𝐏𝐫ó𝐥𝐨𝐠𝐨

70 12 2
                                    

Veio até ele de madrugada. Entrou com muito cuidado, em silêncio, deslizando pelo aposento como um fantasma, uma aparição. O único ruído que acompanhava seus movimentos era o da capa roçando-lhe a pele desnuda. E foi justamente esse tênue e quase inaudível som que despertou o bruxo — ou talvez apenas o tenha emergido do estado de sonolência no qual se embalava monotonamente, como se estivesse submerso em profundezas insondáveis, pairando entre o fundo e a superfície de um mar sereno, cercado por ondulantes algas marinhas.

Não se moveu, nem sequer pestanejou. A jovem se aproximou, despiu a capa e, hesitante, apoiou um joelho dobrado na beira da cama. O homem a observava com os olhos semicerrados, fingindo ainda dormir. Ela se posicionou cuidadosamente sobre seu corpo, aprisionando-o entre as coxas. Apoiada nos braços esticados, acariciou-lhe o rosto com os cabelos, que cheiravam a baunilha. Decidida e impaciente, inclinou-se e com o bico dos seios tocou-lhe as pálpebras, as bochechas e a boca. Ele sorriu e, com um gesto lento e delicado, abraçou-a carinhosamente. Ela endireitou o corpo, desviando-se de seus dedos. Radiante e luminosa, ofuscava com seu brilho a enevoada luminosidade matinal. Ele tentou se mover, porém ela, mantendo a pressão das mãos, impediu-o de mudar a posição e, com suaves mas decididos movimentos dos quadris, exigiu uma resposta.

E ele respondeu. A jovem parou de fugir de suas mãos e, jogando a cabeça para trás, deixou cair os cabelos. Sua pele era fresca e surpreendentemente lisa. Seus olhos — que ele pôde ver quando ela aproximou o rosto do dele — eram enormes e negros com os de uma ondina. O balanço o fez mergulhar em um mar de baunilha agitado e murmurante, envolvendo-o de paz.

Quando baixou o rosto para finalmente beijá-lo, a jovem pulou da cama. Com uma poça de suor debaixo de suas costas e a mão cobrindo o batimento desenfreado de seu coração, ela respira com dificuldade. Acomodando-se outra vez no cenário ao seu redor, reconhece as cortinas lilases e a prateleira bagunçada acima da escrivaninha.

Estava de volta em sua realidade.

The Witcher - Entre MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora