prólogo

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— Mamãe, estamos chegando? — Derikc, meu irmão pequeno perguntou se estirando encima da carroça. Mamãe lhe olhou sorrindo:

— Não vai demorar muito querido.

Papai estava pacientemente segurando o cavalo na direção em que íamos, e mamãe se certificava de que Derikc não iria se jogar de cima daquela carroça.

— Filha olhe o seu irmão, por favor. — os olhos azuis e brilhantes de minha mãe me pararam dentro daquela carroça, assenti e fui até meu irmão, preparei um colar para ele, um colar simples, mas o símbolo tinha uma coisa muito valiosa, que era tudo que eu tinha.

— O que é isso? — Derikc se aproximou  de minhas mãos para pegar o pequeno colar.

— Isto é um colar que fiz para você. — Passei as mãos em sua cabeça, acariciando seus cabelos loiros e macios, o pequeno sorriu por uma fração de segundos e pegou o colar rapidamente de minha mão.

— Te amo Janne. — falou me abraçando. Senti uma pequena lágrima cair de meus olhos e abracei o pequeno, a felicidade estava estampada em seu rosto, e aquilo me deixava tranquila.

Nós assustamos escutando alguns gritos vindo de fora da carroça, fechei a carroça rapidamente como a primeira coisa que veio em minha mente, Derick estava completamente espantado, a criança me olhou e abriu a boca para falar, mas levei os dedos até a mesma pedindo silêncio, deixei Derick com o cordão em sua mão e levantei um pouco o manto que nos mantinha escondidos alí.
Me choquei quando olhei uma flecha atingir a costa de minha mãe, fazendo com que o puro sangue da velha espirrase para todos os lados, tampei rapidamente minha boca caso contrário gritaria, Derick não tinha noção do que estava acontecendo e se dependesse de mim nunca teria. Avistei papai correr até minha mãe com lágrimas nos olhos na esperança de poder ajudar, mas a essa altura já era tarde demais, não pude respirar quando o avistei o velho olhar pra trás e levar outra flechada em sua testa, quem quer que estivesse atirando não estava pra brincadeira. Respirei fundo contendo as lágrimas fortes e dolorosas que ameaçavam cair, presenciar a morte de meus pais, com um irmão pequeno para cuidar, em uma carroça "abandonada" no meio do deserto frio, com pessoas que provavelmente nos matariam, tentei raciocinar o que havia acabado de acontecer, o que havia acabado de me deixar órfã, o que viria pela frente, mas estava em choque, não mexi um dedo sequer, um olhar sequer.

— Janne? — a voz assustada de meu irmão me fez arfar, o olhei com os olhos doloridos e a garganta queimando.

— Não é nada  pequeno, apenas faça silêncio... Fique aqui comigo, por favor. — deixei que a última palavra saísse como sussurro perante os ouvidos do garoto, o abracei entrelaçando meus dedos em seus fios macios e loiros, as lágrimas apressadas para sair acabavam comigo, a única coisa que queria naquele momento era ter um poder, poder  para nós tirar dali e ir para qualquer lugar, um lugar distante, distante do ódio das pessoas que assassinaram nossos pais, distante da dor e do desespero dentro daquela minúscula carroça, uma lágrimas escorreu por meu rosto e me prendi mais aos braços do pequeno a frente.
Uma risada soou e logo atrás veio outra, pessoas se fizeram presente e o desespero tomou conta de meu corpo, precisávamos sair daquela carroça antes que pudessem nos pegar, não deixaria que meu irmão morresse, se precisasse... Eu lutaria.

— Derick, presta atenção... — puxei o rosto do pequeno com silêncio olhando profundamente em seus olhos que demostravam insegurança e medo. — Você vai descer primeiro, bem devagar, não deixe que te vejam, apenas desça em silêncio... — o garoto concordou com receio e abriu bem devagar o pano que estava por cima de nós, Derick me olhou pela última vez e desceu, silenciosamente. Se manteve ali até que abrissem o pano grande da carroça. Olhei os olhos em minha frente, os dois homens grandes, imensos e sujos me olhavam surpresos, mas logo pareciam gostar da situação...

— Eu cuido dessa. — o mais alto de cabelos negros falou me puxando agressivamente pelo braço fazendo meu pequeno e sujo vestido azul voar. O homem me olhou com desprezo e segurou a arma em sua mão, apontando com pressão contra minha cabeça. “Por seu irmão, por seu irmão Janne” Repeti diversas vezes em minha mente, mesmo que a pressão da arma machucasse mais do que já havia sentido, me mantive calada, sem expressão, e o homem parecia se divertir com isso, parecia se divertir com o desespero que tentava não demonstrar.

— Qualé, vai matar nosso brinquedo? — outro homem se aproximou, esse era mais baixo mas mantinha um olhar malicioso perante meu corpo, minha espinha se enrijeceu e um calafrio de manteve presente quando o homem deu sua última olhada fazendo o mais alto suspirar.

— Vai me tirar o prazer de estourar os miolos dela porque não consegue arranjar uma por si mesmo? — o alto falou fazendo o mais baixo rir soprador, não por graça, por pura raiva...

Você não vai morrer!” uma voz soou em minha cabeça, não tinha a mínima ideia de onde, mas escutei. Olhei para o homem que retirou bem devagar a arma de minha cabeça quando uma voz feminina falou:

— Solta.
O alto a olhou sério, mas me manteve com respeito, agradeci em pensamento quando a mulher se aproximando e retirando o mais baixo de seu caminho.

— Vamos ficar com ela. — falou seriamente me olhando e examinando cada parte de meu rosto, seus cabelos loiros e platinados brilhavam com o sol um pouco escondido, sua pele era exageradamente branca, não parecia ser humana.

— Você está de brin...

— Acha que estou de brincadeira Elí? — a voz da mulher foi ríspida e fria, me fazendo tremer encostada naquela carroça, em um momento como esse meu irmão já deveria ter saído, meu maior medo se tornou real e não via ideia de como reagir, tudo em mim doía, mas senti minha cabeça latejar com a pressão que a  minutos atrás havia sido colocada no local.
O homem a olhou e riu soprado, saindo de minha frente, olhei para dentro da  carroça e outros homens estavam mexendo em nossas coisas, segurando meus vestidos e nossos alimentos, eram ladrões espertos, ladrões que chegam pra matar.

— Amarre a mão dela! — um homem gritou, não tão velho, mas não tão novo, seus olhos eram claros e reluzentes, sua pele estava suja como se houvesse se jogado em um lago de lama. Outro homem, alto e robusto se achegou a mim com uma corda bem grossa, não foi tão agressivo ao pegar meus braços, parecia não ligar para nada que estivesse acontecendo alí, sua feição mostrava frieza, mas frieza perante eles...
Suspirei olhando para minhas mãos assim que terminaram de amarra-las, tudo que estava acontecendo em minha vida, tudo que me deixara sem chão, papai sempre falava: “O que quer que aconteça, nunca deixe seu irmão!” e na primeira oportunidade o deixei, o deixei para ir, para sobreviver, mesmo que seja sem mim, ele ganhará um rumo melhor, ganhará uma vida melhor, é nisto que acredito.

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⏰ Última atualização: Oct 01, 2020 ⏰

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