusto que ele tivesse sobrevivido. Como ele poderia acordar todo dia, abrir as cortinas, arrumar um emprego, viajar para fora do país, se deliciar com tortas e ganhar presentes de natal quando 73 pessoas abriram mão disso tudo pela causa dele?

-Harry. – Hermione disse, a voz mais suave, mais baixa. Ele sentiu a cama afundar-se quando ela se sentou ao seu lado – Harry, nada disso é sua culpa.

Certo, então como ele não conseguia parar de se sentir culpado? Se ele refizesse os passos, traçasse uma linha de acontecimentos, ele concluiria que não devia ter nascido sequer. Então talvez sua mãe e seu pai estariam vivos. Harry se sentia imundo. Seus pais morreram por ele. Outras 73 pessoas morreram por ele. E não era sua culpa?!

-Harry - Hermione passou os dedos por seu cabelo embaraçado -, eu trouxe torradas.

Ele não achava justo que ele pudesse comer enquanto tantas famílias choravam o luto de seus amados, desejando que eles pudessem fazer mais uma refeição juntos. Harry não achava justo que ele estivesse vivo. Harry gostaria de não estar.

Mas seu estomago roncou. Ele retirou as cobertas do rosto de vagar e deixou seus olhos acostumarem com a luz que entrava pelas cortinas que há 4 meses não abria. Hermione sorriu pra ele e indicou o prato que deixara em sua mesa de cabeceira.

Harry olhou pela janela, ele podia ver árvores a distância e o sol refletindo na janela das outras casas e ele pensou nas famílias que estariam vivas lá dentro. Então, ele comeu uma torrada. 

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