Capítulo Único

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Siwon suspirou pela décima vez em menos de meia hora. Sentado de frente para a janela de seu escritório no décimo quinto andar do prédio, o rapaz encarava a vista à sua frente sem perceber nada. Para ele, não havia nenhum sol poente, com a luz alaranjada refletindo no vidro do prédio ao lado, diluindo os raios solares em pequenos espectros de luz, invadindo a sua sala, iluminando as paredes claras de uma forma praticamente poética. Para ele, não havia as nuvens brancas absorvendo a cor do céu, numa ostentação de cores e formatos que poderiam deixar qualquer pessoa encantada por horas. Siwon estava alheio à todas as mudanças de tons no horizonte, toda pequena nuance do azul claro para o rosa. Do rosa para o roxo. Do roxo para o azul escuro.

Ele não viu, lentamente, as luzes da cidade acendendo, criando um novo cenário à sua frente, completamente diferente do que ele estava encarando há poucos minutos. Não percebeu quando seu escritório foi mergulhado no mais completo escuro, apenas uma pequena luz no canto da sala iluminando um quadrado minúsculo dos 40m² que ele ocupava.

Mas tudo aquilo parecia ser banal e sem propósito. Tudo aquilo era apenas um mero supérfluo em sua mente. Ele tinha problemas maiores para lidar do que a repentina caída da noite, problemas que estavam o deixando sem dormir há três noites, problemas que ele nunca achou que teria quando embarcou no novo projeto de sua empresa. Projeto este que ele não imaginava o motivo de ter que participar quando ele tinha funcionários exatamente para isso, mas ele era o CEO, o dono, o mandachuva da Choi Enterprises e, é claro, se ele quisesse saber tudo o que estava acontecendo de maneira integral naquela nova empreitada, ele teria de estar 100% imerso em todas as etapas. Siwon apenas não sabia que isso implicaria em um novo rumo em sua própria vida.

Uma pequena batida em sua porta o trouxe de volta à realidade. Siwon suspirou mais uma vez, revirando os olhos dessa vez - ele não sabia como tinha se deixado divagar por tanto tempo - e levantou-se de sua cadeira, o corpo esticando-se completamente depois do que pareciam ser horas, suas costas protestando contra a posição em que havia ficado. Choi Siwon não era nenhum velho, mas precisava se lembrar de que já não tinha mais seus 20 anos e que a cadeira, ergonometricamente feita para ele, tinha um propósito além de decorativa no escritório.
Outra batida foi ouvida e, dessa vez, a porta abriu-se um pouco, com cuidado, quase como se estivesse sendo testada, e do lado de fora surgiu uma cabeça com um sorriso cuidadoso no rosto, como se estivesse fazendo alguma coisa errada ao estar invadindo a sala.

Choi soltou a respiração, acenando para que a pessoa entrasse e, nem um segundo mais tarde, o restante do corpo emergiu para dentro de seu escritório, o salto do sapato batendo contra o piso amadeirado, conectado à um par de pernas divinamente evidenciadas pela saia lápis azul marinho, agarrando-se e dando à forma e toda extensão dos quadris que se moviam de um lado para o outro no mais sutil movimento, quase imperceptível. A camisa jeans, que poderia parecer completamente alheia ao resto das roupas, estava por dentro da saia e com os dois últimos botões abertos, nada muito chamativo, mas era o suficiente para completar o look e deixar Siwon levemente ofegante.

E então ali estava o motivo de todos os tormentos de Choi Siwon, parado em frente a ele na penumbra que havia se instaurado sobre a sala, seus olhos castanhos um tom mais escuro pela falta de luz, mas ele já os havia visto assim sob outras circunstâncias e teve que lutar contra o instinto de puxá-la para si e moldar sua boca à dela. Aquele não era o propósito de sua visita e ele sabia muito bem disso.

Quando o pai de Siwon anunciou sua aposentadoria e que o filho tomaria seu lugar na empresa, o rapaz não poderia ter ficado mais entusiasmado. A vida inteira ele estudou e trabalhou para que isso pudesse acontecer, para que pudesse seguir os passos do pai e deixá-lo orgulhoso. Aquilo era a realização de um sonho, sim, mas ele não imaginava que pouco tempo depois, estaria vivendo praticamente um pesadelo. Não entendia porque a empresa precisava se juntar à outra, não entendia porque tinha de estar em constante contato com a mulher que agora sentava-se na cadeira do outro lado da mesa, não entendia porque seu sangue parecia correr rapidamente por suas veias todas as vezes que olhava para ela e, principalmente, não entendia como ela conseguia mexer tanto com sua cabeça.

DevilWhere stories live. Discover now