Resiliência (Supercorp)

Parte 15

Lena encarava Kara, esperando a resposta da loira. Ela estava nervosa e assustada. Sentia o coração batendo loucamente contra o próprio peito e o silêncio no escritório a fazia crer que ela poderia ouvi-lo em alto e bom tom.

Kara, não estava muito diferente, ela achava que não conseguiria levantar do sofá por causa do tremor em suas pernas. Se Lena estava aterrorizada, Kara não sabia o que falar ou fazer. Ela entendia todas as ações que Lena tinha feito para proteger a filha.

Filha... Ainda lhe custava assimilar aquele detalhe, aquele grande, colossal detalhe. Olivia não era irmã de Lena, não era a adorável e rebelde irmã de sua esposa, era filha, uma filha com todo um passado escondido que sequer fazia ideia e que quando soubesse, iria jogar o seu mundo de cabeça para baixo, ainda mais.

Mas ela também era sua enteada, no final, o amor maternal que ela sentia por Olivia não era tão estranho quanto ela imaginava, mas ainda assim, não seria fácil para a adolescente. A relação para lá de desgastada entre ela e Lena iria para o lixo de vez, ela não tinha dúvidas, ela sabia, tinha certeza de que era o que iria acontecer.

E ainda tinha ela e Lena. Ela não podia julgar Lena, porque Deus... Ela sabia que faria a mesma coisa se estivesse na mesma situação, teria fugido de Jack e usado todos os meios possíveis para manter a sua filha em segurança, mas ainda assim... Lena havia lhe guardado segredo de algo tão importante e isso, isso era difícil, mesmo ela sabendo que a morena estava certa quando disse que ela, Kara, jamais conseguiria mentir para Olivia.

Mas, ainda assim, a loira não sabia o que deveria falar agora, como deveria se sentir. Ela tinha o direito de se sentir traída por Lena não contar algo que aconteceu anos atrás? Ela deveria entender e perdoar?

Kara era o tipo de pessoa que sempre tentava entender o lado das pessoas, ajudar em seus problemas, mas agora, ela não sabia o como deveria ser a sua reação ou próxima ação.

— Kara? — Lena chama, deixando transparecer todo o nervosismo que ela sentia.

Elas estavam em silêncio a quase meia hora e isso estava esgotando a última gota de sanidade que Lena ainda tinha e por mais que ela quisesse dar o tempo necessário para Kara pensar, ela estava em agonia.

— Eu... — Kara começa a falar, mas se cala.

Ela levanta do sofá, sentindo as pernas cederem por um segundo, o que faz com que ela pare um pouco, mas assim que consegue, caminha para longe do móvel branco, indo em direção a grande janela do escritório, a abrindo e saindo para a varanda, deixando o ar frio tomar conta do corpo dela, em uma tentativa de esfriar a mente. Kara se inclina sobre a parede observando os prédios ao redor, as pessoas e os carros passando lá embaixo.

Kara se viu desejando nunca ter descoberto que Lena é a mãe de Olivia. Ela enfim estava conseguindo se aproximar da esposa depois de meses e as duas estavam se resolvendo aos poucos, Lena parecia tão disposta a mudar, mas agora... Agora ela não sabia se tudo aquilo ainda daria certo, ela não tinha mais tanta certeza de que tudo ainda poderia acabar bem.

Ela pode ouvir os passos de Lena atrás de si, mas não se virou para olhar quando ela se colocou ao seu lado, também se debruçando sobre a parede.

— A verdade, Lena... É que eu não sei qual deveria ser a minha reação, se eu deveria ficar furiosa... Mas por que eu ficaria? Tudo o que você fez durante todos esses anos foi proteger Olivia e você ainda passou por tudo isso com aquele monstro... — a loira começa a falar, ainda sem olhar para a morena — Mas ainda assim, eu não consigo ficar de boa, eu não consigo falar que te perdôo por continuar escondendo coisas de mim. E sabe-se lá mais o que mais você está escondendo.
— Nada. — Lena nega no mesmo instante, olhando para Kara que ainda tinha atenção os carros passando na rua — Eu juro, nada mais. Eu juro.
— Como eu posso acreditar em você? — Kara pergunta, se virando para olhar para a mulher, a olhando nos olhos.
— Eu prometo...
— VOCÊ PROMETE? LEMBRA O QUE VOCÊ ME DISSE ANOS ATRÁS? — Kara grita, sentindo toda a bagunça dentro de si vindo ao limite outra vez, Lena apenas se cala, fechando os olhos por dois segundos, tentando reunir uma coragem que ela não sabia se ainda tinha — Você disse que confiava em mim mais do que tudo, você disse que a confiança em nosso relacionamento, a parceria era tudo, você jurou em seus votos e eu jurei o mesmo, que sempre estaríamos lá uma para a outra, que sempre nos apoiariamos e contariamos a verdade que... — Kara para um segundo, dando uma pausa para respirar em meio as lágrimas incessantes — Agora, depois de todos esses anos, eu descobro que eu sou a única que realmente estava cumprindo esses votos.