Tarde Calma

Capítulo Único.

Acordei sentindo o sol batendo no meu rosto. Me sentei na cama e lembrei o dia de hoje.

Piquinique.

Sorrio com o pensamento e me levanto animado. São quase 11 horas. Hoje eu me permiti acordar tarde, quebrando um pouco minha rotina semanal.

Logo depois de ter tomado banho, coloco minhas roupas cotidianas. Uma calça simples preta, camiseta social branca e o colete de couro marrom por cima. Me olho no espelho e coloco meu chapéu. Sorrio.

Cara, eu tô um gato..

Chego no ponto de encontro perto das 12:30. Vejo sentados embaixo de uma árvore meus amigos, conversando, e essa cena me traz uma certa paz..
Vejo O Coletor fazendo alguns desenhos em um caderno de rascunhos, com o Ajudante e a Enfermeira observando por cima do seu ombro. Hoteleiro está ao lado deles, parece estar lendo algum livro. Quando paro para prestar mais atenção no mesmo, ele percebe que eu estou ali. Olha pra mim e acena, com uma cara de "alô? Tá aí seu idiota?'. Volto ao normal e continuo andando até eles, me sentando na 'rodinha'.

Deixo no chão a sacola com os sucos vermelhos e azuis, e sanduíches nos sanduíches que o Taverneiro fez questão em preparar para a gente.

- Demorou hein? - Diz Hoteleiro, já juntando o que eu trouxe com o resto dos lanches. - Dessa vez até eu fui mais rápido.

O vi sorrindo vitorioso, como se fosse um grande feito me ver atrasado em qualquer que seja a ocasião.

Dou um soco fraco no ombro dele, que só dá risada.

- Eu tava ajudando o Taverneiro a preparar o almoço da Taverna. Diferente de alguém, eu pago pelo que pego - Dessa vez sou eu quem sorrio, e ele quem me olha com cara de emburrado.

- Não entendo como vocês são tão amigos, vivem se provocando... - O Coletor se mete na conversa, rindo, ainda retocando o desenho no caderno do seu colo.

Ignoro totalmente o comentário do Coletor e me arrasto até sentar do seu lado, chegando mais perto.

- O que você tá desenhando? - Pergunto sorrindo, enquanto ele empurra minha cabeça pra trás com um "sai!"

- Somos nós! - ouço a voz empolgada vinda do Ajudante, enquanto a Enfermeira tampa a boca com as mãos, rindo de um jeito adorável.

Olhando mais de perto, noto que são eles mesmo. Ambos estão sentados debaixo de uma árvore - muito parecida com a que estamos agora, aliás -. Ambos estão sorrindo e fazendo 'tchauzinho' com a mão. Outros detalhes como as nuvens e algumas outras árvores retorcidas podem ser vistas ao fundo. Mas com certeza, o ponto mais chamativo do desenho, é o sorriso estampado no rosto dos dois. É um sorriso sincero de pura alegria. Isso me faz sorrir também.

Depois de uns minutos, estamos todos comendo e fazendo piadas sem graça, mas rindo mesmo assim. O dia está lindo e podemos ver algumas jabutis aladas voando bem próxima a área que estamos. O Coletor está deixando o Ajudante e a Enfermeira ver seus desenhos, e explicando sua 'evolução artística' e eu apenas observo.

Observo como eles são bonitos.

Não bonitos por fora. Não fisicamente.

Bonitos por dentro.

Não são detalhes físicos que fazem as pessoas serem bonitas. São o valor delas. São o que elas representam uma para as outras. São momentos assim. Momentos felizes.

Eles são felizes.

Isso me deixa feliz.

Sinto uma mão tocando meu ombro e saio do meu 'transe'

Olho pro lado e vejo Hoteleiro me olhando com um copo de suco verde na mão.

- 'Cê tá bem cara? Tá olhando pra eles igual um idiota.

Olho pro Hoteleiro. Ele está me olhando fixamente nos olhos. Posso ler a alma dele e sei que ele pode ler a minha também. Sei que ele é feliz, sei que ele ama isso.

E ele sabe. Ele também sabe.

- Eu sou feliz aqui. - falo dando sorriso, logo pegando o copo da mão dele e dando um gole. Devolvo o copo pra ele que continua me encarando intrigado.

Depois de um tempo vejo ele suavizar sua expressão e dar outro gole no mesmo copo. Ele sorri e olha pros nossos amigos, que agora estão dando risadas e desenhando juntos.

- Eu também cara, eu também.

Ele me entende. Ele vai me entender. Quando tudo acontecer, ele vai entender.

Sinto a mão do Hoteleiro em cima da minha por alguns segundos. Ele acaricia as costas dos meus dedos de leve, e se levanta, indo até nossos amigos e pedindo um lápis. Começa a desenhar em uma folha e para, me olhando, me convidando.

Sorrio.

Eu amo meus amigos.