Capítulo 1

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Olhou para o chão enquanto descia do palco. Com as mãos nos bolsos da calça preta folgada acompanhada de uma regata também folgada e preta e o par de baquetas no bolso direito indicava um Bakugo irritado. Ele tinha tocado a noite toda com perfeição e maestria da qual ele era conhecido, mas o fim do show foi marcado por um deslize seu ao sair do compasso. Nada desastroso para um ouvinte desatento, mas o suficiente para ele querer explodir a si mesmo.

A banda se reuniu na entrada lateral do evento. Suspiros de jovens acompanhavam a passagem do jovem baterista, que estava muito concentrado em seus próprios pensamentos e em seu próprio erro. Contudo, esse erro teve um dono: o sorriso. O dono do sorriso? Ele desconhecia, mas naquela expressão cercada pelas luzes dramáticas na plateia e os gritos de fãs haviam muitos sentimentos que despertaram tantas sensações como medo, indecisão e curiosidade em Bakugo, que ele se perdeu em si mesmo e quase estragou o show todo da sua banda. Nunca um sorriso havia roubado sua atenção. Por que esse seria especial agora?

Bakugo ficou encostado em uma parede enquanto Jiro e os outros recebiam os parabéns pela apresentação dos organizadores do evento. Ele não se sentia parabenizado, ele se sentia enraivecido por receber méritos por algo longe de seu melhor.

- Você não parece muito bem... - Hagakure apareceu em sua frente, mas ele olhava fixamente para suas botas. - Hoje nosso show foi incrível!

Ele virou o rosto para o lado, com um pouco de deboche e rancor e observou Jiro com Kaminari. Ela o olhou e mostrou os dois polegares pra cima para ele, que foi em direção do casal.

- Caaaaara como você conseguiu errar tanto? ­- o braço de Kaminari envolveu Bakugo como em um abraço, mas ele se desvencilhou do amigo e lhe deu um olhar ameaçador. - Calma cara! Eu tava brincando contigo.

Bakugo estava pronto para explodir toda a sua raiva, mas Jiro apareceu com os braços abertos entre os dois, impedindo uma possível briga.

- Ei vocês dois! Não vamos estragar a noite! Aproveitando o nosso atual sucesso, vamos sair essa noite! Eu pago!

Kaminari levou-a a um canto, fazendo expressões exageradas e ocasionalmente levantando os braços como uma criança. Ela ria de vez em quando, mostrando um lado mais suave do que era normalmente nos ensaios. Bakugo decidiu que treinaria mais para consertar o erro de se distrair por um sorriso qualquer. Não percebeu quando eles tinham tomado a decisão de ir a uma cafeteria próxima e nem quando ele os tinha acompanhado. Só voltou a si quando chegou ao lugar.

Ao entrar na cafeteria, percebeu que as paredes eram pretas cobertas por variados desenhos em branco, muitos sendo animes que ele conhecia ou já havia ouvido falar. Mesas circulares pretas e um chão amadeirado, além de luzes baixas compunham o lugar, dando um aspecto nostálgico. A bancada com vários tipos de doces escondia uma atendente baixinha de cabelo curto castanho. Eles escolheram uma mesa próxima as paredes de vidro da frente da loja, com Kaminari relaxando na cadeira com os braços ao redor dos ombros de Jiro.

Bakugo queria fugir daquela comemoração. Se já não bastava seu descontentamento consigo mesmo, não concordava com uma comemoração em um lugar tão... doce. Seu gosto sempre foi mais para o apimentado.

- Vocês têm algum pedido em mente? - O rosto de Bakugo, que se concentrava na mesa com um olhar vazio sem nem perceber, se levantou e viu o sorriso simpático do atendente: a merda do mesmo sorriso.

Os demais membros da banda fizeram seus pedidos enquanto Bakugo continuava a encarar o jovem atendente. Seu rosto inexpressivo foi se transformando em uma massa de ódio enquanto ele observava: o sorridente tinha uma camisa branca social dobrada até acima dos cotovelos, revelando braços magros com tatuagens de flores em ambos; uma gravata bem feita com um colete cinza por cima acompanhava sua calça social e interessantes botas vermelhas. Ele também usava óculos e tinha um rosto fino, delicado e o sorriso que trazia no rosto não poderia ser mais indefinido.

- E você? O que deseja?

Bakugo notou que a pergunta era para ele e, em um momento de fúria acumulada por tudo que procedeu em seu dia, gritou:

- Não tem porra nenhuma que eu goste aqui! Eu nem sei porque eu vim pra esse caralho! - Todos se assustaram com a reação repentina do baterista e Jiro logo interviu:

- Sinto muito pela reação dele! - ela se ergueu e fez uma reverência.

- Não, não, tudo bem - ele falou enquanto balançava as mãos em frente ao corpo como se ele estivesse se desculpando, depois coçou a cabeça e a virou um pouco pro lado, ainda sorrindo: - Nunca fomos muito famosos pela comida mesmo...

Ele se virou, levando os pedidos. Minutos depois, a atendente do balcão voltou com os pedidos deles e foi atender outro casal passante. Enquanto a banda conversava animada, ele procurou com os olhos aquele quem julgava ser o motivo de seu mais novo problema. O viu através de uma porta de vidro que se acessava pelo fundo da loja, que dava para o que parecia ser um estúdio de tatuagem. Observou o rosto fino e focado, que folheava um grosso e aparentemente pesado livro e desistiu de ir até lá explodir com ele. Aquela seria provavelmente a última vez que eles se veriam.

Não seria?

Kokoro no KatsuOnde histórias criam vida. Descubra agora