A janela que mostra a nova realidade

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Meu nome é Julian, e este é meu diário. Aqui irei contar sobre os dias que acompanham o apocalipse.

2020, 3  de outubro.
Sou o tipo de pessoa que não tem família nem namorada, e por isso moro sozinho em um apartamento com dois quartos. Do tipo que passa seus dias em casa jogando e consumindo o entretenimento que a internet oferece, apesar disto sou consideravelmente atlético.
Talvez pelo meu estilo de vida heremita eu tenha demorado pra perceber o que já era realidade pra todos.
Após mais uma noite jogando madrugada adentro, lá estava eu dormindo em plena tarde de sábado. Quando sou surpreendido por uma ligação repentina vinda de um dos meus poucos amigos. Borris, o típico gordo engraçado e cheio de malícia.
Tardei a perceber que naquela vez a malícia e o bom humor rotineiro de Borris não estavam presentes. "Julian?.... Julian, meu deus você realmente está vivo, como você está? Foi ferido? Tem mantimentos? Onde você está?"
Surpreendido pela enxurrada de perguntas falo com se todas as respostas fossem óbvias.
- mano, vc bebeu? Vc sabe q sempre fico em casa, acabei de acordar depois de passar a noite jogando.
De forma incrédula Borris retruca " você realmente não viu o que está acontecendo? Como você.... Melhor, em vez de explicar será melhor se você levantar e ver por si mesmo. Abra a cortina, mas tenha certeza de não fazer nenhum barulho "
Ainda não entendendo o propósito de tais palavras, abri as cortinas de forma vagarosa, os raios do sol invadem através das cortinas. os raios claros acertam meu corpo recém acordado e em um clarão a imagem demora a se formar em minha mente, porém no momento que se torna visível percebo o quão assustador era o que me esperava.
A paisagem horrenda me torna tão incrédulo sobre o que via, como Borris sobre o que ouvira, os carros amontoados e acidentados por todos os lados, os fios de luz arrebentados pela queda dos postes, corpos espalhados e o odor fétido que transpassava pelas janelas.
O medo rapidamente acometeu cada célula de meu corpo e por um breve devaneio de pensamento tropeço no controle de meu videogame. O fio preso ao controle arrasta toda a estrutura do console e em um forte impacto com o solo emite um estrondo.
Borris grita no telefone desesperado
" Julian? O que foi esse barulho ? Merda...daqui a pouco eles vão estar aí "
Ainda assustado e desacreditado da realidade diante de meus olhos e surpreso pela fala de Borris pergunto.
- do que está falando Borris ?
" Você ainda não percebeu a nova realidade então vou te dar um conselho, recolhe toda a comida, água e qualquer coisa que sirva de arma e se esconda. As criaturas já devem estar indo em direção ao seu apartamento. Se esconda e tente achar algum lugar seguro. Eu não posso sair então peço que vc sobreviva sozinho até podermos nos encontrar. O exército está mantendo a luz em alguns pontos da cidade então tente levar seu celular com você"
A fala de Borris é interrompida por uma batida repentina na porta. Parecia que algo estava se batendo contra a porta tentando derruba-la.
Borris então grita em um tom alto o suficiente pra machucar os ouvidos mesmo através do telefone.
" Sai daí agora!!" Ouço vozes ao fundo reclamando para Borris não gritar.
Meu corpo é envolto em adrenalina e inconscientemente pego a perna quebrada de uma das minhas cadeiras. O barulho da porta sendo destruída e os grunidos se tornam audíveis e a figura humanoide dispara em direção a mim. Seu corpo era como o de um humano porém haviam diversas escoriações graves por seu corpo, suas roupas eram sujas e manchadas de sangue. Antes q fosse possível uma análise mais profunda a criatura libera um rugido monstruoso  e pula em meu corpo tentando me morder. Sou instantaneamente derrubado no chão, ele tenta morder meu pescoço ferozmente. Por instinto, posiciono a perna da cadeira na frente e empurro para dentro da boca da criatura. Suas unhas arranham meus braços e sua força não parecia a de um humano normal. Levando meus músculos ao máximo tiro a criatura de cima, rolando-a para o lado e com toda a minha força uso a perna da cadeira contra a cabeça do ser e graças a adrenalina, antes q eu percebesse havia perfurei o crânio do monstro. E mesmo com seu crânio perfurado ele faz seu último movimento arranhando meu antebraço direito.
As palavras de meu amigo viajam em minha mente e meu corpo em disparada se afasta do cadáver. Minha respiração estava pesada, era possível sentir a pulsação do meu coração e o calor do sangue em minhas veias. Não sabia exatamente o que fazer mas sabia que não podia permanecer em minha casa. Quando recuperei a calma, minha experiência nerd me indicava um incidente zumbi ou algo do gênero. Minha casa estava sem luz o que impossibilitava a procura de informações através da internet.
Minha angustia era grande, porém a determinação em busca da sobrevivência me fez mover meus músculos.
Em minha mochila haviam antibióticos, analgésicos, remédios para dormir, meu celular, comida e água para cinco dias, um pouco de fita adesiva e uma lança que improvisei prendendo um cabo de vassoura e uma faca usando a fita adesiva.
Inesperadamente o pequeno aranhão que sofri em meu braço doía mais que qualquer machucado que eu já havia sofrido. Rasguei uma de minhas roupas e improvisei uma bandagem para os cortes em meu antebraço.
Demorei um tempo pra digerir o que estava acontecendo e as 16 horas desse mesmo dia decidi sair de minha casa e procurar por pessoas. O odor podre já havia contaminado toda a casa e quando olhei através do portal de minha antiga porta haviam marcas de sangue que cobriam as paredes. As portas de meus vizinhos quebradas com corpos dilacerados espalhados pelo local. O medo cobriu minha mente. Minha consciência gritava para que eu fugisse, minhas pernas tremiam e meu corpo parecia rígido, mas me agarrei a pequena esperança de encontrar outros sobreviventes.
E essa chama de esperança se acendeu no momento que vi a porta de um de meus vizinhos trancada e com madeiras pregadas na porta. eu então bati na porta e falei.
- alguém está aí? Tem algum sobrevivente? Me responda por favor.
Ouço um barulho de algo se movendo dentro do cômodo. O som se aproxima da porta e ao fundo era possível perceber que se tratava de dois ou mais indivíduos. Meu corpo se enche de adrenalina e com a lança improvisada me preparo para o pior. A porta é destrancada e é possível ouvir algo correndo para longe da porta e uma voz grossa grita do interior.
- abra a porta devagar e com as mãos pra cima!
Mesmo com receio, obedeço as ordens e abro a porta. No momento que piso no interior do cômodo vejo uma mesa derrubada e um homem atrás dela segurando um rifle de caça, a sala era espaçosa porém antes que fosse possível obter outros detalhes do lugar ,um saco é colocado em minha cabeça e meus bracos são segurados. Antes que pudesse reagir meu corpo estava imobilizado no chão.

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⏰ Última atualização: Oct 10, 2020 ⏰

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