Três

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Meus olhos enxergavam o céu escuro coberto por nuvens carregadas de chuva, meus passos vez ou outra vacilavam em cima daqueles saltos altos. Eu tentava procurar em minha mente uma lógica de como eu havia parado naquele lugar, naquele cenário. Meu corpo se movimentava sozinho, eu não tinha exatamente um controle sobre ele, parecia que eu era um hospedeiro forasteiro do meu próprio corpo e que estava ali só para presenciar a espreita...

As ruas eram praticamente desertas e a pouca iluminação que havia nos postes deixava aquele lugar com um aspecto perigoso. Algo me dizia que era tarde o suficiente para eu estar fora de casa, mas era para lá que eu estava voltando, e sabia que aquela rua aonde se encontrava o apartamento onde eu dividia com Ino estava próximo, só alguns metros pela frente. E o fato de sentir meu corpo pesado e a cabeça pouco tonta devido a bebedeira só tornava o processo um pouco longo.

E foi aí que de repente gemidos doloridos chamou minha atenção, fazendo desviar meus olhos do céu para um corpo jogado no meio dos sacos pretos e grandes de lixo que ficava localizado no começo de um dos becos estreitos que haviam naquela rua. Meus passos pararam de repente, e meu coração acelerou quando vi sangue por todo o corpo daquele homem, manchando todo o seu paletó escuro.

Eu senti medo daquela cena, mas não pude controlar o impulso daquele corpo que agora corria e se agachava em frente ao corpo grande daquele homem. A cabeça tombada para frente impossibilitava de ver seu rosto com nitidez e os cabelos negros ajudava de certa forma naquele processo de ocultação.

- Meu Deus... moço, você está bem? – Perguntei, enquanto observava assustada a poça de sangue que havia em sua volta.

Olhei para os lados se via alguém que pudesse ajudar, mas soube que eu era a única alma viva ali. Eu toquei seu ombro e sua cabeça tombou para o lado, fazendo meu coração bater mais forte ainda. Procurei seu pulso, puxando a manga de seu blazer para trás e surpreendendo com a temperatura de sua pele.

Ele estava gelado.

Mas para a minha surpresa, eu conseguia senti sua pulsação, o que me deixou pouco atordoada. E quando soltei seu pulso para pegar meu celular e ligar para uma ambulância, levei um susto quando sua mão agarrou rapidamente o meu pulso, fazendo-me olhá-lo assustada. Seu rosto ergueu-se lentamente e meu coração tremeu nas batidas quando fui coberta pela escuridão de seus olhos que agora me fitava...

Abri meus olhos, erguendo meu corpo de supetão e ficando sentada na cama. Meu coração batia tão forte em meu peito que parecia que iria saltar para fora, a respiração estava rápida e meu corpo tremia. Levei a mão ao peito enquanto olhava todo o quarto, atordoada, tentava me situar aonde estava. As lembranças do sonho se misturavam com os acontecimentos do dia anterior. Fechei meus olhos e tentei acalmar minha respiração.

Só foi um sonho. Disse para mim mesma, sentindo o coração bater acelerado em minha palma. Só um sonho. Mas sabia que não era um sonho comum, estava mais para os fragmentos de lembranças que havia tendo nos últimos cinco meses. Lembranças perdidas dos últimos dois anos e que aos poucos perdiam-se na escuridão de minha amnésia.

O som do meu celular ecoava por todo aquele quarto, fazendo meus olhos abrir e situar minha original situação. Estava na hora de acordar para começar meu dia como babá naquela casa luxuosamente sombria.

Desliguei aquele som chato do despertador, ficando só o som da chuva forte que batia na janela e que castigava lá fora. Dei um longo suspiro, tomando coragem e me pôr para fora daquela cama.

Quando entrei na cozinha já com o uniforme encontrei Karin trancando com chave a porta de madeira que havia naquele cômodo. Não pude evitar de não sentir curiosidade do que poderia haver ali, pois aquele foi o único cômodo que ela não havia me mostrado, e aquela porta havia passado abatido por mim ontem e que agora tomava toda a minha atenção.

The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora