Não esperava ouvir aquela voz. Não sabia como reagir se um dia voltasse a ouvi-la. E agora que isso aconteceu, senti algo que jamais quis sentir.
O domingo foi meio deprimente, passei quase o dia inteiro fazendo um trabalho da faculdade. Poderia ter deixado para outra semana, mas preferi adiantar. Precisava parar de pensar nele. Naquele sem-noção que virou a minha vida de cabeça pra baixo.
De noite fiquei jogada no sofá, assistindo TV sozinha. A Suelen não estava, aliás, quase não a via, vivia na casa do namorado, e a Raquelli também havia saído, até me convidou para ir junto, mas meu foco naquele momento era o estudo. Senti que ela estava um pouco estranha, mas não quis me dizer nada.
Segunda-feira acordei de mau humor, e me atrasei para a faculdade, o que me deixou mais irritada. Naquele dia queria ficar longe de tudo e de todos, mas assim que percebi a alegria de Camila quando chegou na sala de aula, comecei a ficar impaciente. O que me salvou foi que bem naquele dia os professores deram muito assunto nas aulas. Acredite, preferia mil vezes estudar a ter que escutar alguém de bom humor contando as maravilhas do fim de semana.
Ainda assim, olhava a todo instante para o relógio da sala. Não via a hora de ir para casa. Não queria ver e nem falar com Alisson, aliás, com ninguém. Talvez estivesse com TPM dupla e adiantada, sei lá.
Finalmente, quando o sinal tocou, saí que nem um furacão. Tive a impressão de que Alisson estava me chamando quando passei pela porta da sala dele, só que não estava com cabeça pra nada. Cheguei em casa, joguei as coisas em cima da cama e caí num choro profundo. Depois dormi o resto do dia. Acordei de noite, faminta. Não tinha ninguém em casa. Raquelli e Suelen só chegariam perto das onze da noite.
Me arrumei e desci pra comer em alguma lanchonete. A padaria ainda estava aberta, porém não estava com vontade de ir lá. Fui andando, passei por uma, duas, três lanchonetes que não me atraíram. Virei uma esquina e logo vi algo que me interessou. Na placa dizia “Casa dançante”. Havia um cartaz dizendo que hoje teria um jantar especial. Perfeito! Era o que precisava. Não me importei de pagar a entrada e entrei. Passei por um corredor quase escuro e logo avistei algumas luzes. Era uma pista de dança com luzes coloridas que pareciam dançar entre si. Gostei disso. Fiquei com uma vontade enorme de dançar, mas estava sem coragem. Sentei num canto e olhei o cardápio. Tudo parecia apetitoso. Enquanto esperava o meu pedido, tomei uma batida de coco que estava uma delícia. Havia tomado uma vez na casa de uma amiga no tempo de escola. Depois disso, só hoje mesmo.
O tempo passou e pedi outra batida. O lugar estava mais cheio. Fiquei só observando as pessoas dançando, conversando e até se beijando. As lembranças começaram a invadir o meu sossego. Levantei brava e pedi uma batida mais forte. Tomei num gole só e fui dançar. A música estava agitada, olhava pra cima e seguia o ritmo das luzes dançantes. Sentia-me bem naquela hora, dançava sem parar, uma música atrás da outra. Balançava os braços pra cima, girava, sorria. Amei aquele lugar. Não sei quanto tempo passou, um cara alto me ofereceu uma bebida. Estava com muita sede e tomei, sorrindo em seguida. Ele juntou-se a mim e começamos a dançar. Às vezes queria me abraçar e eu ficava só provocando e afastava-o de mim.
— Vou buscar outra bebida pra você, gata. — Ele estalou um beijo na minha bochecha e saiu. Continuei a dançar sozinha, sem nem me importar com ele.
— Amanda! — Escutei uma voz conhecida. — Amanda! — Olhei em volta e me assustei.
— O que você faz aqui? — perguntei de imediato assim que vi Alisson.
— Eu trabalho aqui... Mas isso não interessa. Só quero te alertar. É melhor você se afastar do cara com quem está dançando. Ele não é uma pessoa confiável.