Bateria fraca.

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Aluna: Janaina Gonçalves Cavalcante. Adulta de 13 anos. Planejar é seu forte, logo que completar dezoito, vai fazer uma turnê pela Europa e prestigiar seus milhares de seguidores da internet, vive maquiada, usa bolsas, sapatos e roupas de grifes famosas porque ganha o próprio dinheiro e presente dos patrocinadores.

Sabe dar dicas de como ser mais bela a cada dia, Entretanto tem dificuldade com a gramática. A mãe e empresária Vitória, chamou- lhe atenção diversas vezes por conta dos textos com erros ortográficos que a garota posta no canal. Cansada de se dar ao  trabalho corrigir,  me encarregou disso e eu fiquei muito agradecida.

_ Queridos sequidores da Jana, hoje mesmo estareimos çortiando dois ingreços para um super filme.
Me entrega o texto logo que me vê, e eu tenho vontade de me atirar pela janela por causa de tantos erros de português, respiro fundo, faço algumas correções explicando cada alteração.
A cada intervalo, me olha fixamente como um robô, e começa a repassar o texto como se eu fosse a câmera e fazendo caras e bocas.
... Garota maluquinha, mas engraçada. Só para, quando eu fico vesga e ela cai na gargalhada.
_Janaina você precisa se concentrar aqui primeiro. Falo séria para que não chame a atenção da mãe.
_Sim tia. Tá certo. Diz ela rapidamente entrando no jogo.

_ Hoje trouxe um texto e vou deixá-la me maquiar, talvez assim você se concentre. Falei.
Ela ficou em êxtase, quase não leu, mas me deixou divina.

Depois do almoço, em um restaurante aqui pertinho, costumo ir à biblioteca, normalmente eu pego um livro e vou lá para o fundo tirar um cochilo, Mário o rapaz que organiza os livros já sabe disso e sempre me avisa quando a bibliotecária chefe a senhora Edna aparece.

Minha cabeça está explodindo, acordei atordoada do cochilo, alguém derrubou um livro.

***

Quatorze horas.

Aluna: Bianca Ventura Brasil.
6 anos. Vive em um mundo imaginário de fadas, duendes, bruxas e princesas. Tem dificuldade em ler e escrever.
Bianca é muito gentil herdou do pai e da mãe, sempre que os vejo me cumprimentam como se eu fosse uma velha amiga, acho que são os pais que todos os professores pediram a Deus, se preocupam com a filha a incentivam e as vezes até participam da aula junto conosco.

A dificuldade de Bianca é somente de se manter neste mundo, ela tem a imaginação muito fértil, na hora da aula estamos na floresta, a atividade é o dragão que temos que vencer. E assim consigo trazer Bianca para nosso mundo, porém as vezes eu quem
tenho vontade de ir para o mundo dela e ficar lá para sempre.
Estava imaginando viver entre as fadas quando meu telefone tocou.
_ Alô é a professora Anete?
_ Não. É a professora Antoniete. Respondi. Não gosto quando erram meu nome.
_É essa mesmo. Alguém falou. Me fazendo engolir as palavras de chateação.
_Professora, aqui é do 13° do prédio que você está. A senhora Giorgina gostaria de saber se tem como você vir aqui para dar aula para a filha dela? Disse a pessoa.
_ Primeiro eu preciso conversar para poder começar dar as aulas, mas só terei tempo as cinco horas. Falei.
Ouvi quando a voz transmitiu minha informação e a outra pessoa respondeu impaciente:
_Pode, pode.
A mulher confirmou minha exigência e desligou antes que eu confirmasse novamente os dados.

Aluno: Mateus Alencar Barros.
10 anos. Ama futebol, acha que não precisa estudar porque vai ser um jogador famoso. Mora com o pai que é treinador físico de um time.

_ Hoje vamos ler sobre a história do futebol e aqui sobre jogadores falidos. Eu já estava com 40 por cento de minha bateria, estaria com 50 se tivesse feito minha sesta, um chocolate vai me ajudar, devia ter trazido maçã.

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Quatro horas.

Aluno: Stefano Aires Paiva.
5 anos. Um doce de criança, está começando agora, os pais querem que ele consiga acompanhar a série em que está, temem, porque apresentou alguns problemas cognitivos. Ama brincadeira e eu amo suas bochechas.
A aula com Stefano passou rapidinho ele tinha que ser o último eu não aguentaria um Artur a essa hora.

_Olá boa tarde! Eu sou Antoniete, a professora. Falei à empregada que me atendeu. Eu já a vira de passagem, nunca trocamos nenhuma palavra, aparentemente simpática, mas pareceu confusa diante do que falei.

_ O seu Davi não me avisou sobre uma professora. Disse ela franzindo a testa. _ A não ser que... ficava ela pensando. _ Faça o seguinte, entre e espere ali na sala, normalmente ele chega por volta de cinco e meia.

_ Como é seu nome? perguntei. Ela parecia que ficava fora do ar por alguns segundos, era engraçado o jeito dela, mas era um teste à paciência, já que conversava devagar.

_ Marlene. Respondeu ela, fechando a porta.

_ Marlene, mas onde está a criança ou a esposa dele que talvez tenha sido em nome dela que me ligaram? Falei.

_ A dona georgina?! se espantou a mulher. Com certeza não está em casa, ela sempre passa a tarde pela rua, ela leva a pequena Ana, coitadinha. Disse Marlene.

_Sim o nome era esse mesmo e disseram que eu viesse no 13. falei confusa.

_Com certeza, é porque é o pai quem vai pagar, falava pensativa Marlene. _Espere, daqui a pouco ele chega, pode ficar ali no sofá. Disse ela.

Sentei-me no sofá que era muito confortável, o vento fresco entrava pela varanda, dez minutos depois estava eu olhando para baixo, o movimento dos carros, os raios do sol que batia no concreto dos vários prédios, infelizmente não dava para ver o por do sol daquela varanda, mas dava para ver o crepúsculo com certeza.

Minutos depois voltei para o sofá, o apartamento era muito neutro, não vi brinquedos pela sala, talvez estivessem nos quartos. Revista de música, dois livros do lado da TV na estante.

_ Professora! chamou-me Marlene.

_Eu preciso ir embora, não durmo no emprego e se eu demorar perco meu ônibus. Disse ela colocando a bolsa no ombro.

_Eu vou com você. Então. Falei.

_ Não, pelo amor de Deus fique, espere só mais uns minutinhos, ele sempre chega a essa hora. E eu conheço a dona Georgina, se ele não resolver isso hoje, ela vai virar o cão. Disse Marlene preocupada.

_Mas eu não posso ficar na casa, eles não me conhecem, e se pensarem que eu sou uma ladra e chamarem a polícia? Não posso ficar Marlene. Me desesperei.

_Vou fazer o seguinte, vou ligar para ele do caminho e avisar que você está aqui, mas tenho que sair agora. disse ela.

Quando ela falou em ligação lembrei-me de retornar para o número do telefone que havia me ligado mais cedo, enquanto procurava o celular na minha bolsa mágica, Marlene saiu rapidamente e trancou a porta da copa que dava para o elevador.

Fiquei em pânico, mas ela não abriu, segundos depois ouvi o barulho do elevador, Marlene havia ido embora e em poucas horas eu estaria presa por invasão de propriedade. Gritei diversas vezes por ela, minha cabeça voltou a doer, mas ela não voltou.

Não tive coragem de sair da sala, não queria tocar em nada, tinha medo de deixar minhas digitais, assim a polícia não teria provas contra mim, a não ser o fato de eu estar dentro da casa. Aí meu Deus!
Sentei-me novamente no sofá, o vento estava cada vez mais frio e estava escurecendo, pensei que se fosse no terceiro andar eu daria um jeito de descer, mas 13º é impossível.
Fiquei encolhida no canto, a cabeça latejava, queria um analgésico, também estou com fome e ainda tentando ligar, mas só dava fora de área. Encostei a cabeça na almofada, fechei os olhos para aliviar a dor e minha bateria também ..... Is low, low, low.

Um aMor Fora Do padRãoOnde histórias criam vida. Descubra agora