Não havia ninguém pelos corredores àquela hora. Jimin subiu o lance de escadas, as pernas eufóricas e a respiração descompassada. A estranha sensação de estar sendo espionado o deixava inquieto; Seus dedos de enfermeiro estavam trêmulos, alcançando as chaves em seu bolso ele abriu a porta de seu apartamento. Mas mesmo na segurança de seu interior, sua respiração continuava arfante e irregular, como se ele tivesse subido dez lances de escada em vez de dois.
Pela janela, as luzes da cidade do litoral australiano iluminavam o carpete antigo. Procurando se acalmar, Jimin acendeu a luz amarelada de sua pequena sala e serviu-se de uma bebida. Quem diria que o dia seria tão agitado?! Pensou ele.
Mirou-se no espelho. A tez clara que possuía naturalmente não era nada igual a palidez estampada em seu rosto naquela noite.
Já devia ter adivinhado que seu dia seria um desastre assim que chegou para começar seu plantão e as escalas haviam sido trocadas. Em vez de atender seus pacientes habituais, teria de atender a ala de sua amiga Flip, que o esperava no corredor.
- Fique de olho na paciente três da ala Leste. É uma cigana e está morrendo, coitada. Aquela gente junto dela são os familiares, eles se recusam a deixá-la. - Ela sussurra descompassada, sua voz um timbre inseguro.
Jimin mirou pelo ombro de Flip e viu as duas laterais do corredor coberto por pessoas de pele morena paradas e o fitando com olhos sombrios, alheio a presença dos enfermeiros. Assim que Flip se retirou, Jimin começou sua ronda pela ala Leste.
Logo que adentrou a enfermaria três, avistou um homem de cabelos grisalhos e olhos cansados sentado no acolchoado perto da parede. Indiferente a presença de Jimin, ele curvou se sobre os joelhos. A mulher na maca ao seu lado jazia silenciosa, a luz que entrava pela vidraçaria destacava as rugas na pele morena, embora estivesse bem pálida.
Depois de fechar a cortina entre o homem e o leito da paciente, Jimin se aproximou e segurou o pulso da mulher, que abriu lentamente as pálpebras.
- Você tem mãos bondosas. - sussurrou.
- Obrigado. - Sorriu de maneira tranquilizadora para a mulher.
- Mãos auxiliadoras... - continuou a mulher, com um suspiro trêmulo. - mas mãos necessitadas, mãos que necessitam da profecia.
Jimin achou que a mulher estava divagando e costumava não dar importância aos murmúrios desconexos de um paciente subconsciente, mas algo naquelas palavras ecoaram em sua mente.
Achando que sua paciente havia retornado à inconsciência, Jimin arrumou os travesseiros para acomodá-la melhor. Quando ia se afastar do leito, os olhos se abriram de novo.
- Corra! - A voz da cigana soava fraca e distante, mas era clara.
- O quê? - perguntou, mas sua voz saiu inaudível.
- Corra para as árvores. - ela continuou.
A súplica e o pânico em sua expressão eram evidentes. Paralisado, Jimin a observou recostar-se nos travesseiros novamente, enquanto ofegava.
O homem parecia não ter escutado nada, pois sequer se mexeu do outro lado da cortina. Embora Jimin sentisse seu olhar atento assim que abriu novamente a cortina e se retirou.
Ao sair pelo corredor, Flip o parou.
- Você está com uma cara horrível. - ela comentou.
- Estou cansado.
O cansaço poderia ser o real motivo de estar tão pálido, pensou consigo. Afinal eram tantas emoções ao longo de seu dia de trabalho.
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A Profecia | Jikook
RomanceAssustado, Jimin apertou o anel que a cigana lhe dera, enquanto andava furtivamente pela casa, tentando não pensar nas estranhas imagens das cartas daquela mulher. De repente, uma silhueta; se destacou das sombras. Era um homem de olhos negros, cujo...