Capítulo 1

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     Ao primeiro toque do despertador, já levanto apressada, parece que estou sempre ligada no 220v. A verdade é que a rotina de ser mãe solteira e administradora, não é nada fácil. Eu tenho todo um cronograma todos os dias, e se algo sai diferente do que foi planejado, já me atraso e meu dia vira uma confusão. Vou em direção ao banheiro e começo a tomar meu banho para me arrumar para mais um dia, e só após estar arrumada, é que vou acordar Luquinha.

Luquinha, é meu filho de 6 anos, e todos os dias preciso acordá-lo um pouco antes do horário, porque sei toda a dificuldade que ele tem para acordar cedo, então, é todo um processo, um tanto, quanto lento. Assim, todo dia de manhã ao acordá-lo, espero ele completar seus 3 estágios. Você deve estar se perguntando: estágio? Como assim estágio?

Pois bem, vou até ao quarto de Luquinha e começo a acordá-lo.

- Luquinha, meu amor, acorda já está na hora - digo de modo paciente, porque já sei como ele é todas as manhãs.

- Não, mãe, está cedo. Me deixa dormir mais um pouco, não está na hora ainda - responde ele de modo sonolento. (E esse é o estágio um, a negação).

- Meu filho, se estou te chamando é porque não está cedo, está no horário de você levantar.

- Não mãe, me deixa dormir.

Respiro fundo, para ter paciência, porque conheço meu filho e sei que essa é a rotina de todas as manhãs.

-Levanta Luquinha, para não nos atrasarmos - Continuo insistindo.

-Não mãe, eu não vou para a escola hoje, eu não quero ir, eu não gosto da escola- diz que ele choramingando. (E esse é o segundo estágio, a birra).

Suspiro novamente, e ele sabe que a minha paciência está começando a querer me deixar.

-Luquinha, levanta logo, antes que eu comece a me aborrecer de verdade - digo em um tom mais sério.

- Tá bom, vou levantar - diz ele, secando as lágrimas que nem se quer existem em seus olhos. (E finalmente, esse é o terceiro e último estágio, a aceitação).

E esse é só o início da minha rotina de todas as manhãs.

Enquanto ele está no banho, estou preparando seu café, e já pensando nas coisas que tenho que fazer na loja hoje. Tenho uma loja de perfumes nacionais e importados, não fica muito longe da minha casa, mas preciso deixar Luquinha na creche e em seguida ir para a loja.

- Bom dia, mamãe - diz Luquinha saindo do banheiro

Sim, ele só acordou de verdade agora.

- Bom dia, meu filho. Toma seu café, para sairmos, e depois pegue sua escova para eu pentear seus cabelos

- Tá bom.

Luquinha toma seu café, eu penteio seus cabelos, e saímos de casa para nossas tarefas do dia.

Estamos andando em direção onde deixo meu carro estacionado, quando encontramos D. Rosa, a minha querida vizinha fofoqueira, que está mais interessada em minha vida do que eu mesma.

- Bom dia, D. Rosa. Como a senhora está? Cumprimento de maneira educada.

- Oi, minha querida, eu estou bem e você? Vi um rapaz bonito, parando de carro no seu portão esses dias. É seu namorado? Pergunta ela de maneira inconveniente.

Fico parada um tempo, tentando entender de que rapaz D. Rosa está se referindo. Afinal, não lembro quando foi a última vez que tive um encontro. Na verdade desde que Fernando, meu ex marido, me deixou, eu só tive dois encontros, e isso em um período de 4 anos.

Mas, voltando a minha vizinha fofoqueira... ela está parada na minha frente, me encarando, esperando minha resposta, para em seguida espalhar para o bairro todo. É quando finalmente me dou conta de quem D. Rosa, está se referindo, e tenho que me controlar para não revirar os olhos. O rapaz bonito, que ela mencionou, é o motorista do Uber, que tive que chamar esses dias, quando meu carro deu problema. Não sei se choro porque não tenho um encontro a muito tempo, ou se acho graça da situação, afinal li em algum lugar, que o segredo da vida é saber dar risada dos próprios problemas.

- Não sei de quem a senhora está falando D. Rosa, a senhora não deve ter enxergado direito, ou me confundiu com outra pessoa, as vezes acontece né?

Respondo, com um sorriso amigável, e sei que agora a deixei mais curiosa ainda, e tenho vontade de rir por causa disso. Nada mais engraçado, do que deixar um fofoqueiro, intrigado e sem respostas. Mas, não vou dar satisfações da minha vida pessoal para minha vizinha enxerida.

-Hum, claro, deve ter sido isso - responde ela de maneira desconsertada.

- Bom, deixa eu me apressar, para não chegar atrasada. Até mais D. Rosa.

Saio deixando minha vizinha para trás, para não correr risco de render assunto.

Estou a cinco passos do meu carro, quando perco o equilíbrio e quase caio de cara no chão.

-Puta que pariu, meu salto quebrou.

- O que disse mamãe?

Ai, droga, achei que tinha apenas pensado, e não xingado em voz alta. Evito ao máximo, xingar perto de Luquinha, ele está naquela fase "papagaio" em que tudo que escuta repete, e eu não quero dar mal exemplo. Já que sempre brigo com ele, dizendo que não pode falar palavrão.

-Nada filho. Eu disse, quase que caí, porque meu salto quebrou.

Ele me olha e olha para os meus pés tentando entender o que aconteceu. Contenho minha irritação e a vontade de falar outro palavrão. Não acredito que meu salto quebrou. Vou arrastando meus pés até o carro, pois sempre deixo um chinelo dentro ali dentro, para os momentos de emergência, tipo o que está acontecendo agora.

Entro no carro, e sigo para a creche de Luquinha.

- Chegamos filho, comporte-se e tenha um bom dia. Obedeça sua professora - digo a ele.

- Eu sempre me comporto mãe - responde ele, me dando um beijo de despedida.

Sigo em direção a minha loja. Aproveito o caminho para pensar sobre a minha vida amorosa, ou a falta dela, na verdade.


A essência do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora