UMA NOITE SALGADA

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27 de Julho 1975.

Saltburn-by-the-Sea, North Yorkshire, Inglaterra


Sirius sorria com a brisa quente e salgada vinda da praia enquanto sua mãe reclamava acerca do lugar "extremamente inapropriado" para onde a chave de portal os levara. As levadas de ar atingiam seu rosto e bagunçavam seus cabelos ao passo que seu irmão parecia maravilhar-se com a visão que o penhasco lhes dava do mar ao fim de tarde. O sol flamejava sobre a agua, iluminando o céu completamente em tons de vermelho e laranja. O garoto lamentou internamente o terno que usava e os sapatos chiques que a mãe o fizera pôr nos pés, pois lhe crescia um ímpeto de correr direto para faixa de areia a alguns metros dali. Ele se aproximou do irmão, que caminhava com as mãos nos bolsos em direção à beira do penhasco, observando o horizonte.

-Ei, Reggie, já pensou que incrível seria, se tivéssemos trazido nossas vassouras e poder voar logo acima do mar?

-Seria demais, irmão. A gente poderia até apostar uma corrida no meio das ondas, seria super legal.

Sirius sorriu, maroto, provocando o irmão.

- É claro, contanto que você não ficasse todo nervosinho quando eu te vencesse pela milésima vez!

Regulus empurrou o irmão pelo braço e os dois riram logo em seguida. Dalí de cima, era fácil esquecer o motivo de estarem ali. O momento de alegria entre os dois irmãos fora interrompido pelo pai, Orion, que finalmente conseguira acalmar a esposa e pedia que os filhos se apressassem em direção à entrada da residência principal dos Ramsay.

A Mansão Ramsay em Saltburn parecia maior e mais jovem ao passo que se aproximavam dela, evidenciando recentes reformas feitas ali. A pintura branca impecável que cobria toda a construção de descendência vitoriana, somada a suas altas janelas, certificava à casa um ar aristocrata e zeloso quando adornado pelas luzes advindas do interior do lugar e o cheiro agradável que emanava dali, antes mesmo que as portas lhes fossem abertas. Aquela construção parecia um lar e os filhos do casal Black ressentiram-se daquilo, cada qual à sua maneira, por alguns instantes. No entanto, os dois não conheciam a realidade por trás daquelas paredes.

A pesada porta dupla da entrada da mansão estava aberta, com um metre a postos logo na entrada, indicando o caminho até o salão principal. Não demorou muito para que os Black fossem recepcionados pelos anfitriões, os Ramsay. O homem não possuía muitas diferenças aparentes dos homens de sua família: a mesma postura rígida e olhos analíticos. Sirius observou enquanto ele cumprimentava seus pais, porém, quando foi sua vez o homem lhes estendeu a mão e sorriu, repetindo saudosamente o ato para com seu irmão, enquanto Sra. Ramsay lhe sorria, segurava as mãos e lhe desejava boas-vindas. Ela parecia simpática e acolhedora, embora, ao lado de Walburga qualquer mulher parecia adorável e maternal.

O cheiro do jantar, o som das pessoas e tilintar de copos trouxe aos dois irmãos um sentimento caloroso e convidativo ainda mesmo no amplo corredor que se abriria no salão de bailes. Eles se entreolharam, estranhando a mudança de ambiente. O lugar era ainda mais claro, bem arejado, dando a sala um agradável cheiro de mar. A decoração era elegante e havia uma boa quantidade de poltronas, mesas e cadeiras. Adentrando o salão, era possível observar um espaço reservado para o jantar ao lado direito -ou seria banquete?- com grandes portas de vidro que davam até a sala onde uma grande mesa aguardava para ser posta. As paredes tinham um muito leve tom de azul, coloração que era pontualmente acentuada quando a luz batia nos cristais dos lustres pendurados no teto e se refratava até atingir as paredes. As luzes do ceu no fim da tarde criavam um caleidoscópio de cores no ambiente. No polo oposto da sala, ao lado esquerdo, havia uma grande escada de mármore branco que dava voltas levando ao segundo andar da residência, possuindo quadros por toda a extensão da parede, com suas figuras sorrindo e acenando aos convidados. Havia também um piano e alguma mesas pequenas nas quais era possível servir-se de bebida e aperitivos, ainda que bandejas flutuassem pelo salão.

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