Okaka

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Tenho acordado no meio na noite com aquelas palavras que me corriam por dentro.
- Me perdoe. Eu não  posso salvar você.
Minha paz quase inexistente novamente sumiu, me levantei, não  conseguia dormir, não  conseguia parar de pensar em derrotar o demônios
Dororo acordou em seguida, ela estava dormindo mal e por minha causa, se preocupava comigo.
- Hyanikin, está sem sono de novo.
- Os demônios – respondi.
- Hyanikin, agora não, você precisa dormir um pouco senão  vai enlouquecer.
Enlouquecer? Creio que era tarde para me preocupar  em enlouquecer, saí dali  daquela pequena caverna que nos servia de abrigo, sem me preocupar se Dororo ia me seguir ou não, eu precisava continuar andando.
Dororo gritava para que eu esperasse.
Continuamos andando, não era ruim andar durante a noite, para mim não  fazia diferença se era dia ou não, eu só  conseguia sentir o calor do dia em minha pele e  o frescor da noite. De dia tinham os sons das pessoas, de noite os sons dos animais da floresta.
Não  me importaria em dormir durante o dia e andar de noite, mas sei que aquilo não  seria bom para Dororo.
- Por que você não  recuperou nenhuma parte do corpo depois de derrotar aquela raposa?
- Vou procurar e matar até  recuperar  tudo. – eu disse tentando formar frases mais complexas.
- Tudo bem mas...Você  tem se esforçado  demais depois que saímos das terras de Daigo. Não  descansou nenhum pouco, derrotando monstros por todo lado. Desse jeito não  vai durar  muito.
Eu ignorei Dororo e continuei andando, aquela conversa estava me deixando com raiva, Andamos por quase toda a noite, chegamos a um lugar, Dororo conversava com alguém, não  parei para  ouvir continuei andando.
- Hyanikin, tem uma fonte termal. Já  esteve em alguma? São  águas naturalmente quentes! Você  poderia descansar um pouco por lá. Os banhos aliviam o cansaço e fazem a gente se sentir melhor, a mamãe  dizia.. vamos lá.
Não  dei uma resposta, continuei caminhando, eu não  queria mais nada além  de procurar por mais demônios.
Dororo ficou com raiva e enfim me contou algo de meu interesse.
- O homem disse que um monstro foi visto lá perto!
Parei de repente, concordei que iria até  este lugar. O dia estava quase no fim, senti que o cansaço  iria me dominar. Dororo encontrou uma velha morada abandonada para passarmos a noite.
- Hyanikin, descanse aqui, vou buscar lenha e algumas frutas. Aqui pode ser o esconderijo de algum, bandido, então  tome cuidado, Mas não  mate ninguém, só  bate um pouco.
Achei divertido aquela preocupação  da criança  comigo. Uma pena que eu não  estivesse bem para esboçar  qualquer sorriso. Apenas me deitei e me entreguei ao sono cheio de sonhos ruins.
Não  sei quanto tempo eu dormi. Mas fui acordado por Dororo, ele trazia uma outra pessoa, cuja a chama era de uma cor diferente de qualquer outra chama de pessoas que eu já  tenha visto.

- Hyakkimaru olhe para ela, ela é  uma assombração?
- Não. – respondi.
- Então  é  humana.
- Não  sei – respondi sincero, aquela chama era repleta de buracos escuros e tinha uma cor fraca e sem brilho.
- O meu nome é Okaka. E esta casa é minha.
- Nos desculpe. Achei que não  tinha ninguém morando aqui.
- Tudo bem pequeno Dororo, estão  com fome? vou fazer algo para comermos.
Observei aquela chama enquanto Dororo continuava a conversar com ela.
-Voce mora sozinha aqui?
- Sim, os peregrinos que vêm  à  cachoeira aqui perto me dão comida. Então  vou vivendo.
- A propósito, por que aquele Buda não bem rosto?
Prestei  atenção  em Dororo. A mulher contou uma longa história  sobre como aquela estátua foi talhada dentro da caverna da Cachoeira  por um velho artesão e de como ele morreu sem conseguir terminá-la.
Ela nos serviu uma comida muito gostosa, Dororo comparou a comida  com a da sua mãe, as duas continuaram conversando,  comi depressa, mas logo algo tomou conta de mim, me deitei, as vozes foram ficando distantes, senti algo quente sobre mim seria um cobertor? Cai de vez neste sono e pela primeira vez em muito tempo eu apaguei num sono sem sonhos

Acordei no meio de sons desconexos, Dororo estava em cima de mim, eu estava amarrado, a mulher o estava puxando, o que ela estava tentando fazer? O som de água  caindo era bem alto estávamos perto de uma Cachoeira?
- Dororo.
- Hyanikin, você  dormiu pesado.
Me libertei com as espadas em meus braços, quase consegui golpear aquela mulher, fui atrás  dela, eu sabia agora que ela poderia ser mais uma assombração aliada a um demônio.
Olhei em volta , vi a chama demoníaca Da grande estátua. Era de vários tons de vermelho.
Subi nela. Eu precisava destruir aquela estátua o mais rápido possível. Mas a estátua mexeu de maneira a me derrubar na água, lá  do fundo eu vi uma infinidade de chamas roxas, eram de corpos, uma infinidade deles, era como se ainda possuíssem alguma vida apesar das chamas brancas terem ido embora. Elas todas, todas aquelas chamas pareciam clamar por ajuda, senti isso dentro de mim. Voltei para a superfície, eu tentaria de novo acabar com aquele demônio.
A estátua  lançou  algo em que pude me pendurar para chegar até  ela mais facilmente, e isso foi de grande ajuda, o demônio  me queria e eu queria matar o demônio . Consegui quebrar algumas partes da mão  da estátua, a mulher mudou a voz, parecia ser a voz, da minha mãe, era estranho.
- Pare com isso, Hyakkimaru. Já  fez o bastante, não  precisa destruí-lo. Agora venha até  mim.
Apesar da voz ser de minha mãe  eu sabia quem era ela.
- Você é  Okaka.
- Por que? Por que o meu rosto  não  está mudando? Nunca viu o rosto de sua mãe?
A ignorei, eu precisava destruir o demônio  que habitava aquela estátua  e que tinha o controle sobre aquela chama se fingia ser quem  ela não  era.
Mas algo me envolveu, algo me apertou com todas as forças, apertando meus olhos, meu pescoço, não  me deixando... respirar. A dor era enorme e senti que meus pulmões  iriam explodir, eu não  estava conseguindo me libertar. Eu precisava respirar, me senti arrastado. A corda me envolvia por inteiro, e seu aperto não  me permitia  conseguir me libertar.
Ouvi o choro de Dororo, ela chamou aquela assombração  de mãe. Devia se parecer mesmo com a sua mãe.
Pare mamãe.  – foi a única coisa que eu consegui ouvir de Dororo que se agarrou firme àquela mulher. Eu queria conseguir respirar e naquele momento eu estava prestes a perder os sentidos.
Algo aconteceu, as cordas afrouxaram e consegui me libertar a estátua golpeou a mulher com a sua espada, e me permitiu sair e alcançar  o demônio, o golpeei com toda a minha força  e em seguida a própria estátua ao tentar me golpear em seu rosto, acabou apressando  a sua destruição . A chama vermelha se apagou e junto com ela a chama da mulher que pediu para tocar o rosto de Dororo uma última vez. Dororo a chamou de mãe. Senti a tristeza de Dororo.
Voltamos a trilhar o caminho das fontes termais.
- Sinto muito Hyanikin. Eu devia ter tomado mais cuidado. Meti você  em problemas e o fiz se lembrar de sua mãe. É sempre você  que me salva. Mas eu vou te salvar sempre que você  precisar de mim.
Dororo sem querer trombou em mim e caiu.
- Dororo – eu a chamei – eu estou bem. Banhos termais. Vamos.
- Espera Hyanikin. Eu, aquele monstro perto da fonte termal, era mentira. Eu só  queria...
- Vamos – eu o interrompi, eu sabia que era mentira, acho que ela merecia um pouco de diversão. Passou por muita coisa, como eu também passei.

Hyakkimaru e Dororo.- Narrado por Hyakkimaru. Onde histórias criam vida. Descubra agora