Respira fundo

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Aluna: Evelyn Ambrósio Fontes. 10 anos. Acorda cedo é organizada, lê e escreve com facilidade, péssima em cálculos, geniosa como a mãe, senhora Emiliane e Presunçosa como o pai, senhor Glauber, entretanto a pureza de criança ainda fala alto naquela cabecinha.

_ Sua professora chegou!!! Berrou a mãe à porta logo que me viu.
_Bom dia dona Emiliane. Falei desconcertada com tamanha falta de educação e mau humor.
_Bom dia Antoniete! E a Evelyn, já sabe quanto é dois mais dois?
_ Sim, ela está progredindo, já estamos estudando a tabuada de...
_ Evelyn!!! Cuida!!!!
Berrou ela novamente.
_Tome um café. Disse ela.
_ Não obrigada, vou esperar Evelyn na salinha, vou preparando o material. Falei tentando fugir daquela louca.
_ Por que você grita assim, Emiliane? Parece que mora na favela, tem oito filhos e vende tapioca na rua. Jesus! Pare com isso. Ouvi quando o marido chegou e a repreendeu.
_ Por favor Glauber não me atormente hoje. E eu já vendi dindim na rua, achava era bom. Disse ela.
_ Sua professora chegou! Disse ela logo que a filha se aproximou.
_ Certo mamãe já estou indo. Tchau papai. Disse a garota docemente.
_ Não sei por que você mantém uma professora, se Evelyn estuda na melhor escola da cidade. Disse o pai.
_Mas é burra feito uma porta.

_Deve ter herdado de você. disse ele.

Felizmente a garota não ouviu isso, pois chegou me cumprimentando e eu respondi num tom um pouco mais alto e festivo.

A primeira aula era ótima eu estava com toda energia, brincava, fazia as vozes dos personagens, pegava coisas na cozinha ou bonecas para ajudar na hora da soma. Evelyn estava realmente progredindo, isso me deixava feliz.

***

Dez minutos para nove horas...

Aluno: Artur Nunes Braga. 7 anos. Viciado em games, bom em matemática, detesta leitura, ótimo em Inglês. Mora com a mãe, o padrasto e o irmão mais novo. O pai o visita as vezes, quando não está apostando em tudo o que vê.

_Antoniete, você não acredita eu passei da fase cinco ontem, um tal de Hero10 queria me matar, mas eu tinha uma fire reserva. Eu coloquei no boat dele e ele não percebeu e Kabum, tudo explodiu. Otário.

...Esse era o assunto preferido dele.

_ Artur, não pode chamá-lo de otário. Repreendi.
_Por que não? Perguntou ele.
_Por que... Pensei. ...pode ser uma velhinha de noventa anos que está jogando, você não quer desrespeitar os idosos quer?
_ Não. Disse ele pensativo.

Quando Artur estava fazendo a atividade e Miguel dormindo Andressa me chamava a cozinha para um lanche, junto com Lúcia a cozinheira que cozinhava divinamente bem.
_Lúcia minha querida e pior inimiga. Falei sorrindo.
_ Inimiga por que? Perguntou ela com o sorriso meio de lado para desfaçar a falta de um dente.
_ Porque cozinheiras boas são Inimigas de gordinhas. Falei. Sorrimos.

Meu intervalo era curto, eu sabia o quanto Artur perdia o foco se eu não tivesse por perto.
Para fazê-lo se interessar por leitura comecei a levar HQs de games e pedia o resumo do que acontecia na história, ele lia enquanto eu estava lá, mas sei que quando eu saia ele corria para o vídeo game.

****

Dez minutos para dez horas....

Aluno: Nathaniel Fonseca Góes.
12 anos. Pré adolescente, não preciso escrever muito depois disso.
Nathaniel é um garoto que assim como outros na pré adolescência tem picos de doçura e picos de explosão, revoltado com a mãe, embora tenha sido o pai quem os abandonou.
Bom em História, ótimo em geografia, principalmente cartografia, isso explica a vez que saiu de casa sozinho e foi parar em outra cidade a procura do pai que é mulherengo e pedófilo, pois a mulher com quem está agora, mal fez dezoito.

_ Vou morar com meu pai no próximo ano Antoniete. Dizia ele com a voz em transição.
_ Você quer mesmo ir? Perguntava, porque sabia que ele estava iludido com o amor do pai. Naquela história não era a mãe a vilã, mas assim como ela eu também não iria desfazer esse encanto, ele teria que descobrir sozinho.
_ Antoniete como está o Niel? Chegava ela à porta do quarto com os olhos amorosos.

Ele de costas para ela, revirava os olhos e respirava fundo com impaciência.
_Está bem dona Márcia. Eu respondia desconcertada por ver a cara do garoto e temendo que ela o visse daquele jeito.
Eu imaginava se eu fizesse aquilo para minha mãe, ela me quebrava a cara na mesma hora, com certeza.
Sei que ela não faria como minha mãe, mas ficaria arrasada se visse.

Ela passava o dia em casa porque trabalhava pela internet, talvez fosse isso que Nathaniel achava ruim, a mãe sempre estava de olho no que ele fazia, o que não era errado, mas para um adolescente era a pior coisa do mundo, a liberdade dele começava ao meio dia quando sairia para a escola.

Por falar em meio dia, são dez minutos para onze horas...

Hora de ir...

Um aMor Fora Do padRãoOnde histórias criam vida. Descubra agora