Não me leve para cama

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A chuva não daria trégua naquela noite fria. Raios surgiam como vagalumes clareando a densa névoa cinza escura. Ana estava quente – não só por fora –, olhava pela janela com seus olhos amendoados enquanto acariciava com as pontas dos dedos o tecido de brim das cortinas brancas. Como seria dedilhar uma vagina que não era a sua? Será que saberia meter-se entre àquele par de pernas que caminhava confiante pelo campus da universidade? O conservadorismo hipócrita da família a inibiu desde jovem a explorar sua sexualidade. Casou-se com um homem bom, que a amava, mas que somente a levava pra cama, nunca para outro lugar, como às nuvens. Antes achava que o encanto por mulheres era somente admiração, mas seu coração acelerava só em ver o desleixo das pernas curvilíneas de Gabriela, pouco cobertas pelo short de lycra, esparramadas sob a poltrona de sua sala ou quando seus seios roçavam no abraço. Achava errado se envolver com uma aluna de vinte e cinco anos. Imagina, Ana tinha pouco mais de quarenta, a maternidade lhe trouxera um corpo que a sociedade julga como pouco atraente, como aquela jovem iria se interessar? Talvez não viesse. Talvez Gabriela estivesse brincando com seus desejos.

Estava impaciente. Caminhava de um lado para o outro revirando seus cachos pesados. Decidiu marcar o encontro em local afastado de sua casa e trabalho, porque sentia que precisava de um lugar onde pudesse ser ela mesma, sem medo do que os outros pensariam e opinariam. Ana, por muito tempo viveu para ser um reflexo do que as pessoas queriam que ela fosse, precisava pagar o resgate.

De repente, batidas na porta lhe cortaram os pensamentos. Era Gabriela, conhecia aquele toque cantarolado. O seu corpo foi invadido por uma onda de adrenalina. Encostou suas costas na porta e tentou se acalmar.

– Ana, você está aí? – Gabriela insistiu. – Poxa, Ana, aqui fora está frio!

Ana abriu a porta. Gabriela, ao vê-la, sorriu.

– Achei que iria me deixar toda molhada lá fora, – entrou. – e eu nem me refiro ao corpo. – a envolveu em um selinho demorado. – É uma delícia não precisar te beijar só no rosto.

Ana sorriu.

– Eu pensei que você não viria, que tinha desistido de mim.

– Jamais! – rebateu. – Você que deve ter desistido de mim umas cinco vezes enquanto eu não chegava, não é?! – riu.

– Talvez mais de cinco. – descontraiu. – Mas eu quero você e quero experimentar tudo com você.

Gabriela buscou seus lábios em um beijo intenso. Faltavam-lhe mãos para desnudar aquele corpo que ansiava há tempos. O desejo deixava seus corpos em chamas. Depois de se despirem de roupas e inseguranças, Gabriela a conduziu para cama, deitando-a delicadamente sob o lençol de seda vermelho. Sentou com as pernas uma de cada lado da cintura de Ana e admirou a pele caramelo que brilhava sob a luz baixa daquele quarto de motel. As estrias da barriga e cintura eram o caminho perfeito ao qual a língua de Gabriela desejava percorrer desde a primeira vez que a viu, tímida e generosa, na sala de aula.

Ana nunca havia se sentido tão única aos olhos de alguém. Ali tinha liberdade de se reinventar. Os lábios quentes e molhados de Gabriela tocando seu pescoço, lhe causava sensações que nunca havia tido antes. Fechou os olhos e seus dedos dos pés se contorciam no lençol ao movimento da língua jovem e experiente dela, serpenteando pelas auréolas e mordiscando o bico de seu seio. Gemia. Ofegava. Suava. Gabriela percorreu, aos beijos, o caminho até sua intimidade e após retirar a calcinha, abriu delicadamente as pernas dela. Ana estremeceu e a viu entre suas pernas, beijando e mordiscando a parte interna das coxas. Queria senti-la lá dentro. Gabriela agarrou sua cintura com força e passou a beijar a virilha, caminhando...Ana não conseguia expirar, a língua de Gabriela parecia enlaçar seu corpo todo. Quente como brasa, a deixava febril. O clitóris pulsava ao ritmo acelerado de seu coração. Ela sugava. Arrepiava toda penugem. Aumentava a velocidade. Queria gritar, mas a voz não chegava à garganta, somente conseguia produzir gemidos que ficavam cada vez mais vigorosos. Apertava a cabeça de Gabriela entre suas pernas. Estava quente lá dentro. Latejava. Sentia a língua. Um dedo. Dois dedos. Estremeceu o corpo, a cama, o quarto. Gabriela não a levou para cama, levou às nuvens. 

Não me leve para camaOnde histórias criam vida. Descubra agora