One too many.

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É patético, e eu sei que é, mas o que mais eu poderia fazer? Não consigo tirar Gizelly da cabeça, não consigo tirar da mente a imagem de sua perna naquela fenda do vestido, não consigo parar de sentir o gosto de seus lábios aos meus, ou sentir suas mãos em mim. É patético. Mas todos os dias, entro no twitter e leio a Thread em que a menina diz sobre o relacionamento das duas, como um ritual, logo em seguida entro no Instagram de Gizelly para ver se continuo bloqueada, e quando constato que sim, vou atrás do Instagram de Marcela, postando várias fotos das duas dentro da casa, com textos e músicas fofas. O número de curtidas só aumentando a cada dia e elas eram bombardeadas com comentários.

Nesse patético ritual que faço todos os dias ao acordar e todos os dias antes de dormir, descobri que Marcela é praticamente minha vizinha, que ela se diz tão apaixonada por Gizelly, mas que a própria nem ao menos curte as fotos delas, ou comenta algo nelas.

-Um relacionamento à distância é algo muito difícil para lidar. -Manu disse com uma taça de vinho nas mãos, Daniel permanecia esquecido no sofá e Flavina me olhava brava.

-Eu lidaria com a distância de algumas pessoas com facilidade.—Olhei para Daniel e Manu riu cobrindo a boca com a mão. - Sabia que eu consigo sentir você me encarar Caon?

-Rafaella! -Flavina me olhou e seus olhos pareciam facas em minha pele, mas nesses últimos dias eu aprendera a lidar com eles.

-Eu só não entendo.—Voltei a falar ignorando o apelo de Flavina, ou o olhar de Daniel no sofá. -Só não faz sentido ela não ter dito nada sobre isso, ela só disse que estava ali com uma amiga.

-Talvez seja fachada mesmo.- Manu disse dando de ombros, Flavina se engasgou levantando do sofá e indo em direção ao banheiro. -Ela disse tudo aquilo sobre você e logo depois começou a namorar uma menina que claramente não gosta dela?! É óbvio amiga Rafaella.

-Eu sei que é óbvio, mas... machuca, uai.-
Logo levantei da cadeira e me dirigi ao sofá me jogando ali com a taça de vinho nas mãos, Flavina apareceu com o celular, ainda tossindo.

-Rafa você poderia por gentileza deitar a cabeça no Daniel para postarmos uma foto?

-Eu estou sofrendo Flavina.

-Eu sei, mas eu preciso que faça isso e então iremos embora.

-Mas eu não quero. -Resmunguei parecendo uma criança, ao que Flavina com as narinas abertas me puxou pelo braço andando até a ponta da escada, seus dedos me marcavam e eu já podia sentir o vermelho se formando, seu cabelo liso estava preso no alto da cabeça e seus olhos pretos estavam vermelhos. Manu foi pisando na ponta dos pés e esticou a cabeça para a escada afim de ouvir olhando para mim e rindo bisbilhotando.

-Meu Deus, Rafa, eu entendo que você ache que está apaixonada e eu entendo de verdade, mas você me contratou para isso, eu sou parte das suas relações públicas e você precisa me ouvir!

-Calma, ocê 'tá me machucando Flavina.

-Disfarça e desconversa mesmo Rafaella, por favor, me escute!—Ela suspirou soltando meu braço. -Esquece essa menina, ela está com outra agora, foca na sua marca e foca no Daniel, ele é bonito não acha?-Olhei para Daniel sentado no sofá, encarando a televisão, suas tatuagens espalhadas em seus braços fortes, seus olhos pequenos e quase fechados olhando um vídeo, mas aquele cabelo me irritava! Aquele pedaço de topete falso que mais parecia que um gato preto havia deitado de qualquer jeito ali... Mas é, ele poderia ser considerado bonito. Manu já havia voltado para sua cadeira e estava com uma atuação digna de Oscar, não evitando olhar para nós hora ou outra. -Sim, ele pode ser bonito.

-Então Rafa, esquece ela e foca em me ajudar por favor eu preciso disso, sei lá vocês até podem ser amigos ele é um cara bem legal, além do mais, Gizelly já te esqueceu Rafa, e 'tá com cara de quem 'tá bem feliz. -Confesso que ouvir aquilo machucava, mas Flavina estava certa, ao menos uma amizade eu poderia tirar disso, pelo bem da Fla.

New Year's Day. (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora