01: every story has a new beginning.

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Parte um: aquilo que é perfeitamente imperfeito

"A contemplação do perfeito indica a pequenez e imperfeição viés do ser humano.

O vislumbre sobre coisas terrenas, almejadas; estampam no rosto frio o desejo por alcançar sua admiração instantânea.

Quando o coração se apertar e os olhos dilatarem com tamanha contemplação,
aceite que o que vê é perfeito e longe de qualquer entendimento.

Nossos objetos de contemplação preferidos são algo não tão semelhante à nós.
São sempre um retrato daquilo que gostaríamos de ser: perfeitos.

Eu limpei minhas lentes de contato, mas o azul do seu tênis continua brilhando em meus olhos."

‧₊˚✩彡

O ESCRITOR PAROU, respirou fundo e tomou a liberdade de abandonar o rascunho inacabado para admirar a movimentada Seul que dominava a descrição de seus textos pela janela embaçada da cafeteria preferida. As calçadas só faltavam borbulhar em água quente pelo verão escaldante; os residentes, suplicar misericórdia pelo clima abafadiço. Changbin amava a calmaria situada ali, sempre o abraçando com curiosa brisa sutil, ainda que a estação predominante fosse realmente difícil de se desviar por completo.

Ser um escritor famoso e com um prazo de entrega relativamente curto poderia não ser sua maior angústia no momento, não quando comparada ao bloqueio criativo que o acometeu em horas erradas. Se o tivesse pegado à meia-noite, enquanto escrevia textos sobre as estrelas, tudo bem. Mas ele levava seu trabalho muito à sério, sua responsabilidade mais ainda. Suspirar involuntariamente para o vidro entente era tudo o que poderia fazer, até que encontrou um objeto mais cativante à sua espera.

Ele não soube desde quando passou a se admirar do rapaz capturado pelos seus olhos por minutos conseguintes, mas sabia que gostaria de conhecê-lo mais a fundo. Inicialmente, admirou-se do seu lindo par de tênis azuis, que pincelou com tinta vibrante a calçada acinzentada. Mas, com o tempo, passou a se sentir mais cativado pela imagem estranha que, curiosamente, mudava as batidas regulares do seu coração para um espetáculo desordenado.

─ Com licença, a cafeteria está bem cheia hoje. O senhor se importaria de dividir a mesa com outra pessoa? ─ perguntou Kim Seungmin, um dos funcionários mais educados e sorridentes dali.

─ Não, não me importo.

Assim que se despediu da companhia efêmera porém aconchegante do atendente e retomou a imagem da calçada movimentada, notou que seu objeto de contemplação não estava mais ali. Frustrado, ele se atentou ao movimento incessante da cafeteria. Inúmeras pessoas se situavam ali, umas sozinhas, outras acompanhadas mas ainda assim terrivelmente sozinhas ao mesmo tempo. Changbin se manteve disperso no nada até que uma voz de frequência relativamente baixa o trouxe de volta à realidade como a brisa taciturna da manhã contra os ouvidos por ora adormecidos.

─ Posso me sentar aqui? ─ O rapaz perguntou, com certa timidez. Suas bochechas coradas pareciam refletir o calor do ambiente e as sardas o brilho da própria estrela lá fora.

Changbin sentiu como se todo o seu corpo tivesse travado naquele momento, até mesmo sua língua; já dormente. Estava desacreditado demais diante de um evento tão coincidente, para não chamar tamanha coincidência de destino. As palavras lhe faltaram, embora fizessem parte do seu cotidiano e usasse inúmeras delas a cada evento mais trivial.

written in the stars ★ changlixOnde histórias criam vida. Descubra agora