Capítulo 12 - Olontoki

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Capitulo 12
"Olontoki"

☆I
Meli estava tão cansada que seus pés doíam, os calcanhares rachados em ardência, havia andado pelos últimos três dias parando apenas para descansar dez minutos a cada duas ou três horas enquanto o sol estava no céu e dormindo nas matas ou nos gramados das clareiras cheias de sereno gelado. O macaco ia sentado em seu ombro tal qual um marajá na corcova de um camelo, fingia a incentivar, mas na verdade a faria prosseguir a todo custo.
— Pé dói... — Meli diminuiu o ritmo ao chegar em uma região da mata onde o mato era rasteiro e as arvores eram belas agonandras.
— Falta pouco... menos de dez quilômetros, — Kikelomo apontou para frente, uma montanha gigantesca com o cume Branco de neve se erguia no horizonte azul claro da manhã e eta visível entre as timidas copas folhadas — Ali no pé da montanha é a cidade de *Ifofodô*, lá você poderá descansar a vontade. — O macaco respondeu.

Meli estava já a ponto de cair quando chegaram aos pés da montanha, agora era Kikelomo quem segurava a boneca pois a menina ja não tinha mais braços para segurar nada. Ao lado de uma majestosa queda d'água do rio Erinlé havia uma grande entrada de caverna, pelo formato não era natural e sim escavada pelo homem, um buraco de feitio árabe como um portal islâmico.
— Ondi tem cidadi? — Meli semicerrou os olhos.
— Ifofodo é debaixo da terra, subterrânea. Temos de entrar ai nesta caverna.
— Meli cansada...
— Só mais um pouco, entre lá, tenho uma amiga na cidade, vamos para a casa dela, você poderá dormir em uma boa cama essa noite, descansar as pernas.

Meli prosseguiu, encheu os pulmões de ar e marchou rumo a caverna, subiu os mais de dez degraus escavados na terra e ao adentrar o portal de rocha percebeu pedras azuladas incrustadas nas paredes que emitiam uma luminosidade tênue.
— Quê isso?
— São *Okuta- amaloji*, pedras que Olokun criou para iluminar o fundo do mar, Erinlé comprou dele uma porção delas para iluminar a cidade subterrânea.

Meli constinuou a caminhar, a iluminação indicava qual direção seguir. A caverna era de teto alto e piso inclinado, ela desceu por alguns minutos, era possível sentir uma brisa leve vindo do interior, ao chegar no fundo ela se deparou com um espaço aberto, o teto da caverna era tão alto que ali dentro poderia caber o *prédio do Banespa* tranquilamente, na tocha escura e úmida do teto pedras grandes azuladas despontavam em forma de  quartzos emitindo uma luz intensa que tornava o ambiente tão claro como o dia lá fora, a largura do lugar era imensurável, Meli observou centenas de casa de madeira organizadas em quarteirões separados por ruas estreitas, vielas e becos, seus olhos humanos não possuíam capacidade de enxergar o final e as laterais da caverna, era uma verdadeira cidade, quiçá um Reino. Nas ruas haviam muitas pessoas vestidas com tunicas, camisas, calças e *filás* de cores vivas, no teto da maioria das casas era possível ver pequenas estátuas africanas pintadas de prata e ornadas com muitas flores e folhas vivas.
— Oooh... muto glande... — Meli se admirou.
— É, você não viu nada, toda a montanha é oca, lá para o fundo tem uma Cachoeira imensa com a água tão cristalina que quase não se vê.
— Meli qué vê.
— Depois, agora vamos para a casa de minha amiga. Você não está com fome? Lá poderá comer a vontade, tomar banho com agua quente e tudo mais.  — Kikelomo apontou para a direita — É por ali, vamos.

Na décima quinta travessa da rua principal Meli entrou em um beco, o piso era todo de paralelepípedos verdes e azuis, ela imediatamente comparou com as pinturas que seus vizinhos em Monte D'avila faziam no asfalto na epoca de copa do mundo, mas sua mente aguçada sabia que o motivo daquilo era que as cores que mais agradavam o senhor daquelas terras eram justamente estas. As casas eram grandes e coladas umas as outras, as pessoas olhavam para Meli com certa estranheza ao ve-la tão mal vestida, mas ela parecia não perceber ou não se importar.
— É aqui, a casa com janelas redondas. — Kikelomo indicou.

Búfalo Sandara Onde histórias criam vida. Descubra agora