CAPÍTULO 2
Os raios do sol invadiram meu quarto me fazendo apertar os olhos numa tentativa inútil de adiar o inevitável. De repente me lembrei da realidade e sentei na cama relutante, não sei se pelo cansaço, mas acabei acordando mais tarde que o normal. Um dos fones de ouvido pendia em um dos lados da cama e o outro continuava em meu ouvido, agora tocando I need a miracle do Third Day, e aquelas palavras nunca fizeram tanto sentido para mim quanto agora. Mesmo que a letra descrevesse historias de pessoas precisando de um milagre e a minha não estivesse entre elas, ainda sim, era tudo o que eu pedia. Eu levantei antes que minha mãe ficasse uma fera comigo, entretanto me lembrei: ela estava trabalhando. O que era pior, visto que, assim eu precisaria seguir com a vida rotineira de preparar um bom almoço para dois. Como eu já esperava, o dia permaneceu com uma nevoa de desânimo pairando sobre mim afetando minha cozinha, e confesso que não fiz o melhor dos meus cardápios.
- Arg- grunhiu Rafa na primeira garfada em seu prato de arroz- ei maninha, você já foi melhor na cozinha. Tá demitida- me reprovou e deu uma risadinha sarcástica.
Seria muito bom se eu não recebesse esse elogio e não houvesse aula hoje, pensei comigo mesma, infelizmente quase nada é como as pessoas querem. Então eu respirei fundo e abri o portão de casa, pronta para fazer de hoje o melhor dia possível. Na escola, encolhi os ombros tentando passar despercebida, seria bom que surgisse uma poção de invisibilidade agorinha mesmo.
- Oi Luuuci- senti a sensação que desejei com todo fervor não experimentar outra vez, era ela, Jennifer, com a voz carregada de deboche, como se fosse minha amiga pra me chamar de Luci- olha, seu cabelo ainda está bagunçado de ontem viu, ah não! Ele é assim naturalmente, não é mesmo?
Aquelas risadinhas, como trilha sonora de um filme de terror saindo das amiguinhas dela me davam nos nervos.
Eu continuo andando, não vou dar bola, não me importo. Não entendo o motivo de tanta implicância comigo, me acho tão inofensiva, as pessoas mal se dirigiam a mim, então não fazia sentido. Fuzilei-a com os olhos quase flamejantes e segui em frente, mas naquela hora eu percebi o quanto aquela criatura desprezível se sentiu desafiada. Eu caminhei tão rápido que foi uma surpresa não tropeçar em nada, fui em direção a Jessica que andava até o banheiro, ao me aproximar cumprimentei:
-Oi Jeh.
-Oi! Ah! Nossa! você demorou hein!- ela retrucou e entrou no banheiro.
- Me atrasei um pouco- fiz uma pausa- Sabe- continuei- acabei de cruzar com a Jennifer na entrada.
- Ela te incomodou? – perguntou Jessica indignada, pronta para socar a menina caso fosse necessário, balancei a cabeça negando e ela respirou fundo- Ótimo, vamos?
Seguimos até sala, conversávamos e eu contava a Jessica os detalhes de uma história que ela ansiava saber.
- Eu não acredito que ele segurou sua mão, que romântico- dizia ela sorrindo de orelha a orelha.
- Romântico demais, ah! Claro.
- Eu achei.
-Pra você tudo é romântico quando envolve pessoas do sexo oposto- rebati irritada- agora vamos beber água?
- Depende do casal, nem sempre vejo um romance bom assim- pausa para um suspiro exagerado e ela continua- Ah, eu já fui, pode ir, quer que eu leve sua mochila?
- Pode ser!- revirei os olhos e entreguei-lhe a minha mochila velha e roxa me dirigindo ao bebedouro- Obrigada sua mala sem alça.
- Disponha.
Acredito que maior vergonha que a de ontem, só senti hoje encontrando com ele, o Gabriel estava bebendo água e segurando a mochila com a mão livre. Disfarcei e fingi não tê-lo visto, bebi minha água e me voltei em direção à sala de aula. Antes que eu pudesse dar mais um passo, acabei sendo surpreendida por um grito baixo e respingos de água esbarrando em minha pele, Gabriel molhou as mãos e gritou "Bu!" abrindo-as e se aproximando do meu rosto, e molhando meus cabelos tão de leve que eu me senti como uma folha sob o orvalho pela manhã. Levei um susto e deixei escapar uma risadinha tímida. Minhas bochechas pegaram fogo, fiquei passando a mão no rosto afetada, tentando secar os respingos de água e, com eles também a vergonha, temendo estar transparecendo meus sentimentos. Notei que ele também ficara envergonhado e percebi uma pitada de arrependimento em seu olhar, Gabriel, na mesma hora corou e tentou enxugar com as mãos meus cabelos rebeldes. Sorrindo forçado ele se desculpou e eu assenti, fui caminhando até a sala enquanto ele caminhava atrás de mim, olhei de canto e percebi um sorriso diferente nos lábios dele.
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O namorado dos meus sonhos
RomanceLuci, uma menina comum, exceto pelos acontecimentos que precisará aprender a controlar daqui para frente. Isso envolve um colega de escola, uma melhor amiga, uma redação inesperada e três personagens literários misturados em um só. Quer descobrir ma...