TAXI

The Taxi.

- 23:45. Friday. 08.23.2020. London - Charlotte Street.

Um leve choviscar paira por Londres em uma noite morna e estaria fria se não fossem os carros a soltar seus poluentes, mas infelizmente o cenário atual exige o mínimo de contato com multidões, ou seja, evitar transportes públicos, oque é mais dinheiro para mim. Eu não me orgulho ou gosto dessa pandemia, mesmo que ela me traga mais corridas. As pessoas morrendo, com medo e grande parte a espera da vacina que ainda não foi desenvolvida não me deixam nada confiante em relação ao futuro do mundo...

Estacionada enquanto vagueio entre meus pensamentos sobre o futuro de todos e o meu, mas não tenho mais que 20 minutos a mais até que ouço a porta para a passarela de pedestres do passageiro de trás ser aberta. Risadas divertidas e pouco grogues são ouvidas por mim e antes que eu pudesse me virar para ver oque diabos estava acontecendo na minha janela uma mulher alta, de pele bronzeada e cabelos loiros reluzentes bate na janela com o indicador dobrado e eu a abro, a alta moça abaixa sua máscara e se pronuncia.

- Boa noite, desculpe a interrupção, mas, pode levar minha amiga até a casa dela? É este o endereço.. Ela está bêbada e nós estamos cuidando dos outros em situações muito piores.. - Seu riso sem humor revela que ela era a sóbria entre eles.

Eu imediatamente saco o celular e ao anotar o endereço no GPS me é gerado o valor.

- Boa noite, claro que sim, não tem problema... São 30 libras. - Recebo a quantia e a guardo no porta luvas que tinha embaixo do volante, sim, era uma adaptação para deixar meu dinheiro seguro.

- Muitíssimo obrigada, pode por favor lembrar a ela de avisar assim que chegarem na rua dela? Ela é bem cabeça oca e sempre se esquece. - Ela sorri e pega na mão da amiga dentro de meu veículo a ameaçando baixinho de que se não notificasse que chegou ligaria para a polícia e bateria na pobre garota bêbada até ela ficar branca. Não resisto. Acabo rindo também enquanto passo álcool em gel nas mãos porque eu havia pego em dinheiro.

Espero que elas se despedirem e que a mulher que ouço ser chamada de Dinah se afastar do veículo para a segurança dela. Então, quando dou partida no veículo por impulso olho pelo retrovisor a mulher que ria sozinha, ela tem pele dourada, cabelos em cachos rebeldes e veste um belo vestido tomara-que-caía com babados aos ombros deixando sua clavícula exposta que certamente estava maquiada com uma camada de iluminador por eu conseguir ver a pele brilhar com a luz da rua, seu sorriso é o mais lindo que já vi, ela parece se sentir observada e fitava os meus olhos de volta. São castanhos, parecem confusos e ao mesmo tempo alegres. Da minha coluna surge uma corrente elétrica que percorre seu caminho até minha nuca. Um arrepio suave percorre-me e o silêncio entre nós não é desconfortável, nada precisava ser dito. Eu não conseguia falar nada, como se estivesse enfeitiçada ou dormindo acordada.

Uma moto passa em alta velocidade na minha janela e eu desperto quase ofegante do devaneio e a mulher parece acordar também, eu rio e desvio o olhar para o volante e ligo o carro dando partida. A minha passageira dá uma risadinha leve e eu sorrio sem mostrar os dentes.

- Boa noite, senhora. - A cumprimento com formalidade, eu era assim com todos os clientes.

- Senhora? Pufft, provavelmente temos a mesma idade! Me chame de Camila..... Michelle, certo? - Franzo o celho e a olho rapidamente pelo retrovisor. Iria perguntar como ela sabe meu nome mas a mesma esclarece por si mesma. - Sua identificação está pendurada ai.. Aliás, são poucas as pessoas que ficam bonitas em fotos 3x4, parabéns..