GUERRA INTERNA

CAPÍTULO 3: Plano interrompido

– 3 DIAS ANTES –

O pequeno comboio se locomove vagarosamente. Tão devagar que a lentidão testa a paciência de Clarke, que luta para se mostrar calma e indiferente para não alastrar qualquer senso equivocado de pânico. Ela conhece aquela floresta com a palma da mão, mas faz alguns anos desde a última vez que ela passou por ali.

Os oficiais contam com um Rover mas o progresso é lento em razão da mata fechada. Tão fechada, aliás, que as árvores enormes escondem a luz do sol, dificultando a visibilidade. Ao mesmo tempo, o cheiro de grama e terra é tão proeminente que Clarke sente como se seus sentidos estivessem sendo sufocados para qualquer outra coisa. E ela não gosta daquela desvantagem.

Justamente por isso que, apesar do Rover, ela optou por caminhar, deixando o veículo para carregar apenas aqueles mais exaustos e algumas armas e suprimentos.

Caminhar, entretanto, estava se provando uma forma inútil de controlar seus nervos. Ela só está cada vez mais suada, cansada e ranzinza, algo que a Sub-Comandante Octavia Blake, uma das melhores amigas de Clarke, não consegue deixar de notar.

"Talvez você devesse entrar no Rover e descansar." Ela diz, olhando para a loira de esgueira. "Estamos andando faz horas, Clarke. Ninguém te culparia por precisar descansar." A Comandante suspira, impaciente. "Prefiro ficar aqui. A visibilidade já é muito ruim e mais um par de olhos atentos não fará mal. Não podemos nos arriscar, Blake." Octavia sorri. Ela entende porque Clarke busca manter um distanciamento quando ambas estão em missão, mas toda vez que ela ouve a loira chamá-la pelo sobrenome, ela sente uma profunda laço com a oficial. Era assim, afinal, que Clarke se referia a ela durante os anos de treinamento.

"Os Grounders não andam por esse território, você sabe disso." A morena insiste, ainda observando a loira. "Mais um motivo para ficarmos atentos." Rebate Clarke. "Você sabe porque eles não andam por aqui melhor do que eu." Era verdade. Octavia sabe exatamente o que deixava os Grounders tão relutantes de andar por essa trilha: Os Montanheses. Considerados ainda mais hostis e perigosos do que o Povo do Céu, seus números eram insignificantes demais para resistir uma guerra entre eles, mas todos sabem o quão superior eles se acham.

"Eu sei. Só não entendo porque estamos indo para Polis utilizando essa rota. É muito mais distante do que outras quatro ou cinco opções que conheço. E. ainda sim, no relatório da missão você insistiu que nós passássemos por aqui." A morena menciona em um tom casual.

"Depois de tanto tempo aprendi a não questionar suas ordens, mas eu sei o quão malucos sãos seus planos, Griffin. E se você está nos levando para o abismo da morte eu gostaria de um tempo para me preparar, sabe." Ela diz sorrindo.

Clarke não para de caminhar, mas definitivamente diminui seu passo. Seu plano tinha sido analisado e discutido por todos os membros do Conselho e apesar das inúmeras objeções que ouviu, a maior parte delas era sobre a necessidade do seu envolvimento direito na execução do plano. Nenhum oficial jamais questionou as rotas detalhadas por ela ou o plano em si. A confiança na capacidade da Comandante era grande demais para isso. É claro, ela não deveria se surpreender com Octavia. Ela definitivamente é mais do que capaz e Clarke tem certeza que um dia ela a substituiria no Comando, então o questionamento não é exatamente algo inesperado.

"Optei por essa rota justamente por saber que os Grounders não vão se atrever a andar por aqui. Assim temos mais cobertura para entrar na Capital." Ela responde, olhando ao redor como se estivesse procurando por algo.

"Sei. E como, exatamente, você planeja nós levar vivas até Polis? Eu li seus planos e eles com certeza têm muitos buracos e informações genéricas. Mas de novo, te conhecendo tenho certeza que isso também foi intencional." A morena continua, também atenta aos seus arredores.