Samantha's PovFrio. Fazia muito frio.
Arrisco dizer que parte do meu cérebro congelou e estou agindo no automático para não acabar virando uma pedra de gelo no meio da calçada naquele momento. Inocência minha pensar que já havia sentido frio naquela cidade, está para fazer um ano que moro aqui e o clima ainda conseguia me surpreender.
Apressei meu passo para entrar logo no carro e ligar meu tão cobiçado aquecedor; que sejam iluminadas as vidas de todos os descendentes do cara que decidiu colocá-lo em carros. Após correr a pouca distância entre o alto prédio onde trabalhava e meu carro, destravei as portas com o alarme. Entrei soltando uma lufada de ar e relaxando no acento. Joguei a bolsa no banco do passageiro ao meu lado e liguei o carro rapidamente para que pudesse me esquentar. Tenho algum tempo para chegar até a escola do meu filho para que possamos sair e almoçar algo.
Assim que senti meu queixo parar de tremer, mudei a marcha e saí pelas ruas agitadas de Gramado. Era horário de almoço, sendo bem normal o fluxo maior de pessoas indo e vindo, e como a chuva havia dado uma trégua noite passada, as calçadas do centro estavam com uma quantidade considerável de gente; todos muito bem agasalhados ou como Ravi gosta de dizer, "empanados". Desacelerei quando avistei o prédio da escola. Por causa do tempo mais frio que chegou de repente muitos pais preferiram não levar os filhos para as aulas hoje, logo, a rua que costumava ser cheia de carros, estava praticamente vazia. Consegui uma vaga próximo a porta azul grande da escola e saí para procurar meu filho.
A escola se preparava para a tradicional festa de dia das mães, por isso não foi surpresa para mim ao adentrar o local, ver todas as paredes decoradas com vários corações e fitas vermelhas. O mês estava voando; uma semana passou num piscar de olhos e o segundo domingo do mês se aproximava, trazendo consigo uma ansiedade maluca em Ravi. Ele tratava o dia das mães como meu aniversário, levava muito a sério a comemoração, e quando ele descobriu que a nova escola dava uma importância tão grande como ele, o garoto surtou! Veja, meu filho é bom em muitas coisas, mas guardar segredos não é uma delas... Eu sabia que a turma dele estava preparando algo para as mães e também sabia que Ravi estava morrendo por dentro tentando não me contar. Alguns dias atrás ele chegou a chorar por querer me contar e não poder porque a tia da escola avisou que era surpresa. Eu ri com a mão na consciência e expliquei que tudo bem guardar segredo se for para fazer uma surpresa e deixar alguém feliz.
Não demorou muito para que eu o notasse. Ele estava sentado em um banco, virado de costas para mim, mas a bolsa de rodinhas com um dinossauro enorme e verde estampado na frente o deixou mais fácil de ser encontrado. Tinha a cabeça baixa, como se olhasse algo nas mãos. Cheguei devagar por trás e me abaixei antes de cutucar ele rapidamente.
— Mamãe! — Ele disse quando virou a cabeça em minha direção, mas logo arregalou os olhos e se levantou, escondendo as mãos atrás das costas. — Fecha os olhos, mãe. Não pode ver ainda.
— Tudo bem, amor. — Sorri, tampando os olhos com as mãos. — Posso abrir agora?
— Pode mamãe! Brigado. — Ele abriu os braços e eu o peguei antes de beijar sua bochecha rosada pelo frio.
— Por nada. Mas o que eu não posso ver por um acaso é algum presente para mim? — Perguntei enquanto carregava a bolsa dele para irmos para o carro.
— Eu não seei... — Ravi deu de ombros fazendo um biquinho. — A tia Marcela falou que hoje é sexta. E que eu só preciso dormir mais duas noites para que seja domingo, não é?
— Isso mesmo! Você tem algo importante para fazer no domingo?
Chegamos no carro e abri a porta para que ele entrasse, logo depois fiz o mesmo.
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Quando Encontrei Ela
Lãng mạnCertos traumas possuem a capacidade de desestabilizar por completo a vida de alguém e fugir torna-se uma possibilidade tentadora demais. Samantha não aguentava mais reviver as dolorosas lembranças de seu passado que estavam tão vividas naquele luga...