Uma harmonia perfeita

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Depois das três primeiras aulas, acompanhei Chloé e Alya a um banco no pátio. Ficamos alguns minutos do recreio ainda falando sobre os vestidos.

Parecíamos todas grandes amigas. Eu começava a me perguntar se não éramos realmente.

Do outro lado do pátio, avistei Nathaniel. Éramos amigos quando mais novos, mas nos distanciamos. Só o simples fato de estar num mesmo lugar que ele já me deixa com raiva.

Realmente não lembro como desenvolvi essa aversão ao garoto, mas não conseguia vê-lo como um amigo. Sequer como alguém bom.

- Ele te fez odiar o Nathaniel mesmo, né? - Chloé disse, olhando na mesma direção que eu.

- Que "ele"? - respondi, confusa.

- Como assim, Marinette? Você não lembra dele? - ela me perguntou, tão confusa quanto eu.

Estava prestes a responder que não, quando fomos interrompidas pela voz de Nathaniel:

- Estava me estudando pra planejar um assassinato, Marinette?

Me virei pra ele e franzi a testa. Tive que resistir ao máximo pra não enfiar minha mão no meio da cara dele.

Chloé e Alya trocaram olhares preocupados e me puxaram pra longe de Nathaniel.

Estávamos indo para a sala quando, no meio da escada, senti uma dor de cabeça horrível. Senti tudo girando e via uma luz forte na minha cara. Ouvi Alya gritando.

Tive um lapso daquele mesmo sonho de quando desmaiei, focado, dessa vez, no que o Nathaniel dissera. Aquela raiva toda reprimida.

Vi as luzes verdes novamente e tentei ao máximo alcançá-las, mas me desequilibrei e caí na escada.

Fechei meus olhos e, quando abri novamente, as luzes tinham sumido. Alya e Chloé me ajudavam a levantar.

Durante as outras aulas do dia fiquei com a mente nos olhos daquela mulher novamente. Alya percebeu que eu não estava focada na aula, mas não disse nada.

Ao final da manhã, estava saindo da escola e vi meus pais na calçada. Meu cérebro enviou um alerta instantâneo para que eu corresse, mas, infelizmente, eu ignorei.

Perguntei aos dois o que estavam fazendo lá e me surpreendi negativamente com a resposta:

- Vamos fazer alguns exames hoje, querida.

- Eu não estou de jejum, mamãe.

- Ah, filha - disse meu pai - não é de sangue. Vamos fazer uma tomografia, apenas.

- Isso não é aquilo pra descobrir se alguém tem câncer? - perguntei, receosa.

- Bem, sim... - minha mãe estava respondendo, mas a interrompi.

- Vocês acham que eu tenho câncer? Estão loucos?

- Nós não. - e isso foi a coisa mais horrível que minha mãe já disse.

Saí correndo de perto deles o mais rápido que pude, mas eles foram atrás de mim. Já tinha jurado pra mim mesma que não ia deixar algo assim acontecer, e vou manter minha promessa.

Corri em disparada na direção de uma grande casa há alguns metros da escola. Ela era cercada por um muro bege e tinha um portão preto no mesmo.

A casa em si era enorme. Ouso dizer que é uma mansão, mas não consigo lembrar quem é o dono. Está aqui desde que eu me entendo por gente e nunca vi ninguém entrando ou saindo daí, mas tinha a forte sensação de que conhecia o lugar. Parecia que eu tinha a planta baixa no meu cérebro desde sempre.

Dei a volta até uma lata de lixo e a afastei para o lado. Abaixo, tinha um alçapão, como previa. Entrei e segui alguns túneis até uma portinhola baixa. Não parei de correr em nenhum momento, mas estava realmente preocupada sobre como eu conhecia aquele lugar.

Parecia um labirinto, mas eu me guiava de forma natural e sabia onde tudo estava. A planta da minha cabeça instruiu que logo depois da portinhola haveria um enorme quarto, com dois andares, um piano bem no meio, grandes janelas de vidro do chão ao teto, estantes de fitas, CDs, alguns gibis, uma mesa de pebolim, e mais diversas coisas legais. Parecia o quarto de algum garoto, e torci pra não dar de cara com um menino saindo do banho ou namorando. Minha vida já era constrangedora demais pra isso.

Inexplicavelmente, o lugar era exatamente igual ao que eu tinha "imaginado". Aquilo era perturbador.

Algumas coisas estavam diferentes, na verdade. O piano estava coberto de poeira, dando a entender que ninguém o tocava há um bom tempo. Talvez anos. Isso explicaria a não-movimentação da casa.

Deveria ser abandonada.

Nas estantes, senti falta de alguns gibis. A cama de casal, que ficava bem ao lado da portinhola, estava mal forrada com um lençol branco encardido. Tudo fedia a guardado e eu estava começando a ficar um pouco enjoada.

Na mesa de cabeceira da direita localizei um aparelho pequeno, do tamanho da palma da minha mão. Um fone de ouvido estava conectado e eu presumi que deveria ser algum tipo de iPod.

Pus nos ouvidos e dei o play em uma das músicas.

Parecia uma música tocada no próprio piano e tinha uma melodia incrível. Alguns segundos depois da introdução, um garoto começou a cantar. Presumi que era o dono do quarto e que estava gravando suas performances do piano no aparelho.

Era uma voz incrivelmente linda e diferente, mas ao mesmo tempo era familiar.

Me sentei em um puff próximo às janelas e olhei para as ruas enquanto ouvia com atenção a letra da música:

Step into my world
Bittersweet love story 'bout a girl
Shook me to the core
Voice like an angel
I've never heard before

Here, in front of me
Shining so much brighter
Than I have ever seen
Life can be so mean
But when he goes
I know he doesn't leave

Era realmente linda. E, de alguma forma, eu estava chorando no meio da música. Alguns versos me faziam arrepiar e eu não cansava de pensar como a voz do garoto é linda.

I feel your rhythm in my heart, yeah
You are my brightest, burning star, woah-woah
I never knew a love so real
We're heaven on earth,
Melody and words
And when we are together we're

Olhei para a frente e vi as luzes verdes novamente. Então tive um vislumbre de um garoto loiro, de olhos verdes como aquelas luzes, brilhando fortes enquanto ele cantava para alguém e tocava o piano. Sua voz estava sincronizada com a música que eu ouvia e era incrível.

Fiquei completamente hipnotizada pelo que via e, de alguma forma, me levantei e fui andando até o piano. Em um de seus lados havia um grande círculo verde formado pelas luzes. Me aproximei cuidadosamente, dividindo a atenção entre a música e os lindos brilhos verdes que pareciam tanto com os olhos do garoto com a voz bela.

Pensei ter ouvido algum barulho e me voltei à porta. Lá estavam dois homens armados usando uniformes policiais. Não tive tempo de ouvir o que diziam. Segui meus instintos e me joguei na direção das luzes.

[...]

Não acordei na cadeia. Nem em casa. Nem no quarto. Nem num hospital. Nem num manicômio.

E acho que nem em Paris.

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Olá, leitores!

Fiquei um tempo em off aqui, mas estou planejando muuuuitas coisas para as histórias. Vou tentar postar essa semana um capítulo da outra fic também (Segredos De Dias De Verão).

Boa leitura!

O Brilho Nos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora