Pois bem. Um ano se passou e tudo o que consegui escrever foi três partezinhas chinfrins das quais eu nem me lembrava. Sinceramente? Admiro quem consegue concluir um livro. Mesmo os sem pé nem cabeça, até mesmo os toscos. Claro, escrever um livro simplesmente não torna alguém um escritor-ou pelo menos não deveria. Mas concluir um livro exige algo que pra mim custa muito: disciplina.
Não adianta ser cheio de talento, saber tudo de ortografia, conhecer diversos assuntos se você não tem a disciplina necessária para cumprir uma meta. Sempre falho nesse ponto. Eu, por exemplo,tenho uma mente fértil. Já tive idéia para uns 1.854 temas, dos quais uns 512 ganharam um esboço de roteiro, desses, 10 ganharam corpo... na minha cabeça. Dos 10 eu consegui anotar 5 no papel, iniciar 3 e concluir, vejamos, noves fora... ZERO.
Talvez essa contabilidade mude ao final desta obra. Se ele existir.
O problema é que eu tenho um obstáculo muito grande a ser enfrentado: a vida. É muito complicado conseguir tempo para escrever quando se tem uma vida, um emprego, um namorido, amigos que querem sair e te ver, uma filha de três meses, família que quer almoçar junto no domingo e não se contenta em ficar só pro almoço, não. Tem que ser o dia todo! O que fazer? Qual desses itens sacrificar? Que horas conseguirei escrever? Livro- Como publicá-lo? Como escrevê-lo? O que ele come? Sexta, no Globo Repórter.
Todas essas desculpas, digo, esses obstáculos servem para nos testar e filtrar quem realmente está fadado a escrever alguma coisa. E é aí que entra a disciplina, a perseverança e a auto-descoberta. As perguntas certas devem ser feitas. E a primeira delas é: Por que eu quero escrever?
Essa pergunta foi decisiva pra mim, mas a resposta dela desencadeou uma série de bloqueios, digamos, de criatividade. Ora, quem escreve quer ser lido, quer compartilhar aquele pensamento com alguém, senão, bastava pensar e guardar para si.
Eu sempre fui muito reservada. Na pré-adolescência eu mal escrevia no meu diário por morrer de medo de que alguém lesse minhas confissões íntimas. Escrever e publicar um livro demanda uma certa exposição. Por mais que você escreva ficção, esquivando-se de qualquer vínculo óbvio que a obra possa ter com sua vida pessoal, sua mãe vai saber que aquela cena de sexo saiu da sua cabeça.
Eis o paradoxo. Se escrevo, publico, quero ser lida. Quanto mais leitores eu tiver, mais realizada estarei. Quanto mais exposta estou, menos criativa eu fico. Como lidar? Praticando a escrita, fazendo brainstorming, lendo, relendo. É uma questão de escolha. E quando essa escolha estiver clara na cabeça será o momento certo de começar. Eu escolhi escrever. E... por que? Por que eu gosto, me realiza e é terapêutico. Percebi que não se trata uma tarefa a mais, mas uma tarefa que contribui para que todas as outras sejam realizadas.