Prólogo: O Homem Quebrado

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O HOMEM QUE DESPERTOU EM MEIO A UMA TEMPESTADE UIVANTE de gelo e vento já não era mais o mesmo que antes ali se deitara

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O HOMEM QUE DESPERTOU EM MEIO A UMA TEMPESTADE UIVANTE de gelo e vento já não era mais o mesmo que antes ali se deitara. Não era nem mesmo o homem que fora até algumas semanas ou horas atrás.

Era alguém completamente diferente.

Muito embora não se atrevesse a dizer que renasceu a partir da jornada que concluíra. Não era tão prepotente. Tampouco era tolo, contudo, de negar que a experiência o havia tocado de um modo a mudá-lo, a transformá-lo em algo que ainda não sabia definir. O processo de mudança era inegável, sentia-o no âmago, nos ossos do corpo, no coração que nos últimos anos fora toldado pelas sombras da solidão.

Uchiha Sasuke ergueu-se do chão coberto por flocos de neve, empertigando-se devagar enquanto fragmentos de gelo eram varridos à sua volta por rajadas bruscas de vento. Deu por falta do braço esquerdo no mesmo momento, ignorando a estranheza de não poder contar com o membro e empurrando-a para o fundo de sua mente. Preocupar-se-ia com a questão quando lhe fosse mais oportuno.

Com certa frieza, observou o entorno que o cercava: a vastidão do céu invernal — negro e tempestuoso — sobre a sua cabeça; um contraste contundente com a brancura do cume achatado das Montanhas Três Lobos. Sim, reconhecia-as mesmo depois de tantos anos. Formações rochosas gigantescas cobertas de gelo e com o formato da mandíbula escancarada de um lobo.

Então, o Chikage o havia trazido até o país do Ferro mais uma vez...

...onde encontrara o seu destino final, ou assim Sasuke julgou a partir da visão dos corpos de shinobis de Chigakure estendidos sobre a neve, o corpo do próprio Chikage jazendo inerte e ensanguentado dentre eles.

Ele exalou no ar frio e desviou o olhar da cena só para deparar-se com a visão de Sakura, estagnada a alguns poucos metros, de pé sobre a neve. Dela, seus olhos não se esconderam ou fugiram. Olhou-a, memorizando cada detalhe, bebendo-a como um homem sedento, do cabelo cor-de-rosa açoitado pelo vento aos olhos verdes vívidos e ardentes, queimando em determinação — ou talvez em fúria. Flocos de neve haviam se prendido às longas mechas assim como aos cílios negros espessos, derretendo sobre a sua pele, mas ela não tremia pelo frio ainda que estivesse desprotegida contra o mau tempo; o vestido vermelho justo estava manchado de sujeira e de sangue, embora não se visse um único arranhão ou escoriação maculando a pele clara.

Quando a havia visto pela última vez?, perguntou-se, esforçando-se para se recordar, mas a resposta não lhe veio à mente. Não que fizesse diferença, concluiu. Naquele mundo, Sasuke se assegurara de que ele e Sakura jamais ultrapassariam um limite que ele próprio impôs aos dois. Tornou-os inimigos no momento em que lhe deu as costas, assassinou o melhor amigo de ambos e a mestra dela, e enveredando-se por um caminho sem volta.

Sasuke acreditou fervorosamente nisso nos últimos quinze anos, recusando-se a se agarrar a qualquer mísera possibilidade ou esperança de reverter o que fora feito pelas suas próprias mãos. Não poderia voltar atrás mesmo se o seu arrependimento e a sua dor o dominassem e o impulsionassem a lhe pedir perdão por todos os seus erros.

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