Um conto inspirado no quadro, Automat (1927), de Edward Hopper.
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Ficaram sem chão, perdidos frente às dificuldades que aquela notícia anunciava.
Se casaram muito jovens, foram os primeiros namorados, ele o dela e vice e versa.
Agora aflitavam a separação. Não, não foi uma escolha.
Desligou o telefone, escorregou as costas pela parede, como escorrem as gotas no vidro, chorou.
Ela se juntou a ele. Era seu pranto também.
Dali em diante não consegui tirar a ideia da cabeça. Sofreu com o iminente.
Naquela tarde, agarrada ao seu corpo, chorou ainda mais. Não se envergonhou frente aqueles estranhos.
- meu amor, fique mais um pouco, por favor, não parta agora, te peço.
Não conseguia largar seu abraço, era doloroso demais para ela.
Tentou poupá-la.
Seus olhos, marejados, represavam o rio de tristeza que corria dentro dele.
Mesmo sabendo que sua hora se aproximava se manteve sereno, a fim de acalmá-la.
Se despediu, por fim.
Embargada a voz, por dentro as palavras o sufocaram.
Sua hora chegou, ele se foi.
Desolada, caminhou pelo saguão.
Solitária, sentou-se. Amarga, nem todo açúcar do mundo adoçaria aquele café.
Agora, restava esperar pelo próximo encontro.
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Espera Amarga Espera
Short StoryUm mini conto inspirado no quadro, Automat (1927), de Edward Hopper.