Capítulo 13: Vinte anos atrás

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Já se passaram vinte anos. O caso foi abandonado e dado como morte natural. O Senhor Nelson havia se aposentado após apresentar hifemas e cegueira recorrente do distúrbio. O livro foi arquivado com as folhas embaralhadas ou faltantes, assim como foram achadas.
O Senhor Nelson estava novamente sentado naquele restaurante, comendo panquecas americanas e bebendo uma xícara de leite morno. O inverno estava sendo rigoroso naquele ano, com as ruas cheias de neve e o céu completamente branco e tomado de névoa.
- Raios. Vanessa! Traga mais uma xícara!
A garçonete veio rapidamente com outra xícara. Acontecia às vezes de o Senhor Nelson derrubar a xícara por não conseguir enxerga-la.
- Desculpe por isso, Vanessa, eu tento, mas não consigo enxergar nada que seja menor e mais claro que uma maçã.
- Não se preocupe, Senhor Nelson. O importante é que a xícara estava vazia e o senhor não se queimou, mas... Não prefere que eu lhe traga um copo ou uma caneca de plástico?
- Não me darei por vencido, vou continuar com as xícaras e pagarei por cada uma que eu quebrar!
A cena havia se repetido diversas vezes. Nos últimos vinte anos, o Senhor Nelson teve que se adaptar à sua cegueira, que lhe fazia enxergar apenas tons fortes e que não estivessem a mais de um metro e meio de distância. Porém teve o apoio de Janete e seu marido, que era seu colega na polícia.
O Senhor Nelson se mudou de seu apartamento no centro para uma casa ao lado da do casal, que lhe dava assistência quando necessário, apesar de que, no começo, o Senhor Nelson foi completamente contrário a essa ajuda. Vanessa havia retirado os cacos de louça do chão e posto uma xícara nova sobre um lenço vermelho sobre a mesa.
- Obrigado Vanessa, aqui está. Pela xícara e um extra por me aguentar aqui todos os dias.
- Não se preocupe com isso, Senhor Nelson, o Senhor é sempre bem-vindo.
Nesse momento, a porta abriu e o sinete tocou, um homem passou pela porta e caminhou até o Senhor Nelson.
- Bom dia, Senhor Nelson.
O homem tinha um tom de voz que causou um leve arrepio na espinha do Senhor Nelson, que se virou para ele, espremendo os olhos para tentar focar o rosto, porém a luz clara que entrava pela janela tornava impossível para o Senhor Nelson focar em algo além dos olhos e lábios do homem de pele clara, rosto cilíndrico e cabelos loiros ou castanho claros.
- Tem algo a tratar comigo?
- Sim, tenho sim... - O homem então tirou um revólver de dentro do paletó e o apontou para a testa do Senhor Nelson enquanto sorria - O Senhor não devolveu o meu livro, faça o favor de resolver esse erro.
O homem puxou o gatilho e o som da ativação da bala atingiu os ouvidos do Senhor Nelson como uma locomotiva. Em seguida tudo ficou preto.

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