CAPÍTULO 6

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ayla

— Você e o Thales ainda estão brigados? — meu pai pergunta enquanto tenta encher mais uma bexiga, a sala está lotada delas e mesmo que eu tenha dito para ele que odeio bexigas e principalmente cor de rosa, ele continua as enchendo como se fosse a coisa mais importante do mundo.
Faz quase um mês desde que eu e Thales tivemos aquela discussão e as coisas estão esquisitas entre nós,  ele ainda frequenta a escola, mesmo que ele sequer abra os cadernos e seja sempre o primeiro a sair quando as aulas acabam. Ele continua jogando bola no campinho e eu continuo vendo ele fazer seus dribles e passes mágicos, e eu continuo vendo-o, não porque eu esteja lá para isso, mas depois do segundo fim de semana, Duda disse que é injusto que eu deixe de ir só porque estou brigada com Thales, que ele também é meu amigo.
O problema é que não estamos brigados.
Ele apenas não fala comigo, nem ao menos olha para mim, na escola ele desvia quando passa por mim, evita ficar no mesmo lugar e todas as vezes que tentei falar com ele, ele simplesmente disse “agora não Ayla”. Sinto como se Thales estivesse brigado com o mundo, sua cara feia parece ter se tornado permanente, os olhos sempre injetados de raiva, ainda mais calado do que o normal, como se ele estivesse desconectando-se da sua humanidade. Já não enxergo mais meu amigo nos olhos do rapaz que vejo todos os dias e tenho medo de que eu nunca mais o encontre.
— Não. — respondo, sentindo o nó em minha garganta que sempre se forma quando penso nele.
— Tem certeza filha? — ele pergunta mais uma vez e mesmo que se esforce para parecer casual eu sei que está tentando descobrir algo que nem mesmo eu consigo entender.
— Eu acho que saberia se tivesse brigado com ele. — respondo e só quando meu pai ergue os olhos noto que fui grosseira, ele não tem culpa se Thales é um babaca. — Desculpa pai é que... é complicado. — admito e ele assente.
O barulho das bexigas se mexendo dentro da pequena sala começa a me incomodar, me sinto exatamente assim, com tantos sentimentos e dúvidas dentro de mim que tenho a sensação de que a qualquer momento, no mais simples toque, vou explodir.
— Filha. — ele coloca a bexiga sobre as outras e se aproxima, abaixando-se para poder olhar em meus olhos como sempre fez quando eu era criança. — Você sabe que pode sempre conversar comigo, não é?
Balanço a cabeça confirmando que sim, mas não consigo falar, tenho a sensação de que vou começar a chorar e por algum motivo me sinto envergonhada de chorar por um garoto na frente do meu pai, mesmo que esse garoto seja Thales.
O fato é que sinto a falta dele, de ficar ao seu lado em silêncio enquanto ouvimos Duda falar alguma coisa sem importância, sinto falta de caminhar ao seu lado, de ler enquanto ele tenta me desconcentrar brincando com minhas pulseiras ou rindo de algo que os personagens fizeram, sinto falta do seu mal humor, de ouvir ele bufar enquanto tenta sem sucesso fazer a lição. Sinto falta dele. De nossa amizade. De nós.
Ele está sumindo, bem na minha frente e cabe a mim, como sua amiga, fazer algo para ajuda-lo, então respiro fundo criando coragem para dizer em voz alta aquilo que me apavora, como se nesse momento, as palavras deixassem de ser apenas palavras e passassem a ser algo real.
— Eu acho que Thales está correndo perigo. — encaro a bexiga em minhas mãos enquanto falo, o silêncio a nossa volta fazendo a frase parecer como uma sentença de morte.
— Porque você acha isso? — meu pai pergunta com cautela.
— Na última vez que nos falamos ele tinha hematomas horríveis no rosto e quando eu perguntei ele não quis responder.
— Foi por isso que vocês brigaram? — ele pergunta e balanço a cabeça, desistindo de mentir para mim mesma, sim, nós brigamos, ou ele brigou, tanto faz.
— Eu conheço o Thales pai, ele não vai falar, porque ele é orgulhoso demais para admitir que está apanhando.
— Isso é uma acusação grave, Ayla.
— Semana passada ele tinha um novo hematoma no olho e disse ao professor que foi jogando bola, mas eu sei que não foi, eu o vi jogando e ele não se machucou.
— Ele pode ter se machucado em uma briga na rua.
— Mas não foi, eu sei.
— Como você sabe?
— É que, as vezes eu... — me sinto envergonhada em admitir que bisbilhoto a vida do meu vizinho, mas sei que é importante. — Eu ouço as brigas.
— Famílias brigam filha.
— Não como a do Thales pai. — continuo e ele respira fundo, como se fosse algo difícil de aceitar. — Ele age como se fosse um adulto, mas ele não é e parece que ninguém se importa, mas eu me importo porque eu gosto dele, Thales é meu melhor amigo e me dói ver ele se isolando cada vez mais. Eu já não consigo mais alcança-lo.
Meu pai me observa por um minuto ou talvez tenha sido uma hora, não tenho certeza, não consigo pensar, apenas ouço o barulho do meu coração que bate pesado no meu peito e reverbera em meus ouvidos enquanto me dou conta de como está cada dia mais fácil para mim admitir que gosto dele.
— Alguém mais sabe disso?
— O Duda. Por ele a gente já tinha chamado a polícia, mas eu tenho medo de prejudicar o Thales.
— Vocês fizeram bem, é preciso ter certeza, como disse, é uma acusação muito grave. O padrasto do Thales não é alguém com quem se queira arrumar confusão e se o conselho tutelar bater na sua porta com certeza teremos problemas. Isso é um assunto para adultos resolverem.
Ele passa um braço por meu ombro me puxando para perto de si em um abraço que não me conforta. Não sou eu quem precisa ser amparada, é Thales e nesse momento sequer sei onde ele está.
— O senhor acha que devemos fingir que não estamos vendo?
— Não, eu não disse isso, eu disse que precisamos agir com cautela.
— Promete que vai fazer algo pai? — imploro sentindo uma pontada de esperança surgir em meu peito.
— Prometo que vou pensar em algo.
— Eu estou preocupada com ele.
— Eu também estou filha, mas infelizmente não podemos agir com o coração, as vezes ele nos leva por caminhos perigosos.
— Não é justo ele bater no Thales.
— Claro que não, ninguém tem esse direito.
— O Thales não é mais o mesmo e sinto a falta dele.
— Também sinto falta de ver vocês juntos, gosto daquele garoto.
— Eu estou com medo.
— Vocês são amigos a muito tempo, é natural que se preocupe.
— Eu quero ele de volta.
— Eu sei filha. — ele beija meus cabelos e me aperta um pouco mais, ficamos um momento e silêncio olhando o mar de bexigas cor de rosa que nada tem a ver comigo. — Sabe Ayla, eu sempre achei que sua mãe estaria aqui para conversar com você no momento certo, para ouvir suas coisas sobre os meninos e tudo o que eu tinha que fazer era vestir minha capa de machão e afasta-los daqui, mas infelizmente ela não está e não posso ser apenas aquele que afasta os garotos, porque no fundo eu sei que isso não existe, eles virão, eu sabia disso, mas estou feliz que seja o Thales, ele é um bom menino.
Sinto um alivio em meu peito a medida que ouço o que ele diz, suas palavras acalmam meu coração e enrosco meus braços em seu pescoço puxando-o para um abraço.
— Eu te amo. — sussurro em seu ouvido e ele beija minha bochecha.
— Eu também te amo filha. Por favor, só não faça nenhuma bobagem.
— Eu não farei.
— Meninos são um pouco mais lentos que meninas, tenha paciência com ele, tenho certeza que ele também sente a sua falta. — meu pai o defende.
— Eu só quero meu amigo de volta. — deito a cabeça em seu ombro e encaro as bexigas no meio da sala. — Era para ele estar aqui enchendo essas bexigas também.
Meu pai sorri e beija minha testa carinhosamente.
— Dê tempo ao garoto, quando estiver pronto ele vai voltar a falar com você.
Os gêmeos escolhem esse momento para entrarem na sala como um furacão e estourar algumas bexigas cortando o momento revelador e fazendo meu pai gritar com eles por terem destruído o trabalho de uma manhã inteira.
Faço um agradecimento silencioso aos meninos, nunca amei tanto o fato de ter dois pestinhas como irmãos do que nesse instante. Já não sou mais criança, meu pai já deveria ter percebido isso, mas acho que para ele sempre serei a garotinha cercada de cor de rosa. Mesmo que já esteja sofrendo com o meu coração partido.
Olho pela janela para a casa do outro lado da rua e desejo que meu pai esteja certo e que Thales volte para mim.

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Olá pessoal!!!

Uma das maiores dificuldades entre as crianças e adolescentes que sofrem abuso, é  contar para alguém,  mesmo que seja para a melhor amiga. As palavras podem ser mais dolorosas que os punhos e a vergonha mais assustadora que tudo.
Nessas horas a melhor coisa a se fazer é observar, analisar a situação e sempre comunicar os adultos, pois eles saberão qual a melhor atitude a ser tomada.

Agora só nos resta esperar...

Quem me acompanha sabe que sempre que atingimos algumas metas eu solto capítulos extras, e como chegamos as 2 mil leituras, aqui está o nosso capítulo,  espero que hostem e que não demore muito para que o próximo extra seja postado.

Próxima meta 4 mil leituras ♡♡♡

Votem, comentem e até sexta.
Beijos!!!

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