Depois de uma longa e dolorosa noite deitada em um banco de praça, eu decidi que teria que arranjar um lugar decente para me alojar. Me levantei e passei a minha mão pelo meu cabelo seco e disse comigo mesma:
-Esperava o que, Amélia? -Ah! Você ainda não sabia meu nome não é? Bom, agora já sabe.
Forçando um sorriso, (pois ouvi falar que se você sorrir pela manhã isso pode melhorar significamente o seu dia), remexi o meu cabelo na tentativa de deixá-lo menos arrepiado e me abaixei para pegar o casaco que usei para me aquecer à noite. Com um suspiro, começo a andar pelo dia nublado e surpreendimente, abafado.
Ouço um ronco vindo da minha pobre barriguinha esfomeada e pego um dinheiro guardado no meu bolso e conto-o, -o que demorou mais do que eu esperava, já que eu sempre estudei nas melhores escolas e agora sou uma decepção porque quero fazer teatro, uma faculdade pouco valorizada...nossa! Agora pareço até minha mãe falando.
Caminho em direção à padaria mais próxima e peço três reais de pão carioca com um suco. Enquanto espero, me sento em uma das mesas ignorando as caras surpresas das pessoas por causa da minha não tão auspiciosa aparência. Nesse meio tempo, já correram tantos pensamentos pela minha cabeça que quando a garçonete aparece com um café da manhã que para mim é esplêndido, eu levo um susto.
-Obrigada... -e boto a comida guela abaixo.***
Passei a manhã pensando no que iria fazer dali pra frente mas não decidi nada. Me sento ao lado de uma velha senhora com a imensa impressão de que vou desabar ali mesmo; e, infelizmente, ela se afasta quase imediatamente, indo para outro banco. Suspiro e observo as pessoas seguindo suas vidas normalmente e reflito se não seria melhor eu simplesmente voltar para casa e fazer essa bendita faculdade.
Sem ao menos perceber, meu rosto se transforma em um rio de lágrimas. Após um tempo tentando disfarçar, um homem, que no momento não consegui identificar por conta da minha visão embaçada, se aproxima de mim e oferece um lencinho:
-Aqui. -E eu agradeço enxugando rapidamente algumas lágrimas.
Ele pergunta do que eu preciso, e instintivamente, eu o olho, e só agora percebendo que deveria ser um bonito rapaz. Então digo:
-Eu...preciso de um lugar para...passar alguns dias... -na verdade, eu precisava de muuitas coisas naquele momento, mas resolvi dividir prioridades.
-Entendi. Bom, eu conheço uma pensão aqui perto, e, pelo que ouvi falar dela, é muito hospitaleira...e não se preocupe, eu pago uns dias pra você.
Eu o olho incrédula.
-Me desculpe, mas não vou aceitar isso. Eu tenho um pouco de dinheiro, não sei se vou conseguir arrumar um lugar com ele mas...
-Me desculpe, mas eu não aceito um não como resposta. -Diz ele com um certo tom de brincadeira- E se faltar alguma refeição para você, eu posso pagá-la.
Eu me levanto imediatamente e o abraço com uma felicidade instantânea, ele devolve o abraço.
-Vamos, eu te apresento o lugar.
-Eu vou ficar te devendo uma!
-Bom, se você quiser...mas olha que eu cobro hein?
Eu sorrio ainda sem acreditar que uma pessoa totalmente desconhecida pode nos dar grandes oportunidades.
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Sonho
RandomExpulsa de casa por decepção...desistir ou persistir? Será que Amélia vai aguentar? ▪História curta▪ ▪Concluída▪