01 - A Cigana

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   Não havia ninguém pelos corredores àquela hora. Jimin subiu o lance de escadas, as pernas eufóricas e a respiração descompassada. A estranha sensação de estar sendo espionado o deixava inquieto; Seus dedos de enfermeiro estavam trêmulos, alcançando as chaves em seu bolso ele abriu a porta de seu apartamento. Mas mesmo na segurança de seu interior, sua respiração continuava arfante e irregular, como se ele tivesse subido dez lances de escada em vez de dois.

   Pela janela, as luzes da cidade do litoral australiano iluminavam o carpete antigo. Procurando se acalmar, Jimin acendeu a luz amarelada de sua pequena sala e serviu-se de uma bebida. Quem diria que o dia seria tão agitado?! Pensou ele.

   Mirou-se no espelho. A tez clara que possuía naturalmente não era nada igual a palidez estampada em seu rosto naquela noite.

   Já devia ter adivinhado que seu dia seria um desastre assim que chegou para começar seu plantão e as escalas haviam sido trocadas. Em vez de atender seus pacientes habituais, teria de atender a ala de sua amiga Flip, que o esperava no corredor.

   - Fique de olho na paciente três da ala Leste. É uma cigana e está morrendo, coitada. Aquela gente junto dela são os familiares, eles se recusam a deixá-la. - Ela sussurra descompassada, sua voz um timbre inseguro.

   Jimin mirou pelo ombro de Flip e viu as duas laterais do corredor coberto por pessoas de pele morena paradas e o fitando com olhos sombrios, alheio a presença dos enfermeiros. Assim que Flip se retirou, Jimin começou sua ronda pela ala Leste.

   Logo que adentrou a enfermaria três, avistou um homem de cabelos grisalhos e olhos cansados sentado no acolchoado perto da parede. Indiferente a presença de Jimin, ele curvou se sobre os joelhos. A mulher na maca ao seu lado jazia silenciosa, a luz que entrava pela vidraçaria destacava as rugas na pele morena, embora estivesse bem pálida.

   Depois de fechar a cortina entre o homem e o leito da paciente, Jimin se aproximou e segurou o pulso da mulher, que abriu lentamente as pálpebras.

   - Você tem mãos bondosas. - sussurrou.

   - Obrigado. - Sorriu de maneira tranquilizadora para a mulher.

   - Mãos auxiliadoras... - continuou a mulher, com um suspiro trêmulo. - mas mãos necessitadas, mãos que necessitam da profecia.

   Jimin achou que a mulher estava divagando e costumava não dar importância aos murmúrios desconexos de um paciente subconsciente, mas algo naquelas palavras ecoaram em sua mente.

   Achando que sua paciente havia retornado à inconsciência, Jimin arrumou os travesseiros para acomodá-la melhor. Quando ia se afastar do leito, os olhos se abriram de novo.

   - Corra! - A voz da cigana soava fraca e distante, mas era clara.

   - O quê? - perguntou, mas sua voz saiu inaudível. 

   - Corra para as árvores. - ela continuou.

   A súplica e o pânico em sua expressão eram evidentes. Paralisado, Jimin a observou recostar-se nos travesseiros novamente, enquanto ofegava.

   O homem parecia não ter escutado nada, pois sequer se mexeu do outro lado da cortina. Embora Jimin sentisse seu olhar atento assim que abriu novamente a cortina e se retirou.

   Ao sair pelo corredor, Flip o parou.

   - Você está com uma cara horrível. - ela comentou.

   - Estou cansado.

   O cansaço poderia ser o real motivo de estar tão pálido, pensou consigo. Afinal eram tantas emoções ao longo de seu dia de trabalho. 

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⏰ Última atualização: Oct 09, 2020 ⏰

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