16. Insubordinação

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Onyx está terminando de vestir a roupa de proteção enquanto Ruth observa a porta. Ela olha em volta e faz sinal para Onyx. Elas saem da Enfermaria e seguem pelo corredor, Ruth sempre olhando ao redor.

- Se a capitã nos ver... - sussurra Onyx.

- Não me importo se ela ver você depois que estiver lá dentro. Eu assumo a responsabilidade. - diz Ruth.

Estão seguindo na direção do Laboratório quando Tomas vira o corredor, vindo na direção delas. Ele vem da Navegação.

- O que está fazendo? - pergunta para Onyx.

- Eu vou entrar lá para fazer o meu trabalho. - responde ela.

Tomas a segura pelo pulso:

- Onyx, é perigoso!

Onyx puxa o braço de volta e o encara. Não diz nada e continua pelo corredor. Ruth acena para Tomas com a cabeça e dá passos rápidos atrás de Onyx. Ela teme quando se aproximam do Laboratório e Hugo olha para elas, primeiro confuso, mas depois a confusão some.

- Se vão fazer isso, façam de uma vez. - ele diz. Ruth se aproxima e levanta o crachá. Olha para Onyx, que assente. Hugo olha em volta. Ruth passa o crachá e as portas se abrem.



As luzes do Laboratório se acendem, dando forma e sombras às centenas de cápsulas humanas, organizadas e escuras. No chão, bem em frente à porta, está o macacão laranja de proteção, num contraste forte contra o branco das paredes. Onyx olha para ele, caído com o rosto voltado para o chão, inerte. As portas se fecham atrás dela.

Onyx engole em seco. Primeiro ela vai até a bancada de Lucas, e observa sem tocar em nada. A caixa de vidro está vazia, não há nenhum material biológico que estava sendo estudado, o que era estranho. Se Lucas se infectara por acidente, o que quer que seja deveria estar por ali, ao ar livre.

Por não ter encontrado nada, ela caminha na direção dele. Seus passos ecoam, indo e vindo na imensidão do lugar. Se abaixa e, gentilmente, vira o corpo de Lucas.

 - Oh, meu Deus... - seus olhos enchem de lágrimas enquanto se afasta um pouco.

O que deveria ser o visor de Lucas é uma mancha alaranjada, uma cobertura de uma espécie de fungo; Onyx nunca vira nada como aquilo. Ela se estica até um ponto do visor onde não há o fungo, conseguindo ver parte do rosto do cientista, ou o que havia sobrado do rosto dele. A face completamente desfigurada tinha partes em osso puro, sangue e carne à mostras já que grande parte da pele havia derretido. Era como se em poucas horas seu corpo tivesse chegado à um estado avançado de decomposição... Mas ao mesmo tempo não estava terminado. Ela conseguia ver o fungo crescendo, lentamente agora, mas avançando.

Onyx olha ao redor, para o chão completamente limpo. A roupa de Lucas não está suja. Tudo está contido no corpo dele.

 - O que quer que seja... Não se espalha. - sussurra.

E então ela vê. Pequeno, porém visível, um pequeno furo, minúsculo. E quando vê o primeiro, ela rapidamente encontra outro, em outro ponto da roupa; e logo mais um.



Sara olha para o espelho à sua frente, tamborila os dedos na pia. Seus olhos têm pequenos espasmos, sua boca treme. Ela liga a torneira, deixando a água molhar as mãos. Abaixa o rosto e o molha com a água, antes de novamente fitar o espelho. Então ela vê: o rosto desfigurado de Lucas, a pele derretendo, o desespero no olhar, a boca aberta num grito silencioso como o próprio espaço. "O que você fez??", a pergunta de Wilson ecoa em sua mente.

Sara grita e dá vários passos para trás. As lágrimas lhe vêm aos olhos.

 - Não, não, não... - sussurra, enquanto se abaixa, dobrando o corpo em si mesma, se encolhendo.

Sol sobre a cama, o braço estendido. A seringa caída no chão. Sol congelada dentro da cápsula de dormir.

Sara respira fundo, se acalmando. Levanta o rosto.

Não demora para que ela caminhe pelos corredores, seguindo para a Enfermaria. Ela precisa de um remédio, algo que a ajude a conter os próprios nervos; mesmo que seja o sonífero que matou Sol.

Quando está chegando à Enfermaria, é interceptada por Ruth.

 - Capitã? Pode me acompanhar até a Administração, tenho algo importante...

 - Agora não, Ruth.

 - Mas Capitã, eu...

Sara desvia de Ruth, seguindo seu caminho. Seus passos balançam um pouco. Ela chega à Enfermaria mas Onyx não está lá. Olha ao redor. Ruth está parada, olhando para ela com uma expressão assustada.

 - O que você fez? - pergunta Sara.

Ruth não responde. Sara sai correndo pelos corredores, seguindo na direção do Laboratório. Hugo a vê se aproximando e se coloca em seu caminho:

 - Capitã, espera...

 - SAI! - grita Sara, batendo nos braços dele.

As portas se abrem e Onyx sai. Hugo abaixa os braços, virando para ela. Sara dá um passo para trás, temerosa.

 - Ele foi assassinado. - diz Onyx, por trás do visor. - Lucas foi assassinado.

A visão de Sara se turva e ela cai, enquanto o mundo escurece ao seu redor.

[RECADO DO AUTOR: Passando rapidinho pra pedir: vamos votar e comentar, pessoas, pra dar engajamento, please please]

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