Quatro

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Demoro para cair no sono, como de costume. Mas quando estamos na toca, sempre há um refúgio.

Desço as escadas, na intenção de não fazer barulho, mas a madeira velha não permite. Assim que avisto Nefesta, entrego o pedaço de pergaminho escrito "sala" e a mando pela janela.

Por volte de dez minutos depois, a figura alta de cabelos em pé surge no fim da escada.

— Não consegue de jeito nenhum, não é? — ele dá um sorriso triste quando aceno com a cabeça — Chega pra lá, Theresa.

Vou mais para perto do encosto do largo sofá dos Weasley, enquanto Fred joga seu cobertor sobre nós e me abraça.

— Está parecendo uma tocha com esses cabelos para cima. — brinco.

— Você está parecendo um cachorrinho com esses dois rabos de cavalo. — ele rebate, me fazendo rir.

— Boa noite, salsicha. Obrigada por vir. — aconchego minha cabeça entre seu pescoço e seu peito, já que ele estava de lado.

— Boa noite, Tess.


O sol brilhando nos meus olhos pela janela, em conjunto com quem estava do meu lado a ser balançado, me acordam aos poucos.

Fazia tempo que não dormia tão bem.

— O que fazem aqui? — Molly pergunta, quando ambos estamos acordados.

— Mãe, sabe que Theresa não consegue dormir à noite. Dormirmos aqui não é uma surpresa pra ninguém. — ele resmunga, e então senta, de costas para mim.

— Vão se trocar, antes que Sirius apareça e mate vocês. — ela sai, em direção à cozinha.

— Bom dia. — digo, com voz de sono.

— Bom dia, flor do natal. — o garoto de olhos castanhos me fita, antes de bagunçar meu cabelo e subir.

Faço o mesmo, encontrando Gina já pronta quando entro no quarto.

— Ainda a insônia? — ela pergunta, enquanto procuro uma roupa na mala.

— Sempre.

— Se eu fosse você colocaria uma roupa bonita. — minha amiga senta na minha cama — Mamãe disse que quer tirar uma foto de todos este ano.

— Molly e sua mania de fotos... — reviro os olhos.

— É que agora é diferente. — ela diz, fazendo-me encara-la — Papai disse que Fred mudou desde o ano passado. Anda mais calmo do que Jorge, e eles afirmam que o mérito é seu.

— Isso é besteira. — rio — Não tive nada a ver.

— Ela só está feliz de te ter como nora, eu acho.

Gina me ajuda a escolher uma calça bonita, já que insisti em usar um blusão, depois de inúmeras discussões sobre escolher um vestido. Tal blusão, que ela me obrigou a colocar por dentro da calça. E devo admitir que gostei.

Em recompensa, deixo-a me maquiar e ajeitar meu cabelo, que prende apenas duas mechas na parte de trás, deixando o resto solto.

— Está linda, cunhada. — ela sorri, e apenas retribuo.

Quando saímos, damos de cara com os gêmeos, Harry e Percy, já que estamos em quartos opostos.

— Onde está Ronald? — pergunto.

— Se eu disser que ele ainda está se arrumando vocês acreditam? — Jorge pergunta, aos risos.

— Sim. — dizemos em uníssono.

— Blusa bonita, Theresa. — Fred passa o braço pelo meu pescoço, como de costume, quando todos começam a descer — Pretende me devolver algum dia?

— Não se preocupe, você nunca a terá de volta. — digo, e ele me encara, incrédulo — O verde dela cai bem com o rosa dessa calça.

— Bom dia, pombinhos. — Arthur sorri, assim que nos vê.

— Então quer dizer que os boatos são verdadeiros... — uma figura de bigode surge entre os demais.

— Remo! — corro é o abraço.

Remo e Sirius são o mais próximo que tive de família a vida inteira. Eles, aparentemente, são amigos desde que estudaram juntos, e continuam assim.

— Cuide bem da nossa garota, hein, Weasley. — ele aperta o ombro de Fred, que volta a passar o braço pelo meu pescoço.

— Rony já desceu, PODEMOS POR FAVOR ABRIR OS PRESENTES? — o garoto ao meu lado berra, e sinto vontade de matá-lo.

Por favor, ele precisa parar de me encher o saco. — suplico à senhora Weasley, que prontamente autoriza.

Entrego primeiro o de Sirius, um livro trouxa que sempre lia para mim desde pequena, mas em sua versão mais nova. Ele me agradece, com lágrimas nos olhos por eu ter lembrado. Meu tio me entrega um embrulho com um colar dentro. O colar verde, com o símbolo da minha casa, tem uma foto nossa dentro, e logo coloco no pescoço.

Remo, a quem dou um chaveiro com um lobo (sim, eu aprendi a ser engraçadinha com os gêmeos), me presenteia com uma pulseira, com um pingente de, adivinhem... um lobo. Eu amo as ironias dessa família. Diz ele que é para sempre lembrar do meu tio favorito.

Gina me entregou uma sacola com um vestido, que admito ser lindo, e que ela me fez prometer usar na próxima festividade. Enquanto dei a ela um novo kit de bolas de quadribol.

Enfim entrego o embrulho de Fred, que abre antes de dar o meu. Originalmente eu o daria apenas o porta-retrato, que foi o primeiro aberto, com nossa primeira foto, há cinco anos atrás, a qual nem vimos ser tirada.

Estávamos voando na sua vassoura, e Gui teve a brilhante ideia de tirar uma fotografia, do nada.

E então abre a embalagem do cd. Foram as primeiras músicas trouxas que eu ouvi, e as minhas favoritas até hoje. Ele me mostrou no antigo vinil do senhor Weasley, que nem existe mais.

— Eu... amei. — o sorriso no seu rosto não me deixa dúvidas — Mesmo, Tess.

— Que bom, salsicha. — abraço-o.

— Eu não te comprei nada especial, por que... — ele me entrega a sacola com a logomarca das gemialidades Weasley — na verdade eu fiz.

Sorrio. Sinto que todas as atenções na sala estão voltadas para nós. "O primeiro momento de casal em público". Embora seja uma bela mentira, ela não anula que estou tendo um momento com meu melhor amigo, o que me faz ligar absolutamente zero para todos ali.

Fred segura minha mão e me leva até a porta d'A toca, onde pega um dos itens dentro da sacola e joga para cima. Logo depois conjura um feitiço, que não consigo prestar atenção e, coincidentemente, forma um prato antigo, com uma foto do mesmo dia que escolhi, onde estamos ambos dentro de uma camisa de Hagrid, sorrindo.

O que mais me chama atenção, quando meu amigo segura o prato, que se forma na sua mão, depois de um modesto show de folgos verde e vermelho, é que o fundo da foto foi modificado, e está da mesma cor dos folgos.

— Nenhuma casa vai nos separar, Tess. — o garoto de sardas sorri, e abre a sacola para que eu tire mais alguma coisa.

Um pingente. Uma vassoura, simbolizando o quadribol.

— Fred... — apenas consigo o abraçar.

É a única forma que acho para expressar o quanto amei o presente, e quanto ele significa para mim.

— Nenhuma casa vai nos separar. — murmuro enquanto estamos abraçados.

A maior pegadinha de todos os tempos || Fred Weasley || Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora