Capítulo Único

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Você, mais do que qualquer um, sabe que estou voltando ao escuro. E o que você faz? Continua cometendo esses mesmos erros, destruindo tudo o que temos. Sinto falta do antes, esse agora é tudo o que desprezo. Todos dizem para não me entregar, mas não é tão fácil como pensam. A cada dia, um gole a mais na garrafa que está esvaziando. O que farei quando acabar? Simplesmente não posso comprar outra mesmo que eu queira. Sem ela a tristeza vai voltar a me consumir, e eu só quero me sentir bem.

O que estou pensando? Por que estou ficando tão fraco? É a verdade que veio à tona outra vez? Foi o que voltei a descobrir? Vamos… Alguém me mostre alguma solução. Palavras de conforto só pioram, não aguento mais. Eu quero desaparecer - e não posso. Eu quero morrer - e não posso. Essa agonia está acabando comigo lentamente e a única coisa que consigo fazer é zombar de mim mesmo nos status do whatsapp enquanto vejo meus amigos - se é que posso chamá-los assim - irem desaparecendo da minha vida.

Romance? Fora de questão. Amizade? Sumindo. Família? Se destruindo. Hobbie? Perdendo a graça. Estou me apagando, voltando ao escuro. Minha vida se acizenta enquanto vejo um mundo tediodoso a minha volta. Estou cansando, eu juro que estou. Eu quero gritar, de verdade, de verdade mesmo, o quanto quero acabar com tudo isso - mas não posso.

Meus lábios estremecem, e as batidas do meu coração se tornam errantes. Posso sentir o suor nas palmas das minhas mãos enquanto olho para o nada como se fosse a coisa mais fascinante que tivesse a chance de observar, e talvez fosse. Pelo menos, sozinho, não preciso me forçar a nada. Pelo menos, sozinho, eu posso chorar se vier a telha. Pelo menos, sozinho, eu posso notar o quão no fundo do poço estou sem causar comoção desnecessária.

Ao sair de casa, só consigo notar a movimentação desnecessária, o barulho incessante dos vizinhos, das crianças que correm, ao meu arredor. Sinceramente? Isso é pior que o inferno. Eu quero o meu quarto, e vou para o meu quarto. Lá eu me deito, abraço algum travesseiro e vejo a hora passar, às vezes pegando o celular para ver se há algo interessante, evitando sempre que posso conversas longas. Dormir não é uma opção quando o sono é totalmente desregularizado. O que pode parecer um sono pesado - e longo -, dura, no máximo, três horas e, depois, não consigo dormir mais. Raramente a insônia não ataca, e nesses dias de sorte, eu durmo o bastante para esquecer de tudo. Pelo menos é o que eu quero.

Cercado de noites mal dormidas e pesadelos que tornam o meu sono agitado - ao ponto de acordar de hora em hora até que o perca totalmente -, me sento na beira da cama e bebo mais um pouco da vodka escondida em meu quarto. O gosto é péssimo, e queima bastante quando desce, mas o êxtase me deixa relaxado o suficiente para que me sinta em outra realidade, longe de tudo e feliz o tempo todo.

O som da música vinda do meu celular ecoa pelo quarto silencioso, era uma melodia puxada ao Jazz que narrava a história de uma mulher com problemas relacionado a bebidas. E, sinceramente? Nunca uma letra me descreveu tanto.

Me levaram a um médico, pois temiam que eu tivesse algum vício ao álcool. Resultado disso? Mais de quinze dias tendo terapia. Motivo disso? Não havia vício algum - pelo menos não ainda, segundo o doutor -, somente um transtorno depressivo no qual eu estava me entregando sem pensar duas vezes. Sinceramente? Se eu estava me afundando, ou não, eu nem mais me importava. Se esses fossem meus últimos dias, com certeza, posso afirmar sem dúvida alguma, era um fim patético para uma pessoa patética.

Nunca fui alguém fã de cigarros ou drogas, mas me encontro pensando seriamente em fumar até acabar com meus pulmões. A bebida já está fazendo seu trabalho, disso tenho total certeza. Sou covarde ao ponto de temer o suicídio, mas não custa nada ir me afundando até que eu morra como consequência, certo? Afinal, é extremamente agoniante pensar e pensar sobre como as coisas seriam muito melhores sem mim ali, sem amigos falsos, sem família causando problema, só eu, eu e a liberdade. Liberdade que só vejo quando penso em como seria pular da janela aberta do curso, ou então pular da ponte mesmo sabendo que o rio não seria fundo para me matar afogado e sim na queda. Eu só quero pôr um fim a isso tudo, mas continuo enrolando.

De Volta ao Escuro Onde histórias criam vida. Descubra agora