15. Avalanche, James Arthur

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Rafaella Kalimann

2021

Ficar a frente de uma investigação é extremamente cansativo, principalmente quando se trata de um desvio de dinheiro e para piorar meu pai não queria ninguém tratando daquele assunto além de Gizelly e eu. Minha estagiária estava adorando tudo aquilo, se sentia uma espécie de Sherlock Holmes versão feminina, não tinha um horário que eu olhasse para ela e não a encontrasse rodeada de pastas e folhas documentais.

Porém a falta de pistas e como meu pai não parecia se importar com o dinheiro perdido, começava aos poucos me intrigar. Não era fácil perder aquela quantia, sem falar que um erro desse tipo era o momento perfeito para os sócios questionarem nossa forma de trabalho mais fechada, concordava com eles em parte, ainda achava cinco pessoas insuficiente para organizar tudo e meu pai ainda não havia escolhido um sexto administrador.

Minha cabeça começava a latejar só de pensar na possibilidade de Gizelly e eu estarmos correndo em círculos, como um cachorrinho atrás do próprio rabo. A única vantagem de tudo aquilo era o que Bianca havia dito, o acesso ilimitado à documentos, e pela segunda vez em um ano tive na tela de meu computador o histórico de internações do dia, porém diferente da última vez algo havia mudado.

No dia do meu acidente, onde antes dizia que havia um homem no outro carro, agora constavam duas mulheres, os nomes estavam em branco e só eram identificadas pela idade, uma com vinte e cinco anos, enquanto a outra tinha vinte e três. Não havia informações sobre o estado que chegaram e muito menos como saíram, só que haviam sido transferidas para outro hospital.

O homem que antes estava ali, não havia sumido totalmente, seu nome havia aparecido no histórico do dia seguinte. Com todas as informações que antes não tinha, vinte e seis anos, bêbado e estava de moto quando bateu em uma árvore, era do interior de Santa Catarina e havia morrido poucas horas depois de chegar no hospital.

Aquilo não fazia o menor sentido. O homem que antes estava envolvido no meu acidente estava com informações completas e bem diferentes do que eu esperava, e agora tinha surgido uma outra pessoa, uma mulher. Só tinha uma certeza: haviam duas pessoas no outro carro, e aparentemente o segundo ocupante era a mulher de vinte e três anos ou o homem com as informações trocadas.

Enquanto isso meu nome continuava sozinho ali, única ocupante. Meu peito apertou ao ver aquilo novamente, já que lembrava claramente de tudo que aconteceu naqueles momentos e inclusive lembrava da mulher sentada no banco do passageiro ao meu lado, de como ela havia protegido meu corpo para salvar minha vida.

Suspirei cansada, estiquei os braços e senti meu corpo estalar, ficar a manhã inteira na mesma posição não estava fazendo bem para minhas costas, meus músculos estavam contando os segundos para a chegada do horário de almoço. Levei meus olhos cansados até o outro lado da sala, onde Gizelly fazia anotações em um bloquinho de notas, tão imersa em seu trabalho que eu duvidava muito dela estar conseguindo sentir alguma dor no corpo.

Olhando para o relógio em uma das paredes, sorrir agradecida por só faltarem dez minutos para o fim do horário da manhã. Não aguentava mais ler relatórios de gastos e fazer planilhas de salários, era claro que o erro não estava ali, mas meu pai havia dito que queria aquelas informações até o fim do dia na sua mesa.

Os dez minutos foram suficientes para terminar o que ele exigiu, enviei os relatórios e aproveitei a distração de Gizelly para bater uma foto do histórico de internações, tanto do meu dia como o do dia seguinte, para o qual o tal homem tinha sido movido. Organizei tudo e separei as pastas que trabalharia durante a tarde, já deixando tudo ajeitado para quando o próximo turno começasse não perdesse tempo com besteiras.

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