Capítulo LX ● Youngjae

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— Agora que a gente está aqui, qual o próximo passo? — Pergunto, calmamente girando e brincando com uma fita de cetim que estava amarrada na fechadura da porta como um enfeite para alguma coisa comemorativa que ninguém se importa, mas Jaebeom não responde, apenas o sinto pegar minha mão e escuto ele entrar na sala de artes me puxando junto, silencioso como um gato, e eu acompanho seus passos de perto, silencioso como um gato também.

— As coisas para a festa de carnaval devem estar por aqui em algum lugar, vamos procurar. — Ele explica, sussurando bem baixinho porque dentro da sala estava tão silencioso que se um alfinete caisse no chão daria para ouvir o barulho.

— Não deve ser muito difícil, são materiais de artes, não barras de ouro. — Suspiro, parando no meio da sala e ajeitando os óculos escuros que escorregavam do meu rosto. Jaebeom solta minha mão e escuto ele começar a andar ao redor da sala, mexendo em coisas.

— Está tão escuro, é difícil até ver minha mão se eu colocar ela em frente ao meu rosto, tudo preto como breu. — Jaebeom resmunga, então tiro do meu bolso uma pequena lanterninha em formato de Lumière da Bela e a Fera e estico ela em direção a ele.

— Por que você carrega isso? — Ele pergunta antes de pegar a lanterna da minha mão.

— É útil. — Dou de ombros e volto a brincar com a fita de cetim. A lanterna fica presa ao chaveiro com as minhas chaves, então sempre está comigo em qualquer situação e mesmo que não seja útil pra mim, sei pode ajudar outras pessoas, então é útil.

— Por que não mostrou ela na cabana mais cedo?

— E perder a chance de presenciar os outros morrendo de medo do escuro? Nah, prefiro observar o caos.

— As vezes sua dualidade me impressiona e no fim eu não sei se você é apenas um sol amável ou uma víbora venenosa. — Rio com o comentário e volto a segurar a mão dele, porque não quero ficar parado sozinho no meio da sala e perder toda a diversão, e Jaebeom apenas aperta minha mão de volta, sem se incomodar em ter que usar apenas uma mão.

— Eu sou um sol. — Afirmo inocentemente, mas logo um sorrisinho aparece no meu rosto. — Porém, até o sol pode queimar.

— Então eu tenho que tomar cuidado com você? — Ele pergunta seriamente, mas consigo sentir o sorriso em seu rosto, então sorrio de volta.

— Pra você eu sou como o sol da manhã. — Dou uma risadinha e me aproximo mais dele, porque sempre é assim quando ele está por perto, nunca é perto o suficiente. — É benéfico a saúde.

— Ok! Agora eu me sinto importante. — Ele comenta, me puxando para seus braços delicadamente, em um abraço aconchegante, e mais uma vez eu percebo que esse lugar, nos braços dele, se transformou no meu porto seguro. Abraço ele bem forte também, não querendo soltar nunca, e ele me abraça de volta, como se sentisse o mesmo.

— Você é. — Sussurro para que só ele ouvisse, mas minha voz ecoa no silêncio absurdo do local, porque ainda estamos parados no meio da sala de artes, o que me faz lembrar que ainda estamos no meio de uma missão super secreta e inacabada, o que por sua vez faz com que eu seja obrigado a me afastar, mesmo a contra gosto. Sinto falta do abraço no mesmo segundo, mas me forço a ficar parado, me contentando em apenas segurar a mão dele. — Temos que achar as coisas, o tempo está passando.

— Certo, as coisas! — Jaebeom parece se lembrar só agora também, o que me faz rir, porque não fui o único a ficar mexido com o abraço e a presença do outro. — Acho que as coisas estão no depósito, a porta está ali, mas tem um cadeado, então temos que procurar a chave.

— Ou então a gente apenas arromba a porta. — Dou de ombros, falando tão normalmente que até parece que invasão é um assunto rotineiro, como falar sobre o tempo ou o preço do arroz.

— Faria barulho demais, eu só consegui abrir a porta principal porque a fechadura dela é incrívelmente fácil de ser arrombada, mas a porta do depósito tem esse cadeado e correntes, parece até que está prendendo algo.

— Vai ver está mesmo, eu já li Harry Potter, sei que pode ter um cão do inferno de três cabeças atrás dessa porta. 

— Mas isso é a vida real.

— Isso não impede nada. — Respondo com a maior seriedade do mundo, porque vejam bem, nós somos humanos e humanos são seres muito egocêntricos, sempre pensamos que sabemos de tudo, mas na verdade não sabemos de merda nenhuma, então de fato pode ter um cão de três cabeças atrás da porta, assim como pode não ter nada, mas nós não sabemos e não vamos saber se não abrimos a porra do cadeado.

— Ok, vamos apenas procurar a chave. — Jaebeom desiste de tentar dialogar comigo, o que me faz sorrir, porque amo fazer raiva nas pessoas ao ponto de elas desistirem até se argumentar qualquer coisa, me sinto realizado e adorável.

— Tudo bem. — Concordo com a cabeça e escuto Jaebeom começar a procurar a chave pela sala inteira, mas eu não movo um dedo e apenas me encosto em um armário e fico brincando com a fita, amarrando e soltando, amarrando e soltando, fazendo isso até dar um nó no meu próprio braço, então suspiro e apenas deixo a fita lá, vai ser meu novo acessório da moda. 

— Não está em lugar nenhum. — Jaebeom resmunga de algum lugar a minha esquerda, parecendo irritado e cansado.

— É claro que está aqui. — Afirmo calmamente, me desencostando do armário, e então ele vem até mim, suspirando.

— Eu já procurei em todos os lugares, não está aqui. — Ele discorda, parando bem na minha frente, e isso me faz sorrir.

— É claro que está aqui, olha! — Então abro a palma da minha mão e mostro a pequena chave que esteve comigo esse tempo todo, Jaebeom fica em silêncio e eu quase consigo ver os neurônios dele trabalhando, mas isso só me faz rir mais.

— Onde você achou isso? — Ele murmura, totalmente derrotado, então paro de rir e estico minha mão para tocar suavemente o lado direito do rosto dele, o confortando, porque ele trabalhou duro para achar a chave, merece muito amor depois de ser adorávelmente enganado por mim, quase me faz sentir arrependimento pela brincadeira, mas ele estava tão fofo agindo como Sherlock Holmes, queria aproveitar só um pouquinho, então foi o que eu fiz, mas agora acabou, temos trabalho a fazer.

— Estava amarrada na fita de cetim, estou com ela desde que a gente chegou. — Fecho a mão onde a chave estava e faço um pouco mais de carinho no rosto de Jaebeom, antes de me afastar e respirar fundo, tomando um ar completamente sério e responsável. — Mas agora vamos! A gente ainda tem que levar tudo até o resto do pessoal e o tempo está passando.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora