verity

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Boa leitura;)


                               🐨+🐭


                                  ♦



— Senhor Kim, seu filho é realmente bastante competente. Sempre teve as melhores notas e até já se formou. — Essas são as palavras que saem da boca da mulher que até pouco tempo, desconhecia — apesar dela parecer saber muita coisa sobre mim — para meu pai.

— Se me permite dizer, também é um homem muito elegante...

Meu pai sorri orgulhoso.

Patético.

Tudo isso é tão patético.

Meu pai não está verdadeiramente orgulhoso de mim, mas sorri dessa maneira porque é só um teatro para ele. Sempre foi.

Ele exibe minha — aparente — perfeição para quem quiser ver, cheio de cordialidades e sorrisos mentirosos — que as vezes me pergunto como ninguém percebe, de tão falsos. Mas uma hora ou outra, a exibição acaba, as cortinas se fecham e ele deixa de se importar.

Mas não é assim com ele. Nunca foi uma encenação. Sempre foi tão verdadeiro e mútuo que me dói ter de  estar aqui, cercado por essas pessoas que nem sequer sei os nomes, sorrindo para elas, ao invés de estar sorrindo para ele que sempre diz amar as ruguinhas que se formam em meu rosto quando eu sorrio.

— Ele se esforçou muito para chegar até aqui, senhora Lee. Eu e minha mulher ficamos bastante felizes e o apoiamos muito quando ele decidiu entrar para esse curso.

Eu imediatamente olho para ele, quase incrédulo. Uma risada seca arranha minha garganta, mas me contenho, não quero ouvir um sermão depois.

"Quando ele decidiu".

"Eu e minha mulher o apoiamos muito".

Como alguém consegue ser tão cínico?!

— Tenho certeza que sim. — A mulher agora sorri para mim, um sorriso pequeno, oblíquo, e eu sorrio de volta porque parece surpreendentemente verdadeiro. — Será que posso conversar com ele a sós? Será rápido.

— Claro que sim! Fique a vontade. — Ele gesticula com as mãos, já se afastando de nós. Ele já está um pouco distante quando parece se lembrar de algo e caminha de volta até mim, pegando algo em seu bolso, o que percebo ser meu celular que me foi tomado mais cedo, devolvendo-o com um olhar desconfiado e duro até que se vira para senhora Lee e sorri. — Vou conversar com seu marido, com licença. — Faz uma pequena reverência e se vai, abotoando o smoking caro.

— Céus, finalmente! — A mulher exclama, de repente, quando meu pai já está bastante longe. Eu a encaro confuso. — Desculpe, querido, mas as vezes eu tenho vontade de socar a cara de seu pai.

Eu arregalo os olhos em surpresa, mas logo caio na risada.

Parece que não é só meus pais que sabem fingir, senhora Lee sabe fazer isso melhor que eles.

— É verdade! — Ela diz a despeito de minha risada frouxa. — Quando ele sorri... argh! Me dá nos nervos!

— Eu me sinto da mesma forma, não se preocupe, a senhora não está sozinha.

— Me sinto melhor agora, obrigada.

Eu rio ainda mais e ela me acompanha, mas só por um momento, porque logo ela para e somente sorri pequeno.

— Assim é melhor. — É o que diz.

— O que?

— Sua risada. Ela é bonita quando é verdadeira. Assim é melhor.

Broken vase • ksj + knj Onde histórias criam vida. Descubra agora