A Ilha das Fadas - Capítulo 1

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Nerine deslizou pelas águas salgadas do oceano, a correnteza do mar, naquela parte afastada da ilha, era agradável. A lua cheia marcava o céu estrelado da noite. E ela realmente amava aquela luz. De todos os locais que já vivera, de todas as profundezas que já conhecera, aquele oceano, aquele pedacinho do mundo, era o seu favorito. Mas a ilha em questão, como gostavam de chamar, a Ilha das Fadas, era mais do que um simples local para de moradia passageira.

Sereias eram, em sua grande maioria, nômades. Algumas se estabeleciam em costas, golfos, baías ou ilhas, os locais que passavam a amar. Aliavam-se a cardumes. Nerine, de certo modo, temia a ideia de se estabelecer daquele modo. Poderia amar a Ilha das Fadas, poderia amar aquela vista, das montanhas que despontavam do centro, da pequena vila que se formara, e da movimentação dos navios piratas, algo que certamente facilitava o seu trabalho. Aquela promessa sombria e sangrenta que fizera no passado. Mas ainda assim, amava a liberdade, amava ser livre e seu histórico extenso de locais que já conhecera.

Embora já tivesse vivendo há tempo demais ali.

Quando nadou em direção da superfície, a fim de aproveitar a tranquilidade da água naquela noite, para vislumbrar o céu. Sua pele e escamas de cor púrpura e violeta refletiram molhadas, brilhando em pontos dourados graças a lua grande e redonda no céu. Sereias eram filhas da antiga Bruxa do Mar, uma criatura que uma vez fora mulher, nascida voltada para a face anciã da Deusa Tríplice. Portadora de uma magia natural e elementar, poderosa, cuja o principal elemento era água. E amaldiçoada por ter amado um feiticeiro, um homem humano ou fae, não sabia ao certo, que fora sua ruína. Que a transformara em outra coisa, perigosa, feral e feia. E, portanto, a Bruxa do Mar criara as sereias, antes de sumir, para morar nos Confins do Fim. Elas eram metade mulher, metade peixe, selvagens e ferozes, destinadas a viverem sua liberdade e destruir aquilo que ameaçasse tal condição.

E a ruína de uma sereia, era, portanto, amar um homem.

Nerine sabia muito bem daquele fato. Vira aquela perdição ser o fim de uma irmã, a mais querida por ela. E desde então estava sozinha. Liberdade também poderia trazer o sentimento de solidão, quando não tinha ninguém para compartilhar. Quando ergueu os olhos escuros e profundos para cima, encontrou a Constelação de Pisces.

Aquela não era uma constelação obvia, nem fácil de encontrar. Mas sereias tinham suas próprias superstições, e o fato de reconhecer que aquele emaranhado de estrelas, sempre as guiava, era praticamente uma verdade. Nerine viajara sem rumo, por semanas, ou meses, ela realmente não tinha certeza, quando perdera sua irmã. Até encontrar a Constelação de Pisces no céu. A forma parecia com um "V", e as estrelas brilhavam fraco, mas lhe deram uma direção. Até encontrar a Ilha das Fadas, e um local onde pudera viver com suas semelhantes.

E ganhara um propósito, desde então.

Nerine flutuou, ainda estava em sua verdadeira forma, meio peixe, meio humanoide. Em sua apropriada essência, sereias jamais mostravam aquela face. O fato de que seus verdadeiros rostos não eram humanos, seus cabelos, ou o que se assemelhava a tal, eram, na verdade, um emaranhado de tentáculos delicados, muito semelhantes ao de uma água viva. O rosto, fino, com o nariz pouco saliente, tinha apenas dois buraquinhos, que auxiliavam na respiração quando estavam fora da água. Embora nas profundezas, as guelras, ficavam abaixo dos braços, sobre as costelas, e próximas ao pulmão, que garantiam a respiração por baixo da água.

A sereia permaneceu vislumbrando o céu, as estrelas, quando percebeu algo se movimentando na água. Era muito raro sereias aparecerem na superfície durante o dia, quando vestiam sua verdadeira forma. No entanto, quando seus sentidos aguçados, perceberam que a coisa se movia próxima demais, Nerine atacou.

Maré de Caos - A Ordem de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora