Capítulo LVIII ● Youngjae

194 36 4
                                    

— VAMOS ASSAR MARSHMALLOWS! — Yugyeom grita e eu escuto ele dar um pulo do lugar onde estava sentado no pequeno círculo que fizemos ao redor da fogueira recém acendida na força do nosso suor, sangue e lágrimas. Ele parece animado, não lembra nem de longe o menino de mais cedo que estava chorando todas as lágrimas do corpo porque não tinha energia pra ligar o secador de cabelo, o mesmo menino que disse que provavelmente ia morrer de hipotermia porque o cobertor aquecido não estava funcionando, e também o mesmo cara que enfiou a gente nisso.

— Vamos sim. — Digo com meu tom mais animado e alegre, porque sou um ser humano de luz e super hiper mega animado. — Agora você só tem que tirar o Marshmallow do cu e ai a gente pode fazer isso.

— Eu não lembrava que o Youngjae era tão ácido. Da última vez que eu vim pra Coréia ele era apenas um bebê pintinho adorável que não machucava nem formiga. — Bambam comenta, pensativo. Escuto Yugyeom rir alto e isso me faz bufar. Lá vai eles começando a falar de minha humilde pessoa.

— Esse daí só tem cara de inocente. — Yugyeom afirma e ninguém ousa duvidar, afinal ele é uma das pessoas que mais me conhece. — Youngjae é o bottom mais badass que eu conheço. — Continua a difamar minha imagem e eu calmamente pego o galho de árvore que eu estava usando para cutucar um buraco no chão e jogo em direção ao lugar onde a voz dele vinha, com toda minha força. — Cara, você quer arranhar meu rosto?!

— Claro que não! — Respondo, com meu tom mais inocente, porque eu sou inocente. — A intenção era acertar seu olho.

— Bicha vingativa. — Bambam resmunga no meio de uma risada, e então eu calmante pego o galho que Jaebeom, que estava sentado ao meu lado como sempre, tinha na mão e jogo nele.

— Você não viu nada. — Sorrio amigavelmente. — Eu assisti todas as temporadas de Pritty Little Liars, aprendi algumas coisinhas sobre vingança. — Tento passar o aviso de perigo através do meu tom de anjo e da minha linda carinha de bebê inocente, e acho que eles entendem, porque escuto Bambam sussurrando um "credo" e depois disso tudo fica em completo silêncio.

— O que a gente faz agora? — Mark pergunta depois de um momento em que apenas o som dos grilos poderiam ser ouvidos, mas ninguém responde, afinal, não é como se realmente houvesse algo para se fazer no meio do mato, principalmente a gente que está aqui, isolados como eremitas. Nossas opções eram escassas, ou a gente ficava sem fazer nada na frente da fogueira ou ficava sem fazer nada lá dentro da cabana.

— A gente pode contar histórias de terror de novo. — Yugyeom propõe, mas o tom dele é incerto, como se não quisesse realmente dizer isso.

— Deus me livre! Não me recuperei da última vez ainda, não quero ouvir mais nada de assustador por um bom tempo, principalmente se nós vamos mesmo ficar sozinhos aqui no meio do mato. — Bambam fala, bastante alarmado, e eu tenho que concordar com ele, não estou muito a fim de ficar preso no meio do nada depois de ouvir histórias de terror onde provavelmente tem mortes de pessoas presas no meio do nada.

— Faz sentido. — Jackson concorda com o fato e o resto de nós também concordamos em silêncio. Contar histórias de terror não é uma opção.

— Vamos brincar de verdade ou consequência. — Yugyeom propõe, mas o tom que ele usa é meio desanimado, como se não quisesse realmente falar isso.

— Não. Você sempre acaba fazendo merda e a gente já fez muita merda. — Aponto este fato que de fato é um fato e escuto meu amigo suspirar, talvez de decepção, talvez de alívio, nunca saberemos.

— ESPERA! — Jackson exclama, assustando a todos com seu tom de voz alto e animado. De alguma forma eu sei que não vai sair coisa boa da boca dele. — Youngjae está completamente certo!

— Estou mesmo... — Concordo com a cabeça, meio confuso. — Que eu estou sempre certo é um fato, mas em quê exatamente eu estou certo dessa vez?

— Nós realmente já fizemos muita merda! — Jackson explica o óbvio, fazendo menos sentido do que já fazia antes e apenas nos deixando mais confusos ainda.

— A gente já sabe disso, não precisamos ficar lembrando a cada meio segundo. — Jinyoung resmunga, sentado do outro lado da fogueira, juntinho do Yugyeom porque aparentemente o ódio deles só funciona quando as pessoas estão olhando. Todos nós somos obrigados a concordar com o que ele disse, porque ninguém precisa dizer o óbvio pra gente entender ele, afinal, já é óbvio.

— Vocês não entenderam! Nós já fizemos muita merda. — Jackson começa a ficar agitado, como se estivesse em uma manhã animada de natal, antes de descer a escada e abrir os presentes.

— Explica pra gente então, amigo, porque estamos realmente tentando entender qual é o seu ponto, mas até agora nada. — Jaebeom fala pela primeira vez na noite, meio baixinho e cansado. Ele está quietinho aqui do meu lado porque hoje mais cedo ele sentiu dor de cabeça por causa do sol e eu tive que dar um remédio para ajuda-lo a se sentir melhor, mas acabou que o remédio dá sono e agora ele parece um ursinho sonolento que fica resmungando a cada meio segundo. Desde o começo, é sempre ele quem me abraça, mas agora ele quem precisa ser abraçado.

— Certo, escutem bem... — Jackson pede e todos assentimos, esperando que ele explique. — Nós já fizemos muita merda, causamos muito prejuízo e demos muito trabalho, nós todos já fomos castigados da pior forma possível, já passamos completamente dos limites, perdemos tudo.

— Isso era pra ser uma explicação? — Bambam pergunta, confuso.

— Me deixa terminar, merda! — Jackson bufa, irratado, mas então volta a falar. — Exatamente por nós já termos feito muita merda, não faz diferença se nós fizermos mais um pouco, afinal, já perdemos tudo.

— E daí? — Yugyeom pergunta, soando meio incerto, mas um pouco animado também.

— Vamos aproveitar esse fato. — Jackson termina, bem orgulhoso de sua idéia, mas na verdade eu não sei se entendi muito bem.

— Você acha que por nós não termos mais nada a perder, agora nós deveríamos fazer mais merda ainda e aproveitar esse fato? — Explano minhas dúvidas e todos parecem esperar pela resposta também.

— Sim, vamos fazer o acampamento virar um caos. — Jackson confirma minha ideia e ninguém fala nada por um tempo, pensativos.

— Nós vamos trolar o acampamento todo? — Bambam pergunta e Jackson dá uma risadinha.

— Exato.

— Nossa, que idéia idiota. — Jinyoung resmunga, mas algo no tom dele me diz que ele não parece tão do contra assim, o que só se confirma alguns segundos depois, quando ele diz. — Tô dentro.

— Eu também. — Yugyeom concorda também, surpreendendo o total de 0 pessoas, e aos poucos todos os outros também concordam. Eu sou o único que fica em silêncio, pesando os prós e os contras, realmente avalidando o quão errado essa idéia pode dar, mas no fim eu chego a apenas uma conclusão.

— Mesmo se eu não fizesse parte, vocês ainda fariam isso mesmo assim... — Suspiro o mais alto que consigo e sinto todos os olhos atentamente em mim, o que me faz sorrir e negar com a cabeça. — Então é melhor fazer parte disso e me divertir também. Vamos Lá! Hora de tacar o terror no acampamento.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora