Capítulo 19

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Ana Foster

Uma mão esguia e pálida acariciou os cachos castanhos selvagens da menina, enquanto a mulher cantarolava uma melodia conhecida.

Ana não sabia que canção era aquela, nem por quê soava tão familiar. Mas sabia que, se escutasse sem pensar em nada ou mover um músculo, adormeceria.

Ela continuou a observar a moça, que calmamente alisava a cabeça da criança. Mesmo tão perto, ela não podia distinguir seu rosto ou mesmo a cor de seus cabelos.

O rostinho rosado e bochechudo parecia cansado e ao mesmo tempo cheio de energia, quando ela puxou as longas saias da mulher para sentar-se em sua enorme cama de dossel.

- Me conta uma história - pediu, fazendo um biquinho.

A mulher afastou as cobertas douradas, para que a menina se aconchegasse. Uma única história. Sempre uma, antes de dormir.

- Promete que não vai fugir para o meu quarto? - perguntou, fazendo cócegas na barriga da filha.

- Prometo que só hoje não vou fugir pro seu quarto, mamãe. - respondeu, com um riso travesso, fazendo uma metade de um coração com a mão sobre o peito.

A mulher revirou os olhos, que só então Ana pode ver, inspirando.

Olhos cinzentos como prata, em um rosto pálido, coberto por sardas. E o cabelo, em ondas vermelhas longas caindo pelas costas. No dedo indicador,um anel de pedra azul cobalto, presa por adornos prateados em forma de pétalas.

"Mãe...", sussurrou, sentindo os olhos marejando.

Mas a mulher não a ouviu, nem respondeu com sequer um sinal. Apenas se cobriu com o enorme edredom da cama da menina - a cama de Ana. E a abraçou para começar sua história.

- Era uma vez, em um reino perdido além do mar, uma princesa que viveu por seu mundo...

Era uma vez, em uma terra de deuses e magia, uma princesa que não compreendia seu próprio poder.

☀️

A luz do sol invadiu os olhos de Ana, mesmo com as pálpebras bem fechadas. Sua cabeça estava tão pesada que mal parecia ser sustentada pelo pescoço. Na realidade, mal conseguia sentir o resto do corpo.

Ela virou o rosto, lentamente, o máximo que conseguiu. Sua bochecha roçou levemente algo sedoso e macio, e ela soube que estava deitada em uma cama confortável.

Estava tendo sonhos esquisitos em uma frequência muito maior que o normal naquela semana. E aquele em especial a havia exaurido completamente, como um peso fantasma sobre seus ombros e pernas doloridas.

Ao menos não tivera paralisia e, finalmente, estava de volta ao mundo real.

Sorrindo levemente, Ana tateou o vazio, em busca do celular em cima da mesa de cabeceira. O cheiro doce de chá quente feito por Lola a fez suspirar, e desistiu de encontrar o celular para finalmente abrir os olhos.

Seu sorriso se desfez quando seu estômago revirou. Não, não estava em casa. Não estava com Lola.

As lembranças dos últimos quatro dias voltaram de uma vez, a fazendo ficar tonta. Seu coração acelerou.

Sobre ela, havia um teto cor de salmão com lâmpadas de vidro em forma de flor. Em cada canto e aresta entre as paredes, pequenas estrelas em preto foram pintadas a mão.

Ana não ousou mover um músculo, apenas virou os olhos devagar para a parede à sua esquerda. Por onde a forte luz do sol adentrava, atravessando uma janela ovalada, fechada por vidro fosco e arabescos de metal cintilante.

Aurora | Adhara: Deraia - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora