Sobe e desce.

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Oi, me chamo Antoniete, sei que não soa tão bonito quanto o original Antoinette em francês, mas gosto de meu nome, meu pai tirou de um jornal velho e sujo de sangue de peixe que um dia trouxe para casa. Me formei a um ano e estou na luta por um emprego fixo, enquanto não encontro estou dando aula de reforço.

Moro com minha Irmã e suas lindas, bagunceiras e inteligentes filhas. Elas são gêmeas e amam fazer roupinhas de boneca.
_Tia Toni!! Essa calcinha é sua?

_ Ai meu Deus minha calcinha de renda.

_ A Nathany cortou para fazer o vestido de noiva da barbie. Disse Felícia me entregando a calcinha em tiras. _Era a única calcinha branca que eu tinha, estava guardando para quando me casar. Falei quase chorando e imaginando que a barbie já estava casando e eu nada, além disso minha calcinha deu para fazer um vestido? Preciso emagrecer.

Nathany e Felícia faziam o apartamento ficar menor do que realmente era, Felícia era mais falante e gostava de fazer as coisas certinhas, Nathany era mais engraçada e mais bagunceira.

_Dália, estou pensando em alugar meu próprio apartamento. Falei à minha irmã mais velha. Nosso irmão me convidou para morar com ele, mas quero me sentir responsável agora, sabe.

_O que as meninas fizeram dessa vez? Perguntou ela pois, já conhecia as travessuras das filhas.

_ Cortaram minha calcinha de renda, mas não é por isso que quero morar sozinha, quero me sentir independente, responsável, livre. Você entende. falei.

_Entendo sim, Toni se eu não tivesse me casado e tido as duas meninas queria estar morando sozinha, farreando, ficando com um e com outro, bebendo todas, e daí se eu vomitasse na sala, a sala é minha. disse ela com olhar sonhador.

_Eca! não é bem isso que tenho em mente, mas acho que você realmente entende mana. falei.

Me mudei um mês depois para meu próprio apartamento com apenas três calcinhas na mala.
Meu apartamento é pequeno e aconchegante, afinal não tenho muito tempo para limpá-lo, nos fins de semana a maioria das vezes vou ver meus pais em Cactus minha pequena cidade natal e na semana praticamente moro nos elevadores.

***

Consegui depois de um anúncio no jornal e panfletagem em alguns lugares, quatro crianças no mesmo prédio para dar aula de reforço. Esses dias consegui mais três no prédio ao lado, dá para ir a pé, que bom, porque com minhas coxas juntas como são não dá para caminhar muito tempo, sem uma roupa apropriada, odeio ficar assada.

Com esse trabalho autônomo, consigo um bom dinheiro e boas histórias, isso porque dou aula para as crianças de família ricas da capital, tudo porque coloquei um preço alto para as aulas e me visto de maneira elegante, adoro comprar em brechó.

O custo foi conseguir o primeiro aluno, depois o boca a boca e minha cara fofinha e simpática me ajudou. Agora é só colocar o meu rico currículo em prática e colher os frutos.

Já fiz algumas amizades no elevador vou apresentar algumas:
Essa que vai entrar agora é a Dona Marta, ela sempre sobe comigo quando vem da padaria. Trabalha no terceiro andar para a mesma família há muito tempo. Não os conheço pessoalmente, mas ela sempre me fala como se eu os conhecesse e como se eles fossem da família dela e em um tom como se falasse para uma multidão.
_ O júnior bem que podia se interessar mais pelos filhos, ele só pensa em trabalho, você acredita que a Clarinha chora quase toda noite porque ele não chega cedo?! Esses pais de hoje em dia. Dizia ela. Eu apenas confirmava ou me admirava de algo.

A outra com o carrinho de bebê é a Andressa ela é do interior como eu, é babá do Miguel, que é irmão do Artur meu aluno das Nove, são do sétimo andar. Ela desce para o terraço com Miguel todas as manhãs, para dar-lhe banho de sol e fica no celular, as vezes esquece o garotinho no sol, outro dia ele voltou bronzeadinho.
_ Olá Antoniete, Dona Marta, bom dia!
_Bom dia Andressa!
_Antoniete você viajou para interior nesse fim de semana?
_ Não, vou nesse próximo. Respondi. E você? Perguntei. Depois de alguns segundos deslizando o dedo na tela, ela respondeu.
_Também vou, é minha folga graças a Deus. Respondeu ela sorrindo. Ela, assim como tantas outras passavam quinze dias no emprego e quando iam para casa depois desse tempo era uma alegria só, paravam na primeira churrascaria da cidade e até o vento forte no rosto era motivo de risada.
As duas descem em seus respectivos andares e eu continuo para o nono andar, onde darei minha primeira aula,

_Senhor Ícaro,Bom dia!

_ Bom dia, professora, tem café hoje?

_Tem sim, mais tarde.

Senhor Ícaro é um senhor que sempre o encontro no nono andar a espera do elevador, de tanto cumprimentar-nos rapidamente nessa passagem, ficamos amigos de café, pois ele sempre está na padaria, no final da tarde, onde as vezes passo alguns minutos antes de ir para casa, saboreando croissant. Que são os melhores que já comi. Ainda bem que ele não é enxerido, detesto velho que de tão enxerido é torto para frente.

...Gostaria de ter permanecido em minha cidade e dar aulas na escola onde estudei, mas é tão concorrido e a escola tão pequena que não havia mais vaga para mim, os professores que ensinam lá são mais velhos do que a própria escola, sei que são muito bons, foram meus professores também. Quem sabe um dia?

...Quem sabe um dia também eu consiga um emprego em alguma escola aqui, ou consiga emagrecer sem engordar uma semana depois, quem sabe eu fique rica, quem sabe eu encontre um cara bonito, rico e solteiro.
_Quem sabe você para de pensar besteira Antoniete e aperte a Campanhia de uma vez.

Um aMor Fora Do padRãoOnde histórias criam vida. Descubra agora