Muito grata

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A semana havia passado com um sentimento a mais para mim. Desde que Senhor Davi veio me deixar em casa há quatro noites, me sentia estremecida todas vezes que pensava no momento em que me acordou.

_Serei eternamente grato a senhorita por ter cuidado da minha pequena. Disse ele com aquela voz grave e sexy enquanto entravámos no elevador.
Estava com muito frio e um pouco atordoada, o frio aumentou um pouco mais quando entramos no carro.
Ele desligou o ar condicionado.
Senti que dessa vez era ele quem estava incomodado com o silêncio.
_ Sei que tenho que ter um pouco mais de tempo com ela. Disse.
Eu confirmei que com certeza ele precisava.
_ O senhor deveria tocar para ela ver, e sair um pouco daquele computador, ela sabe que o senhor toca tão bem?
Falei e me arrependi logo em seguida, quando ele me olhou rapidamente com reprovação e silenciou.
...É agora que ele me chuta desse carro. Pensei olhando rapidamente pela janela para ver onde eu iria cair.
_ Não precisa me chamar de senhor, pode me chamar somente de Davi e a senhorita está certa. Disse ele calmamente.
...Ufa!!! Não me matou. Pensei.
_Pode me chamar de Antoniete também. Falei.
_Antoinett!
Ele falou em francês, a coisa mais linda. E sorriu, e me fez sorrir também.
_obrigado novamente Professora, boa noite.
_Boa noite senhor... Davi. Respondi.
Naquela noite demorei a pegar no sono, mas sabia que deveria tomar cuidado, sempre me apaixonei muito rápido, ainda por cima aquele homem é casado era risco certo. Deus me livre de homem casado.
****

Comprei um vestido preto é comportado e simples.
... Onde está meu modelador super, mega, ultra que me deixa com a cintura fina? aqui, ótimo, é só respirar devagar. Cabelo solto, essa escovinha ficou ótima, maquiagem leve, sapato confortável.
...Que linda você é Antoniete! Não posso ir de moto. Chamar um táxi é caro, mas vale a pena.

Mundo mágico buffet, claro que o aniversário de Bianca tinha que ser em um lugar assim. Nunca recebi nenhum convite de aniversário dos outros alunos, os pais de Bianca são realmente excepcionais.
_ Olá Antoniete você veio! Disse a mãe ao me avistar.
_ Sim, Boa noite Sara! Olá Roger os pais me cumprimentaram.
_Bianca está logo ali. Disse a mãe. A garotinha estava sentada em uma poltrona cor de rosa e alguns degraus a separavam dos colegas.
Era a princesa Bianca, com coroa e outros acessórios.
...Que Ilário! Ver os convidados chegando e terem que subir os degraus, como em um reino de verdade, mas só uma professora para fazer uma princesa descer do trono.
Logo que me viu, desceu e me abraçou, percebi que algumas mães presentes olharam com reprovação.
Entreguei-lhe o presente, um livro interativo de feltro, depois disso voltou ao trono, somente mais tarde vi a princesa sem coroa e com o vestido amassado no castelo inflável se divertindo com as outras crianças.  Ana acabou de chegar com os pais. Acho que eles ainda disfarçam que estão juntos. Se fossem de Cactus todo mundo já sabia, lá o povo gosta de comentar, mas acho que aqui esses também gostam, estou notando o cochichado das dondocas.
***
Havia uma mesa enorme com vários doces para as crianças e Havia a mesa onde seria servido o jantar, tudo muito organizado ...Será que o jantar vai ser creme de galinha? Lá em Cactus é sempre assim. Fico lembrando dessas particularidades de minha cidade e fico sorrindo sozinha disfarçadamente.

As babás estavam o tempo todo correndo de um lado para outro observando as crianças e as mães enchendo a barriga e fofocando. Observei que na hora do jantar as babás alimentavam as crianças e não tinham tempo para comer, pois os pais não se importavam, ainda vi duas ou três comendo churros e crepe
...E isso sustenta ninguém?!

...Meu Deus, que mulheres horríveis nem para olhar os filhos por um instante, para as coitadas das babás comerem. Comecei a fazer poções pequenas disfarçadamente e levar a algumas das babás.
_Oh! obrigada, eu estava com muita fome mesmo. Disse uma delas.
_ Qual criança você está cuidando? Perguntei.
_ Aquele rapaz alí. Disse mostrando um garotinho de blusa azul e suado. Fiquei observando-o enquanto ela comia. Depois levei para outra e mais outra, levei até para a coitada da Andressa.
_ Que bom que você está fazendo isso Antoniete, essas bruxas acham que a gente não sente fome. Vacas! Disse ela.
Eu sorri.

Quando saía com mais um prato, ouvi quando três homens que estavam próximos a mesa comentaram algo do tipo: _ Deixa para os outros.

Fingi que não ouvi, e Continuei meu trabalho, minha infância toda sofri bullying por ser gordinha e algo desse tipo me fazia relembrar o que eu sempre quis esquecer o momento com o Artur no ensino médio. Entretanto, nas últimas vezes eu conseguia revidar, já que, não o tinha para me defender, às vezes Alêda quem me ajudava.

_ Aí gordinha, já te vi levar vários pratos, daqui a pouco vai sair bolando heim. Falaram e riram. Eu paralisei, me senti na escola novamente tive tanta raiva, mas consegui dizer.
_ Vou sair bolando e passar em cima da tua mãe, na verdade acho que vai ser ela quem vai passar em cima de mim e do mundo todo.

O homem quis vir para cima de mim.
_ Por que vocês não olham primeiro em volta seus egoístas e vejam o tanto de comida que tem. Surpreendentemente Davi interveio.
Olhem o tanto de suas babás, e suas esposas sentadas sem olhar seus próprios filhos, ela está levando essa comida para as babás que cuidam dos seus filhos enquanto vocês ficam disseminando preconceito e falando m.. Davi se controlou para não chamar atenção e destruir o aniversário de Bianca.

_ Qual é o seu problema cara? Por que tá defendendo essa...? Disse um deles.
_ Não continue, ou vamos nos ver lá fora. Interrompeu Davi.

O homem um pouco mais velho chamou os outros e saíram, na verdade pareciam, tios ou primos tapados que nem deveriam estar ali.

Eu estava muito nervosa e não estava raciocinando mais. Ele chegou até mim e perguntou se eu estava bem. Apenas fiz um gesto positivo com a cabeça. Felizmente aquilo não chamou atenção de quase ninguém, o som das músicas infantis  abafou tudo. 
Roger se aproximou e perguntou o que havia acontecido, Davi disse-lhe que eu não estava bem.

Eu não tinha cara para ficar ali, só queria chegar em casa.
Peguei os dois últimos pratinhos que faltavam para as duas babás, mas minhas mãos tremiam. Ele pegou e levou às duas mulheres que indiquei. Enquanto ele ia, despedi-me de Roger e sai. Fui caminhando pela calçada rapidamente, as lágrimas insistiam em correr quentes em minhas bochechas, não havia ligado para o táxi.
... Um ônibus, graças a Deus! Sentei-me nas últimas cadeiras e olhando pela janela, chorei.
***
Quando cheguei a uma esquina de casa, estava mais calma e as lágrimas estavam mais controladas, a caminhada curta me fez entender que pessoas preconceituosas existem em todas as idades e meio social.
Fiquei muito agradecida a aquele homem.

Vesti o pijama, deitei-me e ainda perplexa passei horas pensando e em tudo e em como eu estava grata a Davi. Ainda era cedo, resolvi ver TV, e acabei dormindo no sofá

 

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