Um dia no parque.

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Por Vitor dos Santos.

1

Era mais um dia de verão, daqueles quentes que você desejaria passar o dia inteiro dentro da geladeira, mas é claro que não poderia, senão seu pai logo viria perguntando se ele é sócio de alguma companhia de energia. Sara, uma garotinha que não tinha mais que 5 anos, estava andando sorridente, lambendo freneticamente seu picolé e indo em direção ao portão do parque enquanto segurava a mão de um homem. Ela usava saia rodada, longas meias brancas, um lacinho cor de rosa na cabeça, Maria- Chiquinhas e sapatinhos melissa. O homem vestia terno, apesar do calor, chapéu coco e esbanjava um belíssimo mustache acima dos lábios. Sara parou à frente do portão e disse com entusiasmo:

- Obrigado por me trazer ao parque, ninguém nunca fez isso por mim. – Abriu um largo sorriso.

- Não se preocupe, estou aqui para conceder suas vontades, não precisa me agradecer.

- Mas por quê? Papai sempre me disse que devemos agradecer e sermos educados.

- Porque estou fazendo isso por você, pode me pedir qualquer coisa hoje, tudo bem? – Ele disse afagando o topo da cabeça de Sara.

- Está bem, então vamos. – Ela não conseguia conter o olhar de felicidade em seu rosto.

O rapaz retirou do bolso esquerdo uma chave com formato peculiar, abriu o portão e indicou para a garotinha entrar. Lá dentro os olhinhos da menina lacrimejavam de felicidade. UAAAAUUUU. Ela pulava de lá para cá, olhava cada canto e não fazia ideia do que queria fazer primeiro. Mas uma coisa chamou atenção.

- Senhor, onda estão os funcionários desse parque? – Um rosto de dúvida apareceu.

- Não há ninguém aqui, apenas eu e você, o parque é todo seu hoje.

- Seeeeeeeeriooooooo?! Que legal!!! Foi o sonho da minha vida inteira! . – Antes de falar a idade, a garotinha contou nos dedos para ter certeza de que não erraria.

- Muito bem, aproveite!

- Você não vem?

- Não, ficarei aqui te observando.

- Vem, por favor, não quero me divertir sozinha.

- Apenas te acompanharei se for um desejo. – Disse demonstrando um olhar de ternura.

- Então é. – Falou com entusiasmo, enfiou o picolé goela abaixo e saiu correndo na frente.

- Pois bem, aonde quer ir primeiro? – Gritou o homem

- No trem fantasma. – Gritou de volta.

O resto do dia foi de extrema diversão. Foram ao trem fantasma e levaram um montão de sustos. Comeram pipoca, cachorro-quente, doces e tomaram refrigerante. Visitaram o carrinho bate-bate, sala dos espelhos e muitas outras atratividades. Por fim, foram na roda gigante. Já estava próximo ao entardecer, ambos estavam lá no topo assistindo aquela vista belíssima. O sol estava se pondo atrás do morro e o céu estava de um alaranjado tão intenso e belo.

- Ei, senhor, muito obrigada, mesmo. – Enxugou algumas lágrimas que caiam dos olhos.

- Não se preocupe, estou aqui por você, já disse isso. – Os olhos entreabertos indicava afeto.

- É que, ninguém nunca fez isso por mim. Mamãe e papai não tinham condições de me trazer até aqui, além de que não gostavam de mim na escola, chamavam-me de pobre e falavam que eu tinha piolhos.

-

- Me deixa ficar só mais um pouco?

- Claro! Mas o que quer fazer?

- Quero ficar aqui, com você, observando o pôr do sol.

- Tudo bem, posso ficar aqui até ele se pôr.

A garotinha agarrou o braço do homem e ambos ficaram ali, nas alturas, observando o sol descer lentamente, sentido a brisa fresca bagunçar os cabelos. Ela gostaria que aquilo durasse eternamente.

- Ei, minha pequena, está na hora de ir, o barco nos aguarda. –Ele disse com um olhar levemente triste.

- Tudo bem, foi muito legal, poderíamos repetir novamente algum dia?

- Claro, porque não?

- A propósito, poderia me dizer o seu nome, você não me falou desde que te encontrei.

- Claro que posso, meu nome é Caronte.

- Que nome bonito, espero que possamos voltar aqui de novo.

- Voltaremos, mas agora é hora de ir.

O homem levou ela até o portão, trancou bem trancado, entrou no barco que se posiciona no rio à frente e partiu em linha reta junto à garotinha.

2

Há um dia atrás, Sara havia morrido de fome após ficar um mês vagando sozinha pelas ruas estreitas e escuras da periferia. Seus pais não tinham condições de manter ela e nem a casa, tanto o pai quanto a mãe morreram por negligência do proprietário, pois sofriam de uma doença desconhecida e foram deixados ao relento de uma sociedade individualista e sem chances de sobrevivência. Sara foi encontrada abraçada com seus sapatinhos melissa, um lacinho e segurando um panfleto que ilustrava a imagem de um parque.



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⏰ Last updated: Oct 04, 2020 ⏰

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UM DIA NO PARQUE| Sir FlautusWhere stories live. Discover now