Will I kiss you

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De cabelo ruivo e camisa azul, lá estava ele correndo descalço pela areia alegremente sendo seguido pelos amigos. Eu o olhei e nunca pensei que uma praia pareceria tão bonita quanto naquele dia com a presença dele. O dia pareceu clarear ainda mais somente por vê-lo. Talvez eu já estivesse apaixonado.

E éramos da mesma sala. Minha primeira semana como intercambista não foi a das melhores, não entendia nada do que me falavam pela minha pobre fluência na língua e ainda mais com o sotaque, mas o modo que ele falava me deixava derretido. Suas bochechas repletas de sardas e o nariz franzido junto com os olhos fechados fortemente em frustração, mas com um sorriso bonito toda vez que eu não entendia e fazia-o repetir tudo que me falava.

Passei os dias de calor passeando pela cidade e pela praia ao seu lado e nunca me senti tão sortudo de ter alguém como ele conversando sobre banalidades e chutando água do mar em mim. Podia ser qualquer pessoa, qualquer amigo que eu fiz, qualquer colega de classe ou qualquer paquera que eu arrumei nas sextas de balada, mas era ele. Eu queria ele comigo.

ㅡ Eu já disse que você é muito bonito? ㅡ perguntei sem vergonha na cara nenhuma com meu pobre inglês e ele riu alto, me encarando fofo depois.

ㅡ Não, mas obrigado. E eu já disse que você é lindo? Adoro seus olhos, a sua pintinha embaixo do olho e seu cabelo grande ㅡ rebateu o elogio ainda mais forte e demorei para assimilar a frase por focar tanto em sua voz gostosa e o sotaque bonito.

ㅡ Não, mas que bom que pensa assim ㅡ devo ter dito errado, pois ele me corrigiu, mas mal me importei, ele me tinha nas mãos quando me olhava daquele jeito.

Tive a sorte de vê-lo bronzeado e vários tons de laranja refletindo em seus cabelos, tom de pele de dar inveja e nos olhos castanhos claro aos sairmos todas as tardes perto do pôr do sol e meu coração parecia querer sair pela boca e pular logo em seus braços. Não aguentava mais e queria muito chamá-lo para sair de verdade. Não como amigos, mas como tudo o que ele quisesse que eu fosse.

Mas ele não parecia pensar assim. Sua ficante, ou o que fosse, estava sempre presente aos fins de semana saindo com a gente por quase dois meses e meu sangue fervia em inveja. Ela tocava aqueles lábios, abraçava-o pelos ombros e recebia aquele sorriso maravilhoso depois de um beijo. Ela fazia tudo o que eu não podia.

Não acreditava que tinha saído do meu país pra passar vontade em outro.

Os dias frios chegaram e mesmo todo empacotado aquele pedaço de mal caminho ficava lindo. De touca, de casaco, de sobretudo, de botas para neve, de casacos de lã, não importava o que vestisse. Já estávamos bem mais próximos e andávamos pelas ruas de braços dados pelo frio e rindo de qualquer besteira ou piada interna e todos nos olhavam estranho, mas eu não me importava e queria mesmo era andar de mãos dadas e sentir seus dedos encaixarem perfeitamente com os meus.

Passávamos pelos mesmos lugares todos os dias, mas a cada dia uma imagem ainda mais bonita dele era gravada em minha memória e às vezes na do meu celular também quando tirava fotos engraçadas e divertidas dele ou nossa. Eu sabia que precisaria depois que fosse embora, de modo algum eu conseguiria ir sem ter um sorriso salvo pra poder ver todos os dias.

Devo ser muito bobo em me apaixonar tão rápido e ainda mais bobo por nutrir isso durante todo o tempo que fiquei lá e já estava quase voltando para Coréia, apaixonado e frustrado, mas foi inevitável. Meu inglês melhorou demais com o curso incluso na faculdade e eu não tinha mais dificuldade, só tinha para entender o sotaque dele. Todos me falavam e eu compreendia rápido até, mas ele parecia falar ainda mais "relaxado" e rápido, embolando as palavras juntas e pronunciando diferente de como eu ouvia diariamente, parecia até fazer de propósito.

ㅡ Não entendi, repete ㅡ pedi pela oitava vez em quase dez minutos de conversa quando voltávamos do curso, andando pelas ruas movimentadas e ele revirou os olhos.

ㅡ Você não entende mesmo o que eu falo ou se faz de idiota pra que eu tenha que repetir? ㅡ perguntou rápido como sempre e minha mente parecia carregar, quase que apenas fiz leitura labial para compreender e minha cara de paisagem deve ter deixado isso claro.

ㅡ Mais ou menos, você fala difícil, tenho qu me esforçar mais pra te entender do que o nosso professor ㅡ dessa vez ele riu e parou de andar, me puxando pela manga do meu casaco grande e ficou sério de repente.

So when you're gonna stop playing fool and will ask me out? Or even kiss me? *

Jurei ter entendido errado e pensei que talvez meu cérebro estivesse me pregando peças. O olhei confuso e vi suas bochechas ganharem um tom avermelhado fraquinho mesmo com o nariz franzido em frustração e estava adorável naquela jaqueta branca e todo encolhido, mas não perdeu a postura de irritadinho e revirou os olhos novamente. ㅡ Esquece.

ㅡ Não, espera ㅡ puxei-o pela mão e a segurei como eu queria há um bom tempo e nos encaramos por alguns segundos até que alguma frase fosse formada na minha cabeça que funcionava à todo vapor. ㅡ I thought that you'd really let me go home with nothing. I will kiss you, sweetie.

>.<

*: "Então quando você vai parar de se fazer de idiota e vai me chamar pra sair, ou talvez me beijar?"

*2: "Eu pensei que realmente iria me deixar ir para casa sem nada. Eu vou te beijar, docinho.  "

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