Capítulo 1

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Natacha

Olho ansiosa pela janela vendo se consigo a encontrar com os olhos, mas não a vejo. Me olho no espelho arrumando meu vestido de flores e meus cabelos cacheados, assim que eu conseguir um emprego e ganhar meu salário quero fazer uma hidratação para modelar os cachos e ele ficar mais bonito e brilhante.
Ouço alguém bater na porta e Rose entra com um sorriso nos lábios, mas seu olhar estava triste, de todos do orfanato ela foi a que mais esteve presente na questão de dar carinho e conversar.

— Nem acredito que esse dia já chegou! Você está feliz, minha querida? — nos sentamos na minha cama, ela pega minhas mãos.

— Sim, mas vou sentir muito a sua falta, eu não sei como é o amor de mãe, mas quando eu tiver um filho pretendo cuidar dele igual você cuidou de mim e da minha irmã, porque acredito que as mães cuidam dos filhos dessa forma — a abraço, bem forte.

— Você promete que vai vir aqui me visitar sempre que puder?

— Sim, sempre, eu e a Beatrice — sorrio.

— Parece que ouvi meu nome — minha irmã entrou no quarto, Beatrice tem os cabelos cacheados também, mas os dela são escuros, maiores e mais grossos que os meus.

— Você demorou — falo depois de abraça-la.

— Aconteceu uns contra-tempos, mas está tudo certo. Vamos? — passou a mão nos meus cabelos.

— Sim, vamos — penduro minha mochila nas costas.

Nos despedimos de Rose e saímos do orfanato. Aqui foi aonde eu cresci e vivi uma boa parte da minha vida, aprendi e errei, mas agora chegou o momento de enfrentar a vida real e sei que ao lado de Beatrice vou estar segura.

— Por que você está com essa mochila? No lugar onde mora não pode deixar os nossos pertences? — pergunto à minha irmã enquanto andamos pela calçada.

— Não estou morando mais no apartamento, fui despejada ontem e por isso me atrasei para lhe buscar.

— E vamos morar aonde?

— Hoje vamos passar a noite na casa da avó do Ethan, mas amanhã nós temos que encontrar uma vaga em algum abrigo até conseguirmos um emprego e pagar um lugar para morar — responde.

— Mas a gente não pode morar com eles?

— Claro que não, Natacha! A dona Carmem não tem obrigação nenhuma de cuidar da gente, ela já tem o Ethan.

— Você não falou porque vamos dormir lá hoje? — passamos a rua.

— Ela disse que era para nós passarmos a noite lá porque vamos festejar a sua saída do orfanato e vê se fica com essa boca fechada, ok? — concordo com a cabeça.

Beatrice desde pequena é responsável e muito direta nas suas coisas, admiro isso nela. Batemos na porta da casa da avó do Ethan e ela abre, nos recebendo com um abraço bem apertado, meu irmão estava mais atrás nos observando.

— Oi, Ethan — me aproximo dele.

— Oi, Natacha — sorri de lado.

— Por que você está com essa cara? Não está feliz por me ver aqui na sua casa? — franzo a testa.

— Sim, estou, mas eu queria que você e Beatrice morasse aqui comigo e com a minha avó — ele parecia esperançoso.

— Não vai rolar, pirralho, mas a gente vem sempre lhe visitar — Beatrice fala por mim.

— Você é uma chata, Beatrice — revirou os olhos.

— Não brigue, crianças, venham para a cozinha, vovó Carmem tem uma surpresa — sorriu e fomos para lá onde vimos um bolo lindo de aniversário, meus olhos com certeza brilharam.

— Que lindo! — minha boca até salivou.

— Fiquei sabendo que alguém fez aniversário esses dias e quis fazer um bolo para comemorar.

— A senhora sabia que era o meu sonho ganhar um bolo de aniversário?

— Sim, alguém comentou comigo — ela olha disfarçadamente para meus irmãos.

— Muito obrigada! — dou um beijo em sua bochecha.

— Faça um pedido antes de apagar as velas, ok? — balanço a cabeça assentindo.

Fecho os olhos pedindo que Deus coloque pessoas boas em nossos caminhos e que Beatrice e eu consiga um emprego para alugarmos um lugar para morar, agradeço também por tudo que já recebemos até hoje. O bolo estava delicioso. Ethan nos contou que está estudando em uma escola particular onde conseguiu uma bolsa de estudos, dona Carmem não tirou o sorriso orgulhoso em nenhum momento do rosto.

— Você ainda o tem? — pego o meu ursinho na cama do meu irmão.

— Sim, ele era a única lembrança que eu tinha de vocês — se sentou ao meu lado.

— Como é na escola? No orfanato nós já tínhamos os próprios professores e as crianças eram as mesmas.

— É legal a escola, mesmo a maioria dos alunos sendo uns metidos, mas alguns se salvam.

— Você já fez amigos? — assente.

— Um na verdade, o Lorenzo, mas a gente brigou.

— Por quê?

— Eu comentei que estava juntando dinheiro para comprar um celular e ontem ele apareceu com um aparelho novinho e do modelo mais moderno, dizendo que meu aniversário está chegando e que eu merecia ganhar um bom presente, e o dinheiro que estava guardando eu poderia usar em outra coisa.

— E o que tem de errado nisso? Ele é seu amigo e quis ser gentil ao lhe presentear.

— Não, ele quis se exibir por ter dinheiro. Lorenzo é filho de Jean Beaumont, um dos homens mais ricos de Paris e dono de umas das melhores empresas de perfumaria daqui.

— Isso não quer dizer nada! Ele por acaso fica falando o quão rico é? Fala da casa gigante que deve ter? Ou dos carros e apartamentos que vai ter quando ficar de maior?

— Não, Lorenzo não liga muito para coisas materias.

— Na minha opinião ele não lhe deu um celular de presente para mostrar que pode comprar, mas ele pensou que você pode usar o dinheiro que está guardando para outra coisa e deveria o agradecer por ser um bom amigo.

— Talvez eu converse com ele amanhã sobre isso — fala por fim.

Poucos dias antes da Beatrice sair do orfanato, há dois anos atrás, eu fiz ela prometer que ia procurar o nosso irmão e que quando o encontrasse iria contar que não o abandonamos e sim, pensamos no melhor para ele naquele momento, por sorte dona Carmem continuou morando na mesma casa e assim foi mais fácil.

•°•°•°•°•

Nós saímos cedo da casa da dona Carmem e andamos pela cidade entregando os currículos da Beatrice, ela só trabalhou de auxiliar de limpeza e em muitos lugares vimos que estão precisando de pessoas para trabalhar, mas todos exigem cursos que ainda não temos.
Agora nós estamos procurando um lugar para passar a noite, já fomos em mais de três abrigos.

— Por que a gente não volta pra casa da vó do Ethan? — ela para de andar e me olha.

— Eu não vou repetir mais, Natacha! Nós duas temos que nos virar sozinhas porque não vamos ter uma pessoa ao lado sempre que precisarmos, ok? Não podemos ser dependentes!

— Tudo bem — suspiro.

— Este é o último abrigo que eu conheço, se não tiver vagas, nós vamos precisar encontrar um lugar seguro para passar a noite. Fique atenta! — assinto e ela entra no lugar que mais parece um prédio velho.

A noite já estava chegando e o medo de ficar sozinha nesse lugar estranho aumentou. Me viro olhando o movimento quando sinto uma mão segurando meu braço, penso ser Beatrice, mas quando me viro me deparo com um homem horrível carregando uma garrafa de bebida, eu grito por socorro, mas ele me arrasta para um beco escuro e sujo, continuo gritando por ajuda, mas parece ser em vão.

Vidas Cruzadas | Spin-off Trilogia AmoresOnde histórias criam vida. Descubra agora